Título: Campos tenta consolidar poder em PE
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Política, p. A13

A eleição de domingo poderá representar a consolidação da hegemonia política do governador Eduardo Campos (PSB) no Estado, caso o seu candidato à prefeitura da capital, Geraldo Julio (PSB), saia vencedor. Pesquisas internas da cúpula do governo estadual apontam o candidato do PSB com 55% dos votos válidos, o que, se confirmado nas urnas, garantiria a vitória em primeiro turno e a primeira eleição de um candidato apoiado pelo governador em muitos anos.

A disparada histórica de Geraldo, desconhecido da população até há pouco tempo, foi amparada pela força política de Campos, que comanda um agrupamento de 14 partidos, a chamada Frente Popular. O grupo caminhava naturalmente para apoiar o PT, que está à frente da Prefeitura do Recife desde janeiro de 2001. No entanto, problemas internos do partido e a impopularidade do atual prefeito acabaram minando a aliança. Campos aproveitou a brecha para lançar candidato próprio.

A iminente derrota do PT nas urnas, anunciada pelas pesquisas de intenção de voto, será uma das mais vexatórias da história do partido. Uma sequência de conflitos internos foi se acumulando desde a eleição de 2008, quando o atual prefeito foi indicado pelo antecessor, João Paulo Lima e Silva, a contragosto das lideranças do partido, caso do senador e atual candidato, Humberto Costa.

Muito popular na cidade, o ex-prefeito bateu o pé na indicação do sucessor, que foi apoiado por Campos e por toda a Frente Popular. Acabou eleito em primeiro turno. Porém, nos primeiros meses da gestão, no início de 2009, o prefeito se desentendeu com o antecessor por conta de uma mudança nos contratos de limpeza urbana da cidade. A briga foi feia e os dois nunca mais se falaram.

Sem a sombra do padrinho, o prefeito trocou os pés pelas mãos um sem número de vezes e caiu em desgraça com a maioria dos líderes políticos que o apoiaram na eleição, entre eles Campos, os partidos da Frente Popular e o próprio PT. Já há dois anos o partido considerava a possibilidade de barrar a reeleição do prefeito, o que acabou mesmo acontecendo, porém de forma desastrada.

Com o apoio de Campos, o PT lançou o deputado federal Maurício Rands para prévias contra o prefeito. A eleição interna foi muito tumultuada, mas acabou vencida por João da Costa. A direção nacional do PT, então, interveio. Determinou a suspensão da prévia e anunciou a candidatura de Humberto Costa.

Era tarde. O PT entrou desgastado na campanha a acabou atropelado pela força de Campos, que fez do seu candidato líder das pesquisas em poucas semanas. A vitória no primeiro turno se encaminhava tranquilamente nas últimas semanas, até que surgiu o tucano Daniel Coelho. Jovem de 34 anos, foi uma aposta do presidente nacional do PSDB, o pernambucano Sérgio Guerra, que acabou dando certo.

Com um discurso afiado, Coelho acusou uma falsa polarização entre PT e PSB, alertando a população de que estavam no mesmo barco. Cresceu nas pesquisas e ultrapassou o candidato do PT. Nesses últimos dias, a campanha do PSB trabalha, com muito dinheiro, para desidratar a candidatura tucana e levar a prefeitura já no próximo domingo. Acreditam que Coelho pode causar problemas no segundo turno.