Título: Campanha de Romney renasce nos EUA após vitória em debate
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Internacional, p. A20

A campanha do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, renasceu anteontem à noite com o seu bom desempenho no primeiro debate pela TV contra um apático presidente Barack Obama. Pesquisas de opinião apontam clara melhora dos índices de aprovação de Romney, mas ainda é incerto se ela será forte e duradoura o suficiente para superar o favoritismo de Obama.

O percentual de eleitores que vê Romney de forma favorável subiu de 46% para 51%, segundo levantamento feito logo antes e logo depois do debate pelo Ipsos Public Affairs, um instituto de opinião pública, em parceria com a agência Reuters.

Também subiu, de 36% para 40%, o percentual de eleitores que acha que Romney é o mais preparado para lidar com a estagnação econômica dos Estados Unidos, considerado o tema-chave nesta campanha. No caso de Obama, o índice caiu de 40% para 36%.

Outras pesquisas de opinião mostram que Romney foi o vencedor do debate, como a da rede de televisão CNN. Mesmo a imprensa de esquerda reconheceu que Obama foi fraco no debate.

"É um renascimento da campanha do Romney", afirma o diretor-executivo da Ipsos Public Affairs, Clifford Young, lembrando que o candidato republicano sofreu nas últimas semanas com uma sequência de evento negativos. "Ele se apresentou como um estadista, como alguém que está preparado para assumir a presidência americana.

" Segundo Young, num debate, a imagem projetada pelo candidato é, em geral, mais importante para ganhar intenções de votos do que as discussão das propostas eleitorais.

Antes do debate, a campanha de Romney parecia caminhar para o naufrágio. A convenção republicana, realizada em setembro, foi bastante fraca, comparada com a democrata, de Obama. Romney também sofreu o impacto do vazamento de um vídeo em que ele afirma que 47% dos americanos não pagam impostos e dependem do governo.

Uma questão é se os ganhos de Romney serão permanentes. Já está bastante claro que o debate animou a base republicana, que começava a se desmotivar com a patinante candidatura. O voto é facultativo nos Estados Unidos e, por isso, é importante animar os eleitores para que eles compareçam às urnas.

Não está descartada, porém, a hipótese dos índices de aprovação de Romney recuarem. Esse é apenas o primeiro de uma série de três debates e, provavelmente, Obama deverá voltar com mais energia nos próximos embates.

Ontem mesmo ele subiu o tom de sua campanha, exibindo um pouco da combatividade que faltou no debate. "Conheci um cara muito espirituoso que alegou ser Mitt Romney" disse Obama sobre o debate, sugerindo que o adversário mentiu ao negar que, se eleito, vá cortar impostos para milionários.

No debate, Romney torceu e omitiu alguns fatos e mudou de opinião em alguns temas muito importantes da campanha, como regulação financeira, reforma da saúde e tributação - e a campanha de Obama já começou a exibir vídeos explorando esses flancos. Isso pode prejudicar Romney junto ao eleitor mais conservador.

"O debate colocou Romney no caminho correto, mas ainda tem muito que fazer para mudar a dinâmica dessas eleições", afirma Young. Para ele, Obama segue favorito nas eleições de 6 de novembro porque presidentes que disputam um segundo mandato costumam sair com vantagem na disputa, e seus os índices de aprovação, embora tenham caído em relação ao início de seu governo, ainda estão num patamar confortável.

Só as pesquisas mais completas, que devem levar alguns dias, poderão dizer qual é o efeito mais amplo nas intenções de voto. É preciso conhecer, em especial, se houve mudanças expressivas nas intenções de voto em alguns Estados considerados estratégicos para a eleição, como Flórida e Ohio.

Romney, em vários momentos do debate, tocou em temas de interesse direto de eleitores indecisos desses Estado, como a Previdência Social, no caso dos aposentados que vivem na Flórida.

Dois cientistas políticos, Robert Erikson e Chistopher Wlezien, publicaram um amplo estudo que sugere que debates não mudam a dinâmica das eleições presidenciais. Nos últimos 60 anos, nenhum candidato que liderava a seis semanas da eleição perdeu a disputa, mesmo sendo derrotado em debates.