Título: Efeito de estímulo sobre real é limitado
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Finanças, p. C14

Ark, da TCB: em cenário de desaceleração é melhor ter mercado americano forte do que se preocupar com valorização do real

As preocupações do Brasil com a nova rodada de expansão monetária lançada pelo Federal Reserve Bank (Fed), o banco central americano, são justificadas. Mas no atual cenário de desaceleração econômica é melhor para o Brasil ter um mercado americano mais forte do que se preocupar com uma possível valorização do real, de efeitos limitados, em decorrência das medidas anunciadas pelo Fed. A avaliação é do economista-chefe da The Conference Board (TCB), Bart van Ark. A TCB é uma entidade independente de pesquisa criada 1916 com sede em Nova York, mas com atuação global.

Ark diz que a posição crítica do Brasil é compreensível uma vez que as medidas promovidas pelo Fed podem valorizar o real. "Mas devemos ser cuidadosos em um ambiente de baixo crescimento global porque, nesse cenário, as medidas de afrouxamento quantitativo podem ter efeitos positivos sobre a economia americana", diz Ark. A TCB projeta crescimento de 2,2% para os Estados Unidos este ano, desempenho que poderá se repetir em 2013.

Ontem, o mercado tomou conhecimento de que os membros do comitê de política monetária do Fed poderão alterar o tamanho das compras mensais de ativos para reduzir os riscos associados ao programa de estímulo à economia. A informação foi confirmada com a divulgação da ata da reunião de setembro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

Após a reunião, o presidente do Fed, Ben Bernanke, anunciou a compra de US$ 40 bilhões por mês de títulos hipotecários em uma terceira rodada de afrouxamento monetário (QE3, na sigla em inglês). A medida busca estimular o crescimento econômico e reduzir a taxa de desemprego nos Estados Unidos, tema que foi discutido entre o presidente Barack Obama e o republicano Mitt Romney no primeiro debate da campanha presidencial americana, na quarta-feira. Ark reconheceu que a economia fraca e o alto desemprego não ajudam Obama na tentativa de reeleição.

A ata do Fed contém uma discussão detalhada dos custos e benefícios do programa de compra de títulos, com participantes do Fomc expressando "ceticismo" em relação à eficácia dessa política. Em setembro, o Fed disse que tem planos de manter a política monetária frouxa mesmo depois que a recuperação econômica começar a acelerar. As autoridades do Fed indicaram ainda que o ritmo de crescimento da economia americana deve se manter moderado nos próximos trimestres, com uma recuperação no período 2013-2015.

Para Ark, da TCB, crises estruturais como a iniciada em 2008 exigem até dez anos para se atingir uma plena recuperação. "Estamos no meio do caminho", afirma. Na visão dele, o nível de crescimento, quando o mundo se recuperar, será um pouco menor se comparado ao período pré-crise, mas o mais importante é que seja um crescimento sustentável, argumenta.

Ark concorda que a economia mundial está diante de um cenário de ajuste com perspectiva de taxas de crescimento baixas ou moderadas. "Apesar do baixo crescimento, estou otimista porque estamos em posição melhor de fazer as coisas do que [estávamos] há dois anos." Ark esteve esta semana no Brasil para reuniões de trabalho em São Paulo e no Rio, onde reuniu-se com representantes do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). (com Bloomberg)