Título: Dias culpa programa na televisão por possível derrota
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Política, p. A7

Integrante do conselho político da campanha do tucano Geraldo Alckmin à Presidência da República, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder da minoria no Senado, criticou ontem de forma incisiva o programa de televisão do horário eleitoral gratuito do candidato. Dias responsabilizou a estratégia de marketing da campanha por uma derrota de Alckmin no domingo.

Para o senador, o programa gratuito é uma "mesmice", não transmite emoção nem reflete o sentimento de indignação que, segundo ele, existiria na população. Segundo Dias, o núcleo político da campanha levou sugestões ao jornalista Luiz González, responsável pela estratégia de marketing, mas elas não foram seguidas. "Marqueteiro não ouve político", disse Dias.

"O programa não tem criatividade, não inova, não passa indignação ou emoção. O programa não soube ler bem o cenário nacional. Há uma enorme indignação na população e o programa não retrata isso. Por isso, não empolgou", afirmou Dias. Ele exime Alckmin de responsabilidade nessa área, dizendo que o candidato "confia" nas pessoas que estão produzindo o programa.

O coordenador-geral da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), consultado sobre as críticas de Dias, mostrou compreensão com a posição do companheiro de partido. "Álvaro tem insistido em mudanças na orientação do programa. Ele defende que as denúncias contra o governo ganhem mais ênfase. É natural que defenda o ponto de vista dele", disse Guerra.

O comando político da campanha pretende se reunir amanhã com Alckmin para discutir o tom a ser adotado à noite, no debate da TV Globo entre os presidenciáveis - última cartada dos tucanos para tentar reverter o favoritismo de Lula. Na opinião dos políticos, Alckmin deve manter o tom contundente nas denúncias de irregularidades envolvendo pessoas ligadas ao governo e ao PT e na cobrança por resultados da investigação do caso do dossiê antitucano, comprado por petistas.

"A prioridade deve ser a questão ética, porque, quando surge o tema, fica claro que Lula não tem resposta. Ele fica perdido", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati. A avaliação dos tucanos é que, embora o tema corrupção aparentemente não sensibilize o eleitor, segundo as pesquisas, o assunto tem o efeito de desestabilizar Lula. "O candidato deve ser afirmativo, incisivo e atacar pontos fracos de Lula, entre eles a questão ética", disse Guerra. Para Álvaro Dias, Alckmin "não tem alternativa além de ser afirmativo, priorizando a questão ética".

Com as críticas ao programa eleitoral, Dias expressa abertamente opiniões manifestadas reservadamente, em sua maioria, pelo núcleo político da campanha desde o início do período eleitoral. No primeiro turno, os políticos criticavam principalmente a falta de ataques ao governo. Depois de muita pressão sobre a equipe, foram introduzidas, aos poucos, referências aos escândalos que atingiram pessoas ligadas ao PT e ao Palácio do Planalto. Outros pontos criticados são a insistência do programa em apresentar Alckmin ao candidato e a repetição de frases e propostas.

Para o senador paranaense, Alckmin é um "grande candidato" e tem todos os requisitos para ser um bom presidente. Mas o programa eleitoral, no qual foram depositadas todas as expectativas de crescimento do candidato, não conquistou o eleitorado: "O partido tem um grande candidato que, se vencer, será um grande presidente. Mas não teve um programa de TV à altura de sua grandeza".

Ele negou que estivesse admitindo a derrota de Alckmin, a quatro dias da eleição. "Vamos ter um confronto no domingo entre videntes, que previram a vitória de Alckmin, e os institutos de pesquisa de opinião, que mostram Lula liderando a disputa. Só peru morre na véspera", afirmou.