Título: Rosso e Agnelo selam acordo
Autor: Boechat, Juliana; Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 20/11/2010, Cidades, p. 47

Após a troca de farpas sobre a gestão da Saúde, o chefe do Executivo e o governador eleito afirmam que vão trabalhar juntos para conduzir os trabalhos de forma tranquila

O atual governador do DF, Rogério Rosso (PMDB), e o eleito, Agnelo Queiroz (PT), alinharam o discurso sobre as questões relativas à área da Saúde do Distrito Federal. Após uma semana de desentendimentos e discordâncias, os dois reuniram-se com representantes do setor, na tarde de ontem, numa tentativa de unir esforços na fase final da transição. O petista cedeu e aceitou que a ideia de Rosso de abrir as portas da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia nos próximos dias. Em contrapartida, Agnelo negociou a prorrogação do atual contrato de gestão do Hospital Regional de Santa Maria para evitar interrupções no atendimento a partir de 21 de janeiro de 2011, quando vence o documento. Eleconseguiu também alterar o cronograma das obras dos 20 centros de saúde para evitar prejuízo aos pacientes. Os dois ainda trataram das prioridades do setor no Projeto de Lei Orçamentária Anual.

Ao longo dessa semana, Agnelo afirmou ser contrário à inauguração da UPA de Samambaia ainda este ano, como deseja o atual governador. Após receber alta do Instituto do Coração, na última quinta-feira, o contrariado Rosso prometeu convencer o governador eleito de que o GDF tem mão de obra suficiente para alocar no posto. Mas, na reunião de ontem, reinou o equilíbrio: o peemedebista conseguiu a inauguração da UPA e ficou com Agnelo a indicação do diretor da unidade. ¿Vamos acompanhar o funcionamento. E, assim, discutir o modelo de gestão para as demais UPAs¿, explicou o petista.

Os dois ainda chegaram a um acordo sobre a administração do Hospital de Santa Maria. Apesar de a intervenção na administração do centro ter sido acertada previamente pelos políticos, Agnelo defende agora a vigência do contrato. ¿Vamos prorrogá-lo para manter os funcionários trabalhando e o atendimento até estruturarmos a nova gestão¿, disse Agnelo. Segundo Rosso, uma das 13 cláusulas do Termo de Ajustamento de Conduta, assinado por ele no último dia 11, autoriza Agnelo a alterar o documento como desejar.

Consenso na Câmara A pauta de votações da Câmara Legislativa começará a ser limpa na próxima semana. Acordo firmado entre distritais e representantes do governo, inclusive o de transição, garantiu a retomada da apreciação de projetos em plenário. Do amontado de cerca de 500 propostas paradas na Casa, 89 têm consenso para deliberação imediata. Dessas, 26 são de autoria do Executivo, como os reajustes do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Projetos que liberam empréstimo para as obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que concedem isenções, remissões e parcelamentos de dívidas fiscais e que autorizam contratação de professores temporários para a rede pública de ensino também serão colocados em votação.

Pauta cheia As propostas do Executivo foram escolhidas a dedo, com o aval do governador eleito, Agnelo Queiroz. Hoje, tramitam na Casa 203 projetos de lei enviados desde 2004. Mas apenas 26 foram selecionados. A análise da equipe de transição considerou os projetos mais recentes, encaminhados a partir do ano passado. A única exceção foi a emenda à Lei Orgânica do Distrito Federal, elaborada em 2006, que estica para setembro o prazo para apresentação do Plano Plurianual, usualmente feita em março. O motivo para a alteração é dar mais tempo para o planejamento das contas de 2012 no próximo ano.

Promotora narra incômodo no MP Ana Maria Campos

A relação próxima entre Leonardo Bandarra e Deborah Guerner ¿ acusados de formar uma parceria para obter vantagens financeiras com o cargo estratégico que exercem ¿ já era motivo de incômodo na equipe do ex-procurador-geral de Justiça do DF antes das denúncias da Operação Caixa de Pandora. O relato foi feito, em depoimento, pela promotora Alessandra Queiroga, que atuou na área de investigações do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) e foi uma das responsáveis pela delação premiada do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa.

Embora não tivesse função na administração de Bandarra, Deborah participava de reuniões estratégicas, entrava e saía com desenvoltura do gabinete do chefe da instituição e era presença constante no nono andar do prédio, onde trabalha a assessoria mais próxima do procurador-geral de Justiça. Em depoimento prestado em 13 de setembro ao procurador regional da República Ronaldo Albo, responsável pelo inquérito contra Bandarra e Deborah Guerner, Alessandra falou da insatisfação no MPDFT.

Ela contou ter participado de reunião em que vários assessores de Bandarra manifestaram insatisfação com a presença frequente de Deborah no gabinete dele. Bandarra disse que Deborah insistia muito em ter contato com ele. Apesar da reclamação dos colegas, ele não tomou providências. Alessandra chegou a acompanhar Bandarra numa reunião formal na casa de Deborah, com a presença do então governador José Roberto Arruda. De acordo com Alessandra, ao contrário do que publicou ontem o Correio, ela não era frequentadora assídua da casa da colega, onde esteve apenas uma única vez, nesta ocasião.

Braço direito de Bandarra até a deflagração da Caixa de Pandora, Alessandra se afastou depois que as denúncias contra ele e Guerner vieram à tona. A promotora diz nunca ter revelado o teor das investigações, mesmo sabendo que o amigo estava na berlinda. Alessandra teve várias reuniões com Durval até que ele se dispusesse a entregar gravações e detalhar o suposto esquema de corrupção no governo Arruda.