Título: Ataques a Lula dominam o último comício dos tucanos
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Política, p. A7

Em seu último comício, o candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) fez uma síntese das duas formas como a sua campanha se desenvolveu: o tom programático do início da disputa e os ataques no campo ético ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais enfáticos na reta final. Para um público de cerca de 1.500 pessoas, segundo a PM, e 5.000 pessoas de acordo com a organização, o tucano acusou o governo federal de ser um "Código Penal ambulante".

"Brasileiro não gosta de mentira. A política é a verdade, é poder olhar nos olhos das pessoas. Quero ser instrumento para varrer a corrupção. Essa praga da roubalheira. O governo Lula virou um Código Penal ambulante. Vamos despetizar o governo para ele servir ao povo, não a um partido político", afirmou.

Alckmin também citou os candidatos derrotados Cristovam Buarque (PDT) e Heloisa Helena (P-SOL). "Meu compromisso também é com o PDT do Cristovam e com aquela que deve ser prioridade número 1: educação, educação e educação. É também com a coragem moral da senadora Heloísa Helena". Apesar da citação, ambos os candidatos não manifestaram em público suas preferências no segundo turno.

O palanque montado no Vale do Anhangabaú, no centro de São paulo, foi tomado pelos altos escalões de PSDB e PFL. Estiveram presentes o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador paulista eleito José Serra, e o atual, Cláudio Lembo (PFL), os presidentes do PSDB, senador Tasso Jereissati, do PPS, deputado Roberto Freire, além do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), e o coordenador da campanha, senador Sergio Guerra (PSDB-PE), além de prefeitos e deputados.

A tônica dos discursos foi a mesma: a necessidade de o PT ser varrido, em razão das denúncias de corrupção. "Temos que escolher entre um Brasil decente e honrado ou um corrupto, da mentira, enganação e do roubo", disse Tasso. Já Roberto Freire disse que a escolha de domingo se dá entre Alckmin e "mafiosos chefiados pelo chefe da quadrilha". A exceção desse perfil foi Serra, que evitou ataques pessoais e preferiu dizer estar irritado com o "padrão de mentira" da campanha petista ao atacar as privatizações, elogiando o que, segundo ele, foi um sucesso nas áreas de telefonia e siderurgia. Também criticou a política externa do governo Lula, em que, para ele, o país foi colocado de joelhos.

O presidente Fernando Henrique fez duros ataques e defendeu seu governo. "Ele (Lula) disse no debate que colocamos a sujeira debaixo do tapete. Tenha coragem de dizer de onde veio o dinheiro do dossiê e eu voltarei a respeitá-lo, presidente. Para mim, o senhor acabou e foi enterrado nos escombros dos escândalos do seu governo".

Já o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), defendeu que o partido aproveite o período pós-eleitoral para resolver suas diferenças internas e indicou que está aberto a negociar uma composição com o presidente Lula, caso se confirme a reeleição. "O PMDB não pode continuar fracionado, não pode mais continuar dividido. A partir de segunda-feira começa a ser uma questão partidária", disse Temer a jornalistas, ao chegar para o comício de encerramento da campanha. "Uma coisa é o momento político-eleitoral, que é esse que estamos vivendo agora. Outra é o momento político-administrativo, em que entra em pauta o interesse público´, disse.