Título: Commodities e elétricas pesam, e Ibovespa perde 1%
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Fonte: Valor Econômico, 04/10/2012, Finanças, p. C2

A Bovespa provou mais uma vez que realmente é uma bolsa de commodities. A forte queda nos preços dos metais básicos e do petróleo acertou em cheio as duas estrelas da bolsa brasileira, Vale PNA (-1,30%) e Petrobras PN (-1,58%), levando o Ibovespa a fechar na contramão de Wall Street, com baixa de 1,0%, aos 58.627 pontos.

O mercado local ignorou os dados positivos de geração de emprego no setor privado americano. As atenções recaíram sobre o dado de atividade de serviços na China, que veio abaixo do esperado, e pelo aumento na produção de petróleo dos EUA para o maior nível em 16 anos, o que fez o preço do barril despencar 4,1% ontem.

E o risco regulatório também voltou às mesas de operações. Reportagens do Valor e da "Folha de S.Paulo" pressionaram as ações do setor elétrico. Cesp PNB (-5,07%) liderou as baixas, acompanhada de Cemig PN (-4,55%), Eletrobras PNB (-2,82%), Transmissão Paulista PN (-2,76%) e Copel PNB (-2,71%).

Segundo a "Folha", o governo paulista teria adiado os planos de privatização da Cesp devido à forte queda das ações após o governo federal anunciar as novas regras de renovação das concessões. O Valor trouxe matéria com o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner. Ele afirmou que vai jogar duro com concessionárias que não quiserem prorrogar os contratos. A entrevista foi avaliada pelo diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, como um recado "autoritário" e "truculento" ao mercado.

Entre as maiores altas do dia se destacaram Gol PN (4,21%) e B2W ON (3,24%). As ações da companhia aérea mostraram volatilidade pelo terceiro pregão seguido: haviam subido 10,6% na segunda-feira e caído 10,9% na terça, diante da expectativa de que a empresa pudesse ser vendida. De concreto, apenas a compra de 60 aviões da Boeing para renovação de frota.

Já B2W conseguiu mais que dobrar de valor (145%, para R$ 12,40) desde que atingiu o fundo do poço (de R$ 5,05) há quatro meses (em 5 de junho). De notícia concreta, não há nenhuma. Mas os boatos dão conta que a Amazon poderia comprar a empresa brasileira de varejo eletrônico. Também especula-se que sua controladora, a Lojas Americanas, estaria preparando o fechamento de capital. Vale lembrar que a trajetória descendente de B2W começou no fim do ano passado, após sucessivos problemas com entregas e aumento da concorrência no setor.

Entre as baixas, TIM ON (-4,75%) voltou a chamar atenção. O Valor revelou que a JVCO Participações, que havia alertado o mercado sobre investigações de supostas irregularidades no balanço da TIM, pertence ao empresário Nelson Tanure. Ele tornou-se acionista da empresa em 2009, após a venda da Intelig. De lá para cá, Tanure e TIM já tiveram alguns atritos.

Outro destaque negativo, pelo segundo pregão seguido, foi Embraer ON (-4,47%). Os investidores saíram de uma reunião promovida pela companhia nos Estados Unidos na terça-feira preocupados com a desaceleração da carteira de encomendas, segundo analistas.

Os dois últimos pregões desta semana - que ainda terá a divulgação do "payroll", principal dado de geração de emprego dos EUA - serão relevantes para o Ibovespa definir tendência, aponta o analista técnico da Icap Brasil, Raphael Figueredo. "A luz vermelha acendeu com a perda dos 58.800 pontos. O Ibovespa fechou em cima de uma "linha de tendência de alta" iniciada em 23 de julho", observa o especialista. "Por enquanto não há sinal de melhora." Segundo ele, a tendência de baixa a médio prazo pode se confirmar com a perda dos 56 mil pontos. Se o mercado reagir, os 60 mil pontos são a principal resistência a ser vencida.