Título: Argentina pára de exportar petróleo ao Brasil
Autor: Góes, Francisco e Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Brasil, p. A4

A Argentina vem perdendo espaço para outros países, sobretudo Nigéria e Argélia, como um dos principais fornecedores de petróleo do Brasil. Em 2002, a Argentina respondeu por 16,6% das importações totais de petróleo, em valores, feitas pelo Brasil. O percentual caiu ano a ano e, em 2005, a participação do petróleo argentino nas compras brasileiras do produto atingiu o nível mais baixo da década, de apenas 1,2%.

De janeiro a agosto de 2006, a Argentina nem apareceu na lista dos dez maiores exportadores da commodity para o Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A queda da importância relativa da Argentina como fornecedor do Brasil está associada a dois fatores básicos: a redução da produção de petróleo naquele país e o crescimento do consumo doméstico de derivados a partir da recuperação argentina no período pós-moratória, em 2001.

A combinação de produção decrescente e consumo em alta deverá fazer com que a Argentina se torne importadora de petróleo a partir de 2010, prevê Caio Carvalhaes, analista de petróleo da Cambridge Energy Resources Associates (Cera Brasil) para o Cone Sul.

A menor exportação argentina provoca uma inversão das transações comerciais de petróleo e derivados entre os dois países. De janeiro a setembro de 2006, a soma de exportações de diesel, petróleo, gasolina e óleo combustível do Brasil para a Argentina somava US$ 338,346 milhões, o dobro do ano passado. Mas as vendas argentinas de nafta ao Brasil superam US$ 600 milhões e garantem o superávit do país vizinho.

Carvalhaes observa que, de forma paralela à perda de participação do petróleo argentino no mercado brasileiro, a Nigéria ganhou mercado. Segundo os dados do MDIC, a Nigéria respondeu por 39,6% das importações de petróleo do Brasil de janeiro a agosto deste ano, quando o Brasil importou US$ 6,3 bilhões no total. Em 2002, a participação da Nigéria nas importações totais de petróleo do Brasil era de 29,4%.

A Argélia, que em 2001 representava apenas 4% das importações brasileiras de petróleo, respondeu por 30,2% no ano passado e por 19% no acumulado de janeiro a agosto deste ano. Em 2005 e 2006, aparecem entre os principais fornecedores de petróleo do Brasil países que não constavam da lista em 2002, entre os quais Angola e Guiné Equatorial.

Carvalhaes afirma que, no fim da década de 90, a Argentina atingiu o pico de produção de petróleo, com cerca de 800 mil barris/dia de produção. Depois houve uma queda nos montantes produzidos, seguida de recuperação no início desta década, mas, a partir de 2001, a produção entrou em declínio por força do esgotamento das reservas e da redução das atividades exploratórias nos campos petrolíferos argentinos.

O diretor da área de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, diz que a produção atual da Argentina é de cerca de 600 mil barris/dia, com exportação de 100 mil barris/dia de óleo pesado, o mesmo tipo produzido no Brasil. "A Argentina exporta um petróleo que temos em abundância, com grau de viscosidade igual ao do campo de Albacora", disse Costa.

Atualmente a Petrobras importa cerca de 100 mil barris/dia de petróleo leve. Da Arábia Saudita, são importados, em média, 60 mil barris/dia, e, do Iraque, outros 40 mil. Outro importante supridor é a Argélia, que produz petróleo leve com especificações ideais para uso no processo de refino e na produção de nafta. A Petrobras precisa importar petróleo leve, com características específicas para produção de lubrificantes na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio, e para otimizar o refino do óleo nacional, usado na produção de derivados nas refinarias da Petrobras.

O diretor de Abastecimento da Petrobras disse que à medida em que forem concluídos investimentos para conversão das refinarias, que foram projetadas para usar petróleo muito leve, a necessidade de importações deste tipo de petróleo vai cair. Atualmente, algumas refinarias já usam 80% de petróleo pesado no processo de refino, entre elas a Refap, no Rio Grande do Sul, a RPBC, no Estado de São Paulo, a Replan, também em São Paulo, e Regap, em Minas Gerais.

Até 2010 mais quatro refinarias estarão aptas a processar petróleo pesado. "Com isso vamos praticamente deixar de importar óleo leve, a não ser para produzir lubrificantes", disse Costa. Segundo o diretor, até junho a Petrobras registrava saldo positivo de 76 mil barris/dia e de US$ 176 milhões na sua balança de líquidos. Esse resultado não inclui a área petroquímica, onde a estatal tem contrato de suprimento de 70% das necessidades de nafta da Brasken, de 50% da Copesul e de 100% da PQU, nem as importações de gás natural da Bolívia.

Costa afirma ainda que a tendência é que a balança comercial de líquidos da Petrobras melhore até o fim do ano. "A tendência é de melhorar bastante, devido ao acréscimo na produção nacional, queda no preço (do petróleo) e ao aumento da produção de diesel e gasolina nas refinarias já convertidas, o que também reduz a necessidade de importações."