Título: Rio volta a ficar sob o signo da violência
Autor: Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2010, Brail, p. 10

Na madrugada, mais carros foram incendiados, e os rumores a respeito de um caminhão com dinamite na cidade assustaram moradores e autoridades. Efetivo da PRF é transferido para a capital fluminense e ministro da Justiça promete apoio total

Depois de 24 horas de tensão ¿ entre domingo e segunda-feira ¿, quando houve uma onda de arrastões na capital fluminense e bandidos atearam fogos aos carros, o Rio voltou a viver um dia de ataques e nervosismo ontem. Durante a madrugada, mais quatro carros acabaram incendiados e pelo menos uma cabine de polícia foi metralhada. Pela manhã, em meio à violência, a polícia tomou as ruas da cidade. Com ela, um rumor a respeito de um caminhão carregando 600kg de explosivos em algum lugar da capital provocou princípio de pânico entre os moradores.

No mesmo momento, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) transferiu parte de seus agentes de outros estados para atuar em áreas críticas do Rio de Janeiro. A informação a respeito da existência do caminhão com dinamite acabou desmentida pelo secretário de Segurança Pública do estado, José Mariano Beltrame, mas a transferência de efetivos da PRF segue no dia de hoje. O objetivo é agir nos locais onde, desde a semana passada, estão ocorrendo arrastões e ataques criminosos contra carros.

O pedido foi feito pelo governador do estado, Sérgio Cabral (PMDB), ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que determinou o aumento de 200% no efetivo. O governo fluminense também vai transferir oito presos para penitenciárias de segurança máxima, já que as ordens para os ataques teriam sido dadas de presídios locais. Ontem, policiais civis e militares realizaram uma megaoperação em várias regiões da cidade, e desde a segunda-feira prenderam 11 pessoas , sendo oito acusadas de liderarem os ataques. Quatro pessoas, suspeitas de envolvimento com o tráfico de drogas, morreram em confronto com as forças de segurança.

No exterior O ministro da Justiça mandou o próprio diretor da PRF, Hélio Cardoso Derene, para o Rio. Barreto determinou o cancelamento das folgas dos patrulheiros e a União vai pagar horas extras aos policiais que atuarem fora de seus horários de trabalho. ¿Colocamos à disposição do governo do Rio de Janeiro não só a Polícia Rodoviária Federal, que dará segurança nos pontos críticos das estradas daquele estado, mas também o sistema prisional federal para que sejam transferidos presos que estejam dentro do perfil da clientela do nosso sistema de segurança máxima¿, afirmou Barreto.

O ministro ressaltou que outras forças também estarão à disposição do governador Sérgio Cabral, como a PF e a Força Nacional. ¿Somos parceiros do governo do Rio de Janeiro no projeto de pacificação das favelas, pela via da segurança preventiva, e, num momento como este, temos que estar ainda mais unidos¿, disse o ministro. Segundo a Polícia Militar, os ataques sofridos no Rio de Janeiro nos últimos dias podem ter sido ordenados de dentro de presídios, como resposta à retirada de detentos para fora da cidade.

À noite, o Tribunal de Justiça do Rio autorizou a remoção dos presos de alta periculosidade para as penitenciárias de segurança máxima da União, mas a Justiça Federal ainda não havia avalizado a operação. O número pode subir para 13, segundo a Secretaria de Segurança do estado. Nas unidades federais estão pelo menos 25 criminosos fluminenses, entre eles Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar; Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco; Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP; Cláudio José Fontarigo, o Claudinho da Mineira, e Leandro Paixão Viegas, o Leandro Quebra Ossos.

Duas facções criminosas podem ter se unido para organizar os confrontos, conforme informação de inteligência recebida pela secretaria de Segurança Pública. Ontem, Beltrame voltou a afirmar que os ataques são uma resposta dos criminosos às Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), mas ressaltou que haverá reação: ¿Quanto mais provocarem as nossas propostas, mais forças terão as nossas ações¿.

O discurso, porém, não evitou a imprensa internacional de noticiar, com destaque, a violência no Rio. Nos Estados Unidos, Washington Post, Los Angeles Times e Miami Herald reproduziram informações da agência Associated Press (AP). Os ataques também ocuparam as páginas na internet de veículos como El País (Espanha) e Guardian (Inglaterra). A capital fluminense não só será sede das Olimpíadas de 2016 como também vai abrigar a final da Copa do Mundo em 2014.

Sem aula Como forma de represália, ao longo do dia, cerca de 450 policiais ¿ 300 militares e 150 civis ¿ realizaram operações simultâneas nas comunidades Mandela I, II e III, Varginha, Nova Holanda, Arará, Parque União, Jacarezinho, Cutia, Encontro, Tuiuti, Barreira do Vasco, Vila Joaniza, Barbante, Fallet e Fogueteiro. O comandante geral da PM, coronel Mario Sérgio de Brito Duarte, desencadeou a Operação Fecha Quartel, que vai colocar nas ruas, cerca de 1.200 soldados que estavam em serviço burocrático. Todos irão reforçar o policiamento ostensivo, a fim de aumentar a presença policial nas ruas. Ontem, 300 novas motos foram colocadas no patrulhamento da região metropolitana.

As operações realizadas desde a segunda-feira deixaram pelo menos 7,3 mil estudantes sem aulas nas escolas municipais próximas aos locais onde a policia esteve presente. Ontem, dois carros da Polícia Militar foram alvejados por criminosos no bairro da Penha, mas não houve vítimas.