Título: Desempenho da indústria melhora, mas otimismo dos empresários cai
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Brasil, p. A2

Os empresários da indústria estão menos otimistas com relação aos próximos seis meses. Essa é uma das principais conclusões da pesquisa trimestral Sondagem Industrial, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O que surpreende o economista Renato da Fonseca, que divulgou os dados, é que essa redução do otimismo ocorreu justamente no terceiro trimestre, período que teve melhor desempenho industrial, se comparado ao decepcionante segundo trimestre. Para os meses de julho, agosto e setembro, produção e faturamento voltaram a se expandir, depois de seis trimestres de recuo ou estabilidade.

A sondagem do terceiro trimestre também mostra que o otimismo menor afeta todo o setor, independentemente do tamanho da empresa. A retomada do crescimento industrial ainda não está beneficiando pequenas e médias indústrias, e a CNI revela que os estoques continuaram elevados no terceiro trimestre.

Apesar da queda dos juros, Fonseca alerta que o câmbio vem fazendo estragos no otimismo dos empresários. A eleição, mesmo com as pesquisas indicando a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também traz "alguma insegurança" para os industriais, diz ele. O economista da CNI espera que o crescimento industrial também chegue às pequenas e médias empresas no quarto trimestre.

De acordo com a pesquisa da CNI, os maiores problemas relatados pelos dirigentes de grandes indústrias são a pesada carga tributária e o câmbio valorizado. No universo das pequenas e médias indústrias, os maiores obstáculos são a carga tributária e o que chamam de "competição acirrada de mercado".

Grandes e pequenas indústrias esperam redução nas exportações nos próximos seis meses. Essa revelação da pesquisa da CNI reforça o alerta que vem sendo dado há bastante tempo. Para Fonseca, o câmbio desequilibrado vem prejudicando alguns setores desde 2003. "Mantendo esse patamar, o câmbio vai empurrar as empresas para o mercado doméstico, revertendo a mudança de cultura da estratégia exportadora. "

Fonseca diz que mais de 60% das vendas industriais são das grandes empresas, mas que 64% dos empregos são gerados por pequenos e médios empreendimentos. Mas em qualquer segmento, o câmbio é preocupante, avalia a CNI. Para o grande exportador, a moeda brasileira mais valorizada significa lucro menor e menos competitividade. Para as pequenas indústrias, o câmbio pode ser decisivo na compra de insumos.

A sondagem da CNI ouviu 215 representantes de grandes empresas e 1.366 executivos de pequenas e médias indústrias. A coleta das informações foi feita entre 3 e 20 de outubro. Na análise por segmento de atividade, o quesito "evolução da produção" revela maior otimismo, em ordem decrescente, nas empresas fabricantes de álcool, limpeza/perfumaria, farmacêuticos e químicos. Os menos otimistas são: equipamentos hospitalares e de precisão, couros, madeira e vestuário. Segundo Fonseca, há nesse resultado um claro impacto do câmbio.

Quando os empresários respondem se há ajuste entre o planejado e o realizado em seus estoques, a pesquisa mostra que as indústrias de material eletrônico e de comunicação, vestuário e têxteis são as que mais acumularam estoques indesejados no terceiro trimestre. Em situação oposta estão os segmentos de material de transporte, alimentos, álcool e bebidas.

Na expectativa de faturamento melhor nos próximos seis meses, os empresários dos setores de bebidas, farmacêuticos, petróleo e limpeza/perfumaria mostraram-se mais otimistas. Para produtos de metal e madeira, o sentimento é oposto.

Na expectativa de evolução das exportações nos próximos seis meses, a pesquisa da CNI mostra otimismo em sete setores, com destaque para limpeza/perfumaria e farmacêuticos. A queda nas vendas externas é esperada por 14 setores, principalmente edição/impressão e têxteis.