Título: Lamy quer compromisso dos EUA antes da eleição
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Brasil, p. A4

Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), viaja amanhã aos Estados Unidos e permanece em contatos com Executivo e Legislativo até o dia 6, justamente quando ocorrerá a eleição legislativa americana. Seu objetivo é claro: obter de democratas e republicanos antes do pleito, e não depois, o compromisso de engajamento para retomar a Rodada Doha.

Lamy vem sendo pressionado a acelerar a volta da negociação global de liberalização comercial. O Brasil é um dos países que temem uma suspensão longa. Lamy vai advertir nos EUA sobre o custo de se perder o que já está na mesa de negociações agrícolas. Ele está falando das propostas de redução de 50% nas tarifas e cerca de 70% nos subsídios domésticos, além da eliminação de subvenções à exportação em 2013, todas maiores do que na Rodada Uruguai (1986-95).

Depois da eleição americana, uma das oportunidades de articulação ministerial ocorrerá no Vietnã, numa reunião da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec). Dia 22 de novembro, Lamy estará em Montevidéu para a comemoração dos 20 anos de lançamento da Rodada Uruguai.

Outra hipótese é que seja criada uma oportunidade no começo de dezembro, em Genebra, para ele reunir alguns ministros na OMC. Certos negociadores vêem mais possibilidade de encontro entre ministros no Fórum Mundial de Economia, em janeiro, em Davos (Suíça), ou depois desse encontro.

As articulações dependem do sinal que Lamy receberá, ou não, em Washington. Até ontem, não estava confirmado o encontro com o presidente George W. Bush, visivelmente mais atarefado com a campanha eleitoral em que está ameaçado de sair derrotado.

Se o diretor da OMC voltar com mensagem negativa de Washington, o mais provável será o cenário de retomada em 2009, com novo governo nos EUA e também praticamente com nova rodada. Nesse caso, os americanos ficariam contentes de ter a Rússia na negociação e discutir também a liberalização do setor energético. Se os democratas ganharem a eleição, também não será surpresa que o tema de normas trabalhistas volte à mesa de discussões.

Negociadores indicam que, desde a suspensão da rodada, em julho, "não há completo imobilismo". Prosseguem discussões em todo lugar, o tempo todo, sob o manto da "diplomacia silenciosa" sugerida por Lamy. As conversas têm sido informais e descompromissadas.

Na semana passada, uma delegação do Brasil discutiu com americanos e ingleses, em Londres. Hoje, outra delegação se encontrará com o diretor-geral de Agricultura da UE, Jean-Luc Demarty, em Genebra. Ha sinalizações de interesse em aproximar posições, mas sem permitir que se vislumbre uma retomada da Rodada Doha.

Ontem, o ministro britânico de Finanças, Gordon Brown, conclamou os líderes mundiais a concluir a rodada no ano que vem, para evitar inclusive a propagação do protecionismo. Em entrevista ao "Financial Times", o provável sucessor de Tony Blair como primeiro-ministro no ano que vem, destacou que na agricultura a Europa e os Estados Unidos têm margem para movimento, a fim de permitir ao Brasil e Índia fazerem concessões. "Isso é possível", disse Brown.