Título: Em Goiânia, PT une-se a PMDB contra tucanos
Autor: Veloso, Tarso
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Política, p. A16
Na capital do Estado que forneceu diversos personagens para a CPI do Cachoeira e para o mensalão, ambos os temas foram completamente ignorados durante a campanha para a prefeitura da cidade. Como a maioria dos parlamentares de Goiânia se envolveu - ou teve seus padrinhos políticos envolvidos - com a empreiteira Delta, Carlinhos Cachoeira ou o mensalão, os casos de corrupção mais famosos da atualidade não são usados como munição por nenhum dos concorrentes.
A dois dias das eleições, a aposta é que a disputa vá para o segundo turno, mas a falta de pesquisas nos últimos dias dificulta prognósticos. A última, realizada pelo instituto Serpes, foi divulgada em 17 de setembro e apontava o petista e candidato à reeleição, prefeito Paulo Garcia (PT), como líder, com 38,6% das intenções de voto. A última pesquisa do Ibope é de 30 de agosto e mostrava Garcia com 34%.
Ele tem como companheiro de partido o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e um irmão de Delúbio, Carlos Soares (PT), como candidato a vereador. Além deles, Garcia também tem relação de amizade com o ex-ministro José Dirceu, outro réu do mensalão. Por conta da fragilidade política de seus companheiros mais próximos, seu maior cabo eleitoral continua sendo o ex-prefeito Iris Rezende (PMDB), que ainda é cotado para o governo em 2014. O petista é ex-vice-prefeito do pemedebista, que deixou o cargo em 2010 para disputar o governo do Estado e foi derrotado por Marconi Perillo (PSDB).
Até setembro, o atual prefeito aparecia como franco favorito para faturar no primeiro turno. Apesar de toda a equipe do candidato ainda insistir que as chances são "gigantes", ele mesmo evita o assunto.
Enquanto trabalham para desmoralizar as pesquisas, outros candidatos fazem ataques aos resultados. De acordo com a pesquisa Serpes, em segundo lugar, e certo de que vai para o segundo turno, o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes, aparece com 11,5% das intenções de voto. O delator do esquema do mensalão, Roberto Jefferson, é do PTB. Em terceiro, está o candidato Elias Junior (PMN), com 6,9%. Em quarto, e já tendo trabalhado na prefeitura junto com Garcia, Simeyzon Silveira (PSC) está com 4,1%.
Arantes, que em algumas pesquisas chega a ficar 30 pontos percentuais atrás do líder, começou a intensificar os ataques a Garcia desde o mês passado. No site da campanha de Arantes, das 10 últimas notícias, 10 criticavam Garcia e sua gestão. Ele é candidato do governador Marconi Perillo (PSDB), cuja imagem está desgastada por sua ligação com Cachoeira e suas constantes convocações à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso que investiga a exploração de jogos de azar em Goiás.
Ele é um dos maiores críticos em relação ao resultado das pesquisas. "Vemos em Goiânia uma ditadura das empresas de pesquisa. O Marconi [governador] perdeu todas as pesquisas e nunca perdeu eleição. O segundo turno será entre eu e o Garcia. Três institutos já deram que haverá segundo turno", afirmou Arantes.
Escutas da operação "Monte Carlo", em que a Polícia Federal (PF) investigou Carlinhos Cachoeira, mostram Jovair em contato com o suposto contraventor, que está preso. O maior prejudicado pela investigação foi o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM), que teve o mandado caçado após a divulgação de conversas com Cachoeira.
Na quarta-feira, houve um debate em uma rádio de Goiânia em que os quatro primeiros colocados mais a candidata Isaura Lemos (PCdoB) - por meio de um mandado de segurança - participaram. Fora as diversas promessas feitas aos ouvintes, todos os quatro candidatos que se opõem ao líder foram unânimes em criticar o clima de "já ganhou" que toma conta dos adeptos de Garcia. Sobre mensalão ou Cachoeira, nenhuma palavra foi dita.