Título: Alinhamento com Estado e União inflou PT em Salvador
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Política, p. A15

O eleitor de Salvador (BA) chega à eleição sob intensa campanha do PT pregando a importância do alinhamento político do prefeito com os governos estadual e federal, para a captação de recursos. Essa mensagem, considerada "chantagem" pela oposição, foi transmitida diariamente pela presidente Dilma Rousseff, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador Jaques Wagner (PT) nos programas de rádio e televisão da campanha do candidato do PT, Nelson Pelegrino.

O objetivo era tentar evitar uma vitória no primeiro turno do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), possibilidade apontada por pesquisas iniciais. Com base nas últimas sondagens, Pelegrino cresceu e chegou à situação de empate técnico com ACM Neto. A três dias da eleição, a expectativa é de segundo turno entre eles. O instituto Vox Populi mostrou Neto com 30% e Pelegrino com 27%, na semana passada. O Ibope, com 31% e 34%, respectivamente. Mas, como as pesquisas já erraram muito na Bahia, há cautela nas previsões.

No enfrentamento entre PT e DEM, estão em jogo a hegemonia do PT na Bahia e, de outro lado, a luta pela retomada de espaço político das legendas que fazem oposição a Wagner, hoje enfraquecidas. Analistas rejeitam a tese de que uma eventual vitória de Neto significaria a volta do "carlismo", como era chamado o grupo liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007. Isso porque os partidos e as lideranças que seguiam ACM, e dominaram o Estado por cerca de quatro décadas, hoje estão dispersos. Alguns na base do governador, como o vice-governador Otto Alencar (PSD).

Além de carlistas históricos como o ex-governador Paulo Souto e o ex-deputado José Carlos Aleluia, Neto tem, em sua aliança, o adversário do avô Jutahy Júnior (PSDB). A luta contra o domínio do grupo de Wagner no Estado e a busca pela sobrevivência política pode atrair outro oponente de ACM, o pemedebista Geddel Vieira Lima, num eventual segundo turno. Nesse cenário de "ninguém é de ninguém" não há que se falar de carlismo, como observam analistas.

Uma eventual vitória de Pelegrino garantiria ao PT, pela primeira vez, o comando do Estado e da capital. Uma derrota em Salvador enfraqueceria o projeto dos aliados de Wagner para 2014. O peso político da eleição na capital é inegável, mas, diante do risco de surpresa negativa, petistas buscam relativizar sua importância para a disputa ao governo do Estado, lembrando que o eleitorado de Salvador representa 18% do Estado. Por isso, o grupo está de olho nas disputas pelas prefeituras do interior. A previsão é que os partidos da base de Wagner elejam mais de 300 prefeitos dos 417 municípios.

Apesar da falta de empolgação do eleitorado, a campanha está acirrada, com troca de acusações e briga judicial. Neto acusa os adversários de destruir placas com sua propaganda e de distribuir panfletos apócrifos contra ele. Afirmou que, em caso de segundo turno, vai solicitar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que acompanhe as eleições em Salvador.

A campanha de Pelegrino entrou com representação criminal no Ministério Público pedindo investigação dos adversários por supostos crimes de calúnia e injúria na distribuição de panfletos apócrifos buscando vincular o petista ao esquema do mensalão que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A Justiça Eleitoral havia proibido a exploração do caso na propaganda da coligação de Neto. Até a imagem do ministro Joaquim Barbosa (STF), relator do processo, que vinha sendo usada, foi proibida.

Enquanto Pelegrino e ACM Neto polarizam a disputa, o ex-prefeito Mário Kertész (PMDB), que estava afastado da política havia 19 anos, retornou à cena pelas mãos de Geddel e, segundo as pesquisas, se manteve em terceiro lugar. Com sua participação, num forte embate principalmente contra Neto, Kertész deu exposição ao PMDB ao longo da campanha e valorizou o peso de Geddel numa futura negociação para o segundo turno. Não está descartada a possibilidade de ele e Geddel fazerem um acordo para assumir posições diferentes.

Kertész responsabiliza Neto pelo fato de as oposições não lançarem candidato único. A forma como o democrata se lançou também afastou Antonio Imbassahy (PSDB) do começou da campanha da oposição, mas o tucano acabou manifestando apoio.

A perspectiva de Geddel disputar cargo majoritário em 2014 seria aliando-se a ACM Neto. No campo de Wagner, a chapa considerada mais provável terá cabeça de chapa do PT - os mais cotados são o secretário de Planejamento do Estado, José Sérgio Grabrielli, ex-presidente da Petrobras, e Rui Costa, secretário da Casa Civil - e nomes indicados por Otto Alencar e o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo (PDT), nas outras vagas.

Além de ACM Neto, Pelegrino e Kertész, concorrem à Prefeitura de Salvador o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e deputado federal Márcio Marinho (PRB), que aparece nas pesquisas com cerca de 3%, Hamilton Assis (PSOL) e Rogério Da Luz (PRTB), com 1% cada.