Título: Instituições não contam com nova ação do BCE
Autor: Costa , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2012, Finanças, p. C3

Da última reunião do Banco Central Europeu (BCE), em 6 de setembro, para o encontro de hoje, o cenário desanuviou um pouco na zona do euro, embora, na prática, nenhuma medida tenha sido executada. O fato de o BCE ter mostrado as armas de que dispõe parece ter sido suficiente para dar suporte ao mercado, muito embora o anúncio de medidas pelo presidente Mario Draghi tenha carecido de detalhes, como o novo programa OMT.

Este programa, de compra de títulos soberanos de um a três anos no mercado secundário, não estreou porque a Espanha ainda não pediu ajuda formal (e não tem valido a pena apostar em quando isso ocorrerá), condição fundamental para sua operacionalidade. Mesmo assim, os "yields" (retornos) das dívidas de 10 anos de Espanha e Itália seguiram caindo desde a última reunião: 63 pontos-básicos, para 5,78%, no caso do primeiro; e 48 pontos-básicos, para 5,03%, no segundo.

Em função do curto espaço de tempo entre as duas reuniões de política monetária, nenhuma das 11 casas consultadas pelo Valor Data acredita que haverá corte de juros (da taxa básica ou de depósito) ou novas ações do banco central para amparar a economia ou conter a deterioração dos mercados. Foram pesquisadas as opiniões de Bank of America Merril Lynch, BNP Paribas, Citi, Deutsche Bank, Goldman Sachs, J.P. Morgan, Nomura, UBS, Credit Suisse - todos em Londres -, Jefferies (NY) e Bank of Ireland (Dublin).

Para a maioria das casas, o BCE deve reforçar o cenário de riscos para a região na conferência de imprensa que fará após sua reunião, oportunidade em que destacará as perspectivas para o PIB deste e do próximo ano e a trajetória da inflação, hoje bem acima da meta de 2% (atingiu 2,7% em setembro em termos anualizados).

Sobre o detalhamento do OMT, o BofA vê duas dúvidas pertinentes no mercado: 1) quais seriam os níveis apropriados para os yields; e 2) a possibilidade de impactos negativos das compras de títulos de um a três anos sobre a "duration" das dívidas soberanas. Como a "duration" é uma resultante de vários pontos da curva de vencimentos - ou o prazo médio das operações ponderado pelo valor presente dos fluxos de caixa -, um maior peso na ponta curta poderia distorcer toda a curva, segundo o banco, que acredita que o BCE tratará deste ponto na conferência.

Na visão do Nomura, Draghi não deve dar muitos detalhes quando perguntado sobre as condicionalidades do OMT e sobre o comprometimento do BCE em estancar as compras caso tais condicionalidades não sejam cumpridas.

Já o Credit Suisse acredita que o BCE não dará detalhes desse programa enquanto os países não recorrerem a ele formalmente.

Para o Citi, Draghi deverá reafirmar que o OMT está pronto para ser ativado e, mesmo sem anunciar medidas nesta semana, deixará a porta aberta para novas intervenções no futuro, como, por exemplo, novas rodadas de LTRO"s (operações de refinanciamento de longo prazo) e mais afrouxamento nas exigências de colaterais.

O BNP também vê o OMT como foco da conferência pós-reunião, uma vez que ainda há incertezas sobre quando ou se os países necessitados (leia-se Espanha) pedirão resgate. Segundo o banco, provavelmente não haverá sinais de afrouxamentos adicionais, pois o BCE parece sentir que o anúncio do OMT aliviou o mercado.

Sobre as possíveis ações nos meses vindouros, BNP, Citi, J.P. Morgan, Nomura, Bank of Ireland e Jefferies acreditam que o BCE deverá cortar a taxa básica de juros até dezembro em mais 25 pontos-básicos, para 0,50%.

Para Citi, J.P. Morgan e Nomura, o mesmo corte também será estendido para a taxa de depósitos, hoje em zero. O Deutsche Bank só enxerga o corte dos juros no primeiro trimestre de 2013, sendo que a possibilidade de a taxa de depósitos se tornar negativa estará condicionada a uma deterioração adicional da economia. BofA, UBS, Goldman e Credit Suisse não opinaram sobre o futuro.

Em tempo: todas as casas esperam manutenção da taxa de juros e do programa de compra de ativos pelo Banco da Inglaterra (BoE). Como o fim do programa de 375 bilhões de libras acontecerá em novembro, é naquele momento que a maioria das instituições espera novidades na política monetária do Reino Unido.