Título: Cúpula petista sai da defensiva em desagravo a condenados
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2012, Política, p. A6

Em meio à condenação do núcleo político do PT pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, a cúpula petista reúne-se hoje para sair em defesa de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. O escândalo de corrupção deve marcar o encontro do Diretório Nacional do partido nesta quarta-feira, em São Paulo. O PT adotará como estratégia o ataque aos adversários e à mídia.

O partido deve afinar o discurso sobre o mensalão a ser usado pelos candidatos na reta final das eleições. "Não podemos permitir que nossos adversários nos coloquem na defensiva. Não podemos", disse o secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi. "Vamos responder. Aceitar apanhar desse jeito não é do DNA do PT. Não podemos permitir que nos coloquem na defensiva. Isso é totalmente absurdo", disse ontem, depois de participar de reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede do diretório do PT em São Paulo. "O julgamento foi articulado por nossos adversários para coincidir com a eleição e prejudicar o PT. Nada saiu do script que eles [a oposição] e as redações dos grandes jornais queriam", acusou Frateschi, da corrente majoritária do PT.

O dirigente Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador do grupo que comanda o PT, disse que a "militância não se curvou no primeiro turno" e "não se curvará" agora. Rochinha disse que não concorda com o julgamento do STF e, em meio a críticas à imprensa, comparou o mensalão nesta eleição aos ataques enfrentados pelo PT em 1989, quando a legenda foi acusada de participar do sequestro do empresário Abílio Diniz. Comparou também a exploração do escândalo à edição do debate entre Lula e Fernando Collor de Mello e fez um paralelo com a declaração do empresário Mario Amato, de que "800 mil empresários sairiam do país" se Lula fosse eleito. "Estamos calejados", afirmou.

Segundo o dirigente, o ex-ministro José Dirceu, condenado pelo STF, poderá participar da reunião da cúpula petista. "Ele nunca faltou a nenhuma reunião. Acho muito difícil ele não participar".

Ontem, o ex-presidente Lula reuniu-se na sede do partido em São Paulo com dirigentes, petistas que venceram as eleições em cidades com mais de 200 mil eleitores e candidatos do PT que disputarão em 22 cidades o segundo turno. Após o encontro, petistas, tentaram minimizar o impacto eleitoral do mensalão, apesar de evitar o assunto. "Fora de São Paulo, o caso não teve repercussão no processo eleitoral sobre o PT", disse a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. "O que o PT tinha que sangrar, já sangrou", afirmou.

O candidato do PT em Osasco, Jorge Lapas, que foi lançado às pressas depois da condenação de João Paulo Cunha, disse que o mensalão não foi um problema só do PT. "Começou no governo FHC, no de Eduardo Azeredo e continuou no nosso governo. Só que os outros não foram julgados", disse.

No encontro de hoje, além de debater o mensalão e a conjuntura política, o comando do PT fará um balanço das eleições e deve apresentar um roteiro com cidades em que Lula e a presidente Dilma Rousseff subirão no palanque. Já foram confirmadas as presenças do ex-presidente em João Pessoa e Fortaleza. Nesta, o adversário é do PSB. "Combinamos a presença em Fortaleza desde o primeiro turno", afirmou ontem o petista Elmano de Freitas, antes de encontrar-se com Lula. Sua principal cabo eleitoral, a prefeita Luizianne Lins, reforçou: "Em 2004 e 2008 Lula não foi, mas agora preciso dele, preciso que ajude", afirmou a prefeita.

Ontem, petistas negociaram também a participação do ex-presidente no palanque de Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba, contra Ratinho Junior (PSC). Os ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) definirão como será essa presença na TV e em comícios. Fruet foi um dos principais críticos a Lula durante as investigações do mensalão, quando integrava o PSDB.

Dilma, a princípio, deve participar só em São Paulo e Salvador.

Lula evitou falar com a imprensa no encontro de ontem. Em nota divulgada em sua página no Facebook, o ex-presidente comemorou os resultados obtidos nas eleições. "Esse é o melhor resultado da história do PT e mostra a força da nossa militância", afirmou o petista.