Título: Dilma faz torcida discreta por uma vitória chavista
Autor: Murakawa, Fabio
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Internacional, p. A21

As eleições deste fim de semana na Venezuela são acompanhadas, no Itamaraty e no Palácio do Planalto, com uma torcida discreta e preocupação com a possibilidade de um resultado apertado, capaz de criar um conflito político no país vizinho.

Embora oficialmente o governo brasileiro mantenha distância do processo eleitoral venezuelano, os relatos provenientes da Embaixada do Brasil em Caracas alimentam algumas certezas entre as autoridades brasileiras, entre elas a de que são fortes as chances de reeleição do presidente Hugo Chávez. Não se descarta, porém, a possibilidade de um resultado apertado, ou até vitória do oposicionista Henrique Capriles, o que gera preocupação.

No caso de uma vitória de Capriles, o governo de Dilma Rousseff se prepara para "convencer" Chávez a aceitar o resultado, pelo bem da democracia no continente. Os interlocutores de Dilma veem como mais provável a reeleição do atual presidente. Porém, temem que, em caso de decisão por margem apertada, os grupos oposicionistas decidam contestar o resultado, convocando manifestações de massa contra o presidente. Esse seria, segundo autoridades consultadas pelo valor, o pior cenário possível, na avaliação do governo.

Entre auxiliares próximos de Dilma, há quem veja com agrado a possibilidade de crescimento da oposição, que poderia levar a um aumento futuro da representação oposicionista no Congresso da Venezuela - hoje majoritariamente chavista, em consequência da decisão dos oposicionistas de boicotar a última eleição. Um Congresso com representação mais equilibrada de forças poderia provocar o governo Chávez a buscar um esforço de composição de interesses, e funcionaria como contra-peso ao poderoso governo central, na avaliação desses assessores.

Capriles é mal visto no governo brasileiro, onde é lembrada a atuação do oposicionista durante o golpe que apeou momentaneamente Chávez do poder, em 2002. Prefeito da região de Caracas onde está a embaixada de Cuba, ele chegou a ser preso acusado de fomentar a invasão e vandalismo nas instalações diplomáticas. Foi absolvido e liberado quatro meses depois da prisão. Ele nega ter participado do golpe. Candidato único da oposição, é considerado no governo brasileiro uma incógnita. Fragmentadas, as forças oposicionistas venezuelanas, na avaliação corrente no governo brasileiro, teriam apenas um ponto forte de união: seu ódio a Chávez.

Capriles, também, tem dito em campanha que, se eleito, se esforçará para reduzir as importações de produtos do Brasil, que cresceram nos últimos anos com a expansão dos programas estatais de alimentação no governo Chávez, e com o apoio oficial a investimentos em máquinas e equipamentos. Há expectativas no governo brasileiro de que, com a eleição, Chávez negocie novos programas de cooperação para instalação de indústrias no país, a exemplo das duas fábricas, ligadas ao setor alimentício, já criadas por empresas brasileiras, com apoio estatal.

Durante ã cúpula dos países Árabes e Sul-Americanos, no começo da semana, no Peru, a presidente Dilma Rousseff se surpreendeu ao ser abordada pelo presidente da Colômbia, o conservador Juan Manuel Santos, com perguntas sobre os prognósticos brasileiros para a eleição venezuelana.

Santos tem recebido apoio de Chávez na negociação de paz com a guerrilha das Farc, e a curiosidade do colombiano foi tomada pelos auxiliares de Dilma como sinal de que a permanência do venezuelano no poder pode servir até a governos distantes de sua órbita de esquerda e contribuir aos esforços de normalização política no continente.