Título: Interligação com o Norte vai reduzir subsídio em 90%
Autor: Capela, Maurício e Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Brasil, p. A5

A interligação da região Norte ao Sistema Integrado Nacional (SIN) de energia elétrica, composto por subestações e 83 mil quilômetros de linhas de transmissão, deverá diminuir sensivelmente, em algo como 90%, a Conta de Consumo de Combustíveis Fósseis (CCC) a partir do início da próxima década. Estimada em R$ 4,5 bilhões para 2006, a CCC cairia para algo como R$ 500 milhões a valores presentes.

"A interligação Acre-Rondônia, que vai à leilão em novembro próximo, já traria uma redução de R$ 1,5 bilhão por ano. E a conexão entre Tucuruí-Manaus tiraria outros R$ 2,5 bilhões anualmente", afirma Marcio Zimermann, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério das Minas e Energia (MME).

A CCC é um subsídio embutido na conta de energia que todo consumidor ligado ao SIN paga mensalmente. Em outra palavras, a taxa está presente na maior parte das contas dos habitantes das regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste.

A informação do secretário da MME foi dada durante o seminário "Energia como Fator de Competitividade Econômica", realizado pelo Valor ontem, em São Paulo (SP). Durante o encontro, que reuniu empresários, executivos e autoridades do setor, Zimermann tratou de afastar o risco de falta de energia e preferiu não comentar as negociações que o governo do Brasil mantém com a Bolívia. "Este assunto está sendo conduzido pelo próprio ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau", afirma.

Um possível apagão também foi tema em algumas apresentações, como a do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. Companhia do Ministério das Minas e Energia, a EPE é responsável pela elaboração de um plano decenal para o setor, cujo objetivo principal é evitar uma nova falta de energia como a ocorrida em 2001.

Segundo Tolmasquim, o risco de um novo apagão é inferior a 5%. "Ninguém esconde que o fornecimento de gás natural poderá sofrer algum problema depois de 2009. Mas se essa hipótese vier a ser confirmada, o que poderia atingir as térmicas, talvez o risco de falta de energia suba. Isso, inclusive, está sendo alvo de análise na revisão que está sendo feita agora no plano decenal", afirma Tolmasquim.

As discussões a respeito de uma falta de energia, associada ao momento eleitoral, chegou inclusive a dominar parte do seminário. E o presidente da EPE, em determinado momento, chegou a ser vaiado por uma parcela dos presentes.

A vaia, naturalmente, inflou os ânimos. Tanto que o deputado federal José Carlos Aleluia (PFL-BA) teceu críticas à atuação do Ministério do Meio Ambiente. Na avaliação do parlamentar, a ministra Marina Silva entregou às Organizações Não-Governamentais a condução da política nacional.

O deputado defendeu, portanto, que os empresários de energia derrubem a idéia de que o setor está mal e que isso é conseqüência da privatização. E afirmou que a saída para garantir o fornecimento de energia a preços justo é a expansão das hidrelétricas, com a participação do setor privado. "Não dá para o governo ser o carro chefe dos investimentos", avalia Aleluia.

Segundo o plano decenal da EPE, o Brasil precisará de R$ 115 bilhões de investimentos, sendo R$ 75 bilhões em geração e R$ 40 bilhões em linhas de transmissão. E a julgar pelos grandes projetos que vão assegurar a entrada dos megawatts (MW) necessários, o valor é fato.

Marcio Zimermann reiterou, por exemplo, que a construção da hidrelétrica do Madeira deverá consumir US$ 7,38 bilhões para gerar algo como 6,4 mil MW. Já o complexo de Belo Monte necessitaria US$ 5,5 bilhões para gerar 11,2 mil MW.

Além desses dois empreendimentos, há também a usina nuclear de Angra 3, que já tem US$ 800 milhões gastos em equipamentos. Para colocar o empreendimento de pé, é preciso gastar mais US$ 1,8 bilhão.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Eduardo Spalding, disse que a tecnologia de Angra 3 é ultrapassada, mas não é contra usinas nucleares. "Se o país decidir fazer novas usinas dessa matéria-prima, que sejam feitas mais para frente, quando já houver um barateamento, tiverem sido criadas condições mais seguras, inclusive em relação aos dejetos radioativos", disse Spalding.