Título: Gerdau estuda investir em geração própria
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Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Brasil, p. A5

A siderúrgica brasileira Gerdau está disposta a gerar sua própria energia. Com planos de construir usinas hidrelétricas, cuja potência oscile entre 100 e 200 megawatts (MW), a companhia estaria disposta a aplicar entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões, sendo que o valor seria determinado pelo tamanho do empreendimento.

"Hoje, consumimos entre 350 e 400 MW médios. A nossa planificação é gerarmos, em dez anos, pelo menos 30% disso, o que seria, no mínimo, 140 MW médios", diz Érico Sommer, diretor de Engenharia, Meio Ambiente e Energia do grupo Gerdau.

O objetivo da siderúrgica brasileira, que tem um faturamento líquido de R$ 21,4 bilhões no ano passado, é estancar o crescimento do custo de energia nos seus negócios. O executivo não revela a participação da energia nos custos totais da empresa, mas deixa escapar que este componente é importante, apesar de não ser determinante nos gastos totais do grupo.

A Gerdau ainda não tem todos os detalhes da empreitada, segundo Sommer, mas admite que a empresa tem interesse em construir usinas novas e mira as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Atualmente, a companhia já possui uma usina hidrelétrica, localizada no Estado do Rio Grande do Sul, em parceria com a Copel do Paraná e a Celesc, de Santa Catarina.

O executivo também tratou de criticar o que chamou de falta de clareza na política ambiental do governo. Para ele, a legislação ambiental está dominada pelas organizações não-governamentais (ONGs).

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Langone, pensa um pouco diferente. Na sua avaliação, há falta de projetos para serem analisados. "Hoje, o Ibama tem somente dois empreendimentos em análise, que são o complexo do Madeira e a hidrelétrica de Tijuco Alto", afirma o secretário.

Outro ponto, contudo, reclamado pelo diretor da Gerdau foi sobre o preço da energia. Para Sommer, o preço do insumo tem subido muito para o consumidor industrial por causa dos encargos. "Isso é uma política antiinvestimento e os aumentos de preço são injustificáveis", disse.

Segundo ele, além dos encargos pesarem na tarifa, existem outros problemas no setor. Um deles diz respeito aos leilões de fontes caras, poluentes e incertas, e outro toca na questão da impossibilidade de maior utilização do potencial hidrelétrico.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Eduardo Spalding, o preço de energia torna os produtos brasileiros menos competitivos. "A energia pesa entre 30%, 40% do preço do produto, e com o tempo, projetando-se aumentos ainda maiores, não vai haver espaço para continuidade de alguns segmentos."

O empresário ainda afirmou que a forma de baratear a energia é investir na utilização do potencial hidrelétrico, nas fontes de energia térmica menos poluentes e mais baratas. Ele também defende o uso de termonucleares, mas somente no futuro.

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas revelou que se o preço médio da energia elétrica subir os 20,3% estimados pelo governo federal até 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) acumulará perda equivalente a R$ 214 bilhões, a preços de 2005.(MC e SM)