Título: Paes sai da sombra de Cabral e projeta-se no PMDB
Autor: Moura , Paola de
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2012, Especial, p. A16

Não raro, Eduardo Paes começa seus discursos afirmando ser a "pessoa mais feliz do mundo por governar a cidade mais maravilhosa de todas". Uma posição que, repete ele constantemente, desperta a inveja de políticos Brasil a fora. De fato, invejável foi a vitória que o manteve à frente da segunda maior cidade do país. Com 64,6% dos votos, Paes obteve a maior votação à Prefeitura do Rio desde a redemocratização. A distância de 36 pontos de vantagem sobre o segundo colocado é um ponto fora da curva na história política da cidade, conhecida por surpreender nas urnas políticos consagrados, como sua própria eleição em 2008 quando derrotou o ex-deputado Fernando Gabeira por apenas 1,6 ponto percentual.

A vitória do último domingo credencia o prefeito reeleito de 42 anos como uma das lideranças do PMDB, o livra definitivamente da sombra do governador Sérgio Cabral (PMDB), chamuscado pela investigação da CPI do Cachoeira contra a empreiteira Delta, e confirma sua posição de aliado político importante para o governo federal.

O prefeito que fala com orgulho do momento atual da cidade, foca seus discursos no futuro do Rio. Com um orçamento de R$ 20,4 bilhões em 2012, o Rio será, nos próximos quatro anos, palco da final da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Constantemente um lado humilde ao sempre reconhecer que ainda há muito trabalho por fazer na cidade. O prefeito afirma que os desafios pela frente são grandes. Sua nova administração, diz, vai priorizar obras de mobilidade e a saúde, além de prometer melhorar os resultados da Educação.

Os temas também são os calcanhares do prefeito. Na área de saúde, ainda há muitos problemas nos hospitais públicos. Constantemente a oposição acusa o prefeito de ter entregue as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e Clínicas das Famílias as Organizações Sociais, ou seja, de ter privatizado a saúde e da falta de médicos. E repete a informação do Ministério da Saúde de que o Rio teria o pior atendimento do país. Durante a campanha o prefeito disse que a saúde seria seu maior desafio e em suas primeiras entrevistas depois de eleito, Paes disse que o problema com pediatra é nacional e prometeu fazer concurso para contratar médicos.

Na Educação, o prefeito é acusado de não aplicar os 25% do orçamento previsto na legislação e que isso impactaria no resultado do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que já esteve entre os piores do Brasil em 2009, mais subiu em 2001. O prefeito promete por a cidade em primeiro lugar no ranking nacional.

A opção pelo BRT (ônibus rápido que circula em linhas exclusivas) também é fortemente criticada. Os opositores chegam a dizer que o prefeito teria feito um acordo com as empresas de ônibus, que administram o novo sistema, mas deveria ter optado por ajudar a expandir o Metrô. Em sua defesa, Paes diz que uma linha do trem custa pelo menos cinco vezes mais que a do BRT.

Iniciado na carreira política como subprefeito da Barra aos 23 anos, no governo César Maia, Paes já foi vereador e, por duas vezes, deputado federal. Em Brasília, teve papel de destaque nas denúncias do mensalão, quando chamou o ex-presidente Lula de chefe de quadrilha.

O político soube enxergar as oportunidades ao escolher seus aliados. No Rio, trocou o grupo de Maia, no final dos anos 90, pelo PSDB e, mais tarde, pelo governador Sérgio Cabral. Após concorrer contra ele ao governo do Estado em 2006, apoiou o peemedebista no segundo turno. Conquistou com isso a Secretaria de Esportes e Turismo e, dois anos depois, a indicação à prefeitura do Rio já pelo PMDB. Era a quarta vez em que mudava de partido depois de ter passado pelo PV, PFL, PTB e PSDB.

O apoio do governador foi fundamental para projetar Paes na disputa do primeiro mandato à Prefeitura do Rio. Naquela eleição, recebeu também o pesou também o apoio do então presidente Lula. As desavenças pelo episódio do mensalão estavam superadas.

Paes é um político que não tem receio em mudar de lado, mas que sabe afagar os aliados e padrinhos. No discurso da vitória que fez na Gávea Pequena, residência oficial do Prefeito, não poupou elogios ao governador Cabral, à presidente Dilma e ao ex-presidente Lula. E ainda ontem foi a Brasília e São Paulo, agradecer o apoio acompanhado por Cabral e pelo vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). A atitude mostra que a aliança com o governo federal interessa aos líderes fluminenses.

O próprio Lula já disse que valeu a pena pedir votos para Paes em 2008 e que faria isto novamente com convicção. Mas a presença do presidente nesta campanha se restringiu ao horário eleitoral. Mesmo assim, um dia depois de eleito, o prefeito visitou o ex-presidente em São Paulo para agradecer e a presidente Dilma em Brasília. Brincando, disse que "ia pedir um dinheirinho", e se dispôs até a ir fazer campanha por Fernando Haddad (PT)

De Lula, Paes afirmou ter aprendido a lição de "olhar para quem mais precisa". De fato, soube ser um prefeito também para as regiões mais pobres do Rio. Sua administração foi marcada por grandes intervenções nas zonas norte e oeste. Só no último ano, inaugurou o BRT Transoeste, linha expressa de ônibus que cruza a zona oeste da Barra a Campo Grande, e o Parque de Madureira, uma área verde de 103 mil metros quadrados no bairro de mesmo nome. O parque foi o palco da festa da vitória. "Se o Rio fosse um corpo, Madureira seria o coração pulsante", rasgou-se o prefeito em mais um discurso improvisado que na maioria das vezes visa agradar a plateia, seja ela em um bairro da Zona Norte ou a um grupo de empresários investidores.

Trabalhador, tem fama de começar às 7h e só ir para cama por volta das 2h, reclamam alguns secretários convocados constantemente para reuniões na madrugada. Paes também se mostrou bastante presente na cidade, mesmo em momentos difíceis, como a queda dos edifícios na Cinelândia ou a explosão de um restaurante no Centro. Também soube recuar de medidas extremas como proibição de vender cocos e mate de latão na praia, produtos de consumo tradicional do carioca.

No discurso de vitória, Paes reafirmou não pretender deixar a Gávea Pequena para disputar o Palácio Laranjeiras, sede do governo estadual, em 2014. "Vou entregar a bandeira Olímpica no Maracanã em 2016".