Título: "Tradição" perde terreno no pujante crescimento das exportações
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Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Agronegócios, p. B11

O comércio mundial de vinho progride quatro vezes mais rápido que a produção, e os ganhadores são todos do Novo Mundo: Austrália, Chile e Argentina, pela ordem. A constatação, exposta em estudo da seguradora francesa de crédito à exportação Euler Hermes, foi recebida nesta semana como uma ameaça pela França, Itália e Espanha, historicamente os principais produtores mundiais da bebida.

Ainda assim, ontem os ministros de Agricultura dos 25 países da UE continuaram sem se entender com a Comissão Européia nesta seara. A comissão propõe uma reforma no segmento para por fim a um excesso crônico de produção e reagir à concorrência dos vinhos do Novo Mundo. Sobre questões-chaves da reforma, como a destruição de vinhedos para reduzir a produção, práticas enológicas ou simplificação das etiquetas de vinho, simplesmente não há consenso entre os países.

Em seu estudo, a Euler Hermes destaca um lento declínio no consumo de vinho em tradicionais países produtores da Europa. Quem realmente assegura o crescimento de vendas é a demanda originária do Reino Unido e dos Estados Unidos. O potencial de crescimento é elevado também no Japão e na Rússia.

A produção já se estabilizou nos países tradicionais, mas aumentou nos "novos". Nesse ranking, a França permanece na liderança, com 53 milhões de hectolitros (19% do total mundial), seguida por Itália (18%) e Espanha (13%). Juntos, portanto, os dominam a metade da oferta. Mas a produção cresceu 10,8% na Austrália em dez anos, enquanto no Chile aumentou 7,1% e na Argentina, 1,5%. Assim, os três já detêm, hoje, 13% da produção global, o equivalente ao que produz a Espanha. O Brasil faz 1% da produção mundial de vinho, mas sua produção recuou 0,3% entre 1997 e 2005, quando a média mundial subiu 0,6% em volume.

O mais ameaçador, sobretudo para a França, é a perda de terreno nas exportações mundiais. A fatia do país caiu de 45% do total em valor, em 1994, para 35% em 2004. A queda ocorreu mesmo com os franceses valorizando duas vezes mais seu vinho - ou seja, oferecendo um preço médio bem superior ao da concorrência.

Nas exportações, quem ganha são os novos concorrentes: a Austrália passou a exportar 43% do que produz, ante 21,2% há dez anos. Na mesma comparação, o percentual passou de 31% para 72% no Chile. Com o movimento, os vinhos australianos já começaram a ficar mais caros, ao passo que as vendas americanas, por exemplo, seguem mais em conta.

Mas o estudo conclui que a produção francesa segue globalmente lucrativa, impulsionada por champagne e "grands crus". E a baixa de preço no mercado francês levará seus produtores a tentar recuperar fatias do mercado internacional.(AM)