Título: No longo prazo, cena externa e inflação ditam rumo da Selic
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2012, Finanças, p. C3

A possibilidade de a taxa básica de juro brasileira consolidar o patamar de um dígito passou a ser contemplada pelos departamentos econômicos das instituições financeiras, mas é fato que ainda não inspira consenso. E o economista Roberto Luis Troster, da Troster & Associados, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), explica que numa avaliação por probabilidade ter a Selic em um dígito é algo equivalente a 60%. E, ainda assim, uma condição que se enquadra no longo, longo prazo mesmo. "Juro de um dígito depende de reformas, da evolução da economia mundial, de ajustes internos e de correções de distorções, mas é possível", admite.

Para Felipe Tâmega, economista-chefe do Modal, a permanência da Selic em um dígito dependerá também de quanto tempo vai demorar para o Banco Central elevar o juro numa conjuntura de pressão inflacionária. "Medidas de desoneração fiscal e outras medidas de cunho extra-econômico têm efeito limitado. Portanto, apenas mudam a base dos preços tendo pouco efeito sobre a dinâmica da inflação. Assim, caso se tente mascarar os efeitos inflacionários, a pressão ficará latente e o único efeito terá sido então de postergar o inevitável aumento de juros", avalia.

No grupo otimista do mercado, que projeta Selic de 7,5% por todo o próximo ano de 2013 e já a partir do encontro do Copom na semana que vem, Marco Maciel, economista-chefe do Banco Pine, comenta que o benefício proporcionado para a atividade econômica de uma taxa básica 0,25 ponto percentual menor que a atual seria nenhum. Já o custo de um ajuste não é descartável. "Se o BC reduzir a Selic para 6,5%, cresce a probabilidade que ele tenha que voltar a elevar os juros em 2013 se as pressões inflacionárias voltarem. Os economistas vão começar a questionar o juro real e a volatilidade no mercado de juros vai aumentar", diz. "Para que fazer isso?".

O economista-chefe do Pine avalia que a condução da política monetária terá mais a ganhar se a previsibilidade aumentar com um juro estável por mais tempo. Esse é um dos objetivos que o BC está perseguindo neste momento, tanto quanto encontrar um juro real e neutro em níveis historicamente mais baixos. Um novo corte da Selic deixaria a porta aberta para o mercado questionar se de fato o ciclo de afrouxamento monetário está encerrado.

Na avaliação de Marco Maciel, essa dúvida se transformaria em uma curva de juros mais inclinada, com os agentes pedindo prêmios maiores para posições mais longas. "Estaria dada a condição para que a volatilidade levasse bancos e empresas a optarem por tesouraria e caixa em vez de concessão de empréstimos e investimentos, respectivamente", completa.