Título: Vanessa prevê 2º turno 'sangrento' em Manaus
Autor: Máximo, Luciano
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Política, p. A17

Ovada, cusparada, ação de hackers, distribuição de milhões de panfletos anônimos com acusações de defesa do aborto e do casamento entre homossexuais. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) chega à reta final da campanha eleitoral pela Prefeitura de Manaus sob artilharia pesada, mas confiante de que terá vaga garantida no segundo turno. Ela também sabe que o clima da disputa não irá esfriar. Pior: "Será sangrento", diz.

Vanessa reeditará o embate de 2010 pelo Senado, quando venceu - com apoio maciço do ex-governador do Amazonas Eduardo Braga, do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata Dilma Rousseff - o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB), principal voz da oposição nos tempos de Lula. Há dois anos, menos de 30 mil votos selaram a vitória da comunista. Vanessa se deu bem no interior, ajudada pela máquina do governo estadual; Artur Neto, como Virgílio é popularmente conhecido em seu Estado, venceu em Manaus, com pouco mais 20 mil votos a mais. Neste ano, os dois chegaram à reta final da campanha empatados com 29% das intenções de votos, conforme pesquisa do Ibope de 20 de setembro.

Com o mesmo apoio, Vanessa tentará desbancar novamente o tucano. A estratégia adotada nas últimas duas semanas é de responder aos ataques, às vezes no mesmo tom. Nas redes sociais circula um vídeo editado de Virgílio defendendo princípios do aborto e do casamento entre homossexuais. Mas o maior argumento é a velha polarização governo Lula-governo FHC. "Não estou atacando, estou respondendo aos ataques. A diferença é que eu comparo o que nosso projeto fez e o que ele fez. E assino", diz Vanessa.

Virgílio nega os ataques, mas diz que a adversária trata Manaus como apenas mais uma tarefa e não um projeto sério. Com uma postura mais serena do que a conhecida nos tempos de Senado, tom de voz mais calibrado no diálogo com jornalistas e eleitores, o tucano reconhece os erros do passado e enfatiza sua capacidade para governar a capital amazonense. "Meu currículo mostra equilíbrio e responsabilidade, e Manaus não pode ser entregue a uma aventureira", conta Virgílio.

Para Vanessa, a postura do adversário é "uma farsa". "Não tem nada de dócil. Ele é completamente desequilibrado. Fui vereadora da chapa dele quando se elegeu prefeito, e a aliança não durou três meses por causa das arbitrariedades cometidas em sua administração. É um lobo vestido em pele de cordeiro, estou preparada para um segundo turno "sangrento"", endurece a comunista. "Não trato essa eleição como revanche, afinal eu ganhei em Manaus em 2010. Eu sou um lutador, quem é do mar não enjoa; e não quero perder tempo com ela [Vanessa], o povo que vai julgar", responde Virgílio.

No dia a dia da disputa, os dois também têm estilos muito diferentes de se fazer campanha. Jovens da equipe de Vanessa a chamam de "insana" quando está no corpo a corpo com eleitores. Há dois dias, sua entrada nas estreitas ruas do Tancredo, bairro pobre na zona leste de Manaus, foi descomunal. Repentinamente metade de um corpo esguio com uma vasta cabeleira loura se lança pela janela do carro importado e começa a acenar para as pessoas na rua, previamente avisadas do ato eleitoral pela comunidade. Quando ela deixa o veículo pela porta de trás, a correria e gritaria de crianças descalças e descamisadas e a aproximação de militantes com bandeiras, mais o barulho do forró do carro de som, deixam o ambiente caótico. Em poucos segundos, a política já está com um menino nos braços e, ao mesmo tempo, distribuindo beijos e abraços em mães, pais e avós.

Na hora do almoço do mesmo dia, a agenda do tucano foi muito mais "organizada". Em visita à fábrica da Panasonic na Zona Franca de Manaus, Virgílio conversou com executivos da empresa e passou no restaurante para cumprimentar os funcionários. Olhou nos olhos de cada um com um sorriso no rosto, perguntou se a comida estava boa, onde morava, se estava feliz no trabalho. Deteve-se um pouco mais com um jovem de cara fechada vestido com a camisa do Flamengo. Flamenguista doente, reclamou com o rapaz do resultado do último clássico: Fluminense 1 x 0 Flamengo. "Não deram um pênalti para a gente". Também entrou na cozinha e conversou com as cozinheiras. "Ele sempre entra na cozinha e sempre fica falando mais com a pessoa que oferece mais resistência", conta uma assessora.