Título: Dona Lu pede votos para Jackson Lago
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Política, p. A7

A mulher do candidato a presidente pelo PSDB, Maria Lúcia Alckmin, recebeu ontem no Maranhão apoio de militantes do PDT durante uma caminhada pelo centro de São Luís. O candidato Jackson Lago (PDT), que disputa o governo do Estado com Roseana Sarney (PFL), não participou da caminhada, mas pelo menos metade dos militantes usava camisetas de sua campanha com adesivos ou bandeiras do candidato Geraldo Alckmin. Numa palestra num hotel de São Luís, Lu Alckmin pediu votos para o candidato do PDT, completando a inversão das coligações depois do apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à candidata Roseana Sarney (PFL). O candidato do PDT-PSB no Maranhão continua oficialmente apoiando a reeleição do presidente.

De cabelos presos num rabo de cavalo, calça jeans e camiseta amarela, a mulher do candidato iniciou a caminhada pela igreja Nossa Senhora da Vitória. Depois seguiu pela rua Rio Grande, de comércio popular. Num Estado em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve mais de 75% de votação no primeiro turno, pedir votos na rua para "o Geraldo" não foi tarefa fácil.

Conduzida pela presidente do PSDB Mulher no Maranhão, Gardênia Ribeiro Gonçalves, e pelo candidato derrotado a senador pelo PSDB, João Castelo, Lu Alckmin cumprimentou e abraçou eleitoras nas lojas. Várias vezes ouviu declarações de voto no adversário do marido. "Aqui em São Luís é Lula e Jackson, não tem jeito", gritava uma eleitora próxima a uma loja onde estava Lu. Chamada por Gardênia, Lu cumprimentou e abraçou a eleitora, pedindo voto para o marido e entregando um santinho. Gardênia elogiou a educação de Lu Alckmin para a eleitora, que surpresa, respondeu com "vamos ver" ao pedido de voto. A mulher do candidato também teve santinhos recusados pela vendedora de uma loja, que disse "Geraldo não dá não, vou votar no Lula", mas continuou sorrindo e passou ao próximo. Uma outra eleitora apertou sua mão e pegou o santinho, mas disse em voz baixa depois que ela se afastou: "Geraldo não, vou votar pro Lula". A mulher do candidato do PSDB, entretanto, recebeu algumas manifestações de apoio de eleitores que se disseram decepcionados com o presidente. No fim da caminhada, Lu Alckmin fez um discurso rápido no qual disse que num eventual governo de seu marido começaria projetos sociais pelo Maranhão, "um Estado tão lindo e com tanta miséria" e que o candidato do PSDB "não vai acabar com o Bolsa Família, vai aumentar" o programa.

Ao chegar ao local da caminhada, Lu Alckmin disse que preferia não comentar o comício de terça-feira em Timon, interior do Estado, no qual Lula declarou o voto em Roseana Sarney. Mas as declarações de Lula a favor da família Sarney são o "bode na sala" do PDT, PSB e PT do Maranhão.

A campanha roseanista está colocando praticamente na íntegra o discurso do presidente no horário eleitoral, no qual o presidente diz que está apoiando Roseana porque a candidata e seu pai, o senador reeleito pelo Amapá, José Sarney, foram leais e defenderam seu governo em momentos de crise. Os jornais controlados pela família estamparam a frase de Lula no comício. "Quem vai votar em mim, por favor vote na Roseana para o governo do Estado". Na propaganda eleitoral de Jackson Lago, um eleitor assiste à TV e diz para a câmera que "nunca imaginou" uma aliança entre os dois. Assessores de Jackson Lago dizem que Roseana está "pendurada nas barbas do Lula" para tentar ganhar a eleição.

Como no primeiro turno, as duas campanhas apresentam pesquisas com resultados divergentes. O Ibope aponta vitória de Roseana com 53% a 48% e o instituto local Constat dá 16 pontos de vantagem a Jackson Lago, com 58% a 42%.

Embora Lu Alckmin tenha preferido não comentar o assunto diretamente, todos os políticos presentes à caminhada e a uma palestra dada pela ex-primeira dama no final da manhã no hotel Abbeville, em São Luís, referiram-se ao comício. João Câmara, maranhense que participa da equipe da campanha de Alckmin em São Paulo, disse que Lula "esqueceu seu passado de pobre e está apoiando a última oligarquia atrasada do Nordeste", referindo-se à família Sarney. O candidato derrotado a senador pelo Maranhão, João Castelo, disse que o comício foi uma "vergonha para brasileiros e maranhenses" e que Lula está mudando sua história porque é "refém da família Sarney". No evento no hotel, Lu Alckmin falou apenas de projetos sociais e recebeu apoio de representantes do governador José Reinaldo Tavares, e da primeira-dama de São Luís, Tati Palácio, mulher do prefeito Tadeu Palácio (PDT).