Título: Lula pode ampliar base de apoio nos Estados
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Política, p. A5

As últimas pesquisas eleitorais nos Estados indicam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se reeleito, terá um maior número de governadores aliados do que em 2002, e a oposição, concentrará em suas mãos quatro dos Estados mais endividados do país, em termos absolutos e proporcionais: o Rio Grande do Sul (onde a candidata tucana Yeda Crusius mantém-se favorita), além de São Paulo, Minas Gerais e Alagoas, onde as eleições já foram vencidas pelo PSDB.

No Nordeste, a situação de Lula é mais confortável do que em 2002. Além dos aliados na Bahia (PT) e no Ceará (PSB), o tripé da aliança governista no Nordeste deve ser completado no segundo turno com a eleição de Eduardo Campos (PSB), em Pernambuco. Em 2002, a oposição elegeu os governadores dos três Estados.

O levantamento do Valor considerou indefinidos os Estados com pesquisas conflitantes- o caso do Pará e do Maranhão- ou onde a vantagem do primeiro colocado está dentro da margem de erro, situação presente na Paraíba e no Rio Grande do Norte. Se o PT ganhar no Pará, onde a eleição está rigorosamente indefinida, aliados do presidente terão o comando quase integral das regiões Norte e Nordeste.

. O PMDB caminha para controlar pelo menos sete governos estaduais, dois a mais do que conseguiu em 2002. O PSDB, que triunfara há quatro anos em nove Estados, pode terminar com cinco. O PT, que elegera três, fica com pelo menos quatro.

Quando se avalia o peso eleitoral e econômico dos Estados, o País deve sair do processo eleitoral com um quadro semelhante ao de 2002. A geopolítica partidária segue a ordem de quatro anos atrás. O PSDB, que ganhou a eleição em 2002 em Estados que representavam 49% do PIB e 47% do eleitorado nacional, hoje caminha para ter 50,1% do PIB e 40,9% do eleitorado, considerando a hipótese de vitória de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. Este quadro pode se ampliar para 52,9% da economia nacional e 46,2% dos votantes se o partido vencer na Paraíba e Pará.

O PMDB também preserva o segundo posto na geopolítica partidária. Perdeu Pernambuco, Distrito Federal e Rio Grande do Sul e não garantiu a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Mas deve ganhar no Rio de Janeiro. O partido subiria de 23,7% do PIB nacional sob sua influência para 27,6% e de 21,5% do eleitorado para 22%. Se ganhar nos dois Estados onde disputa com chances, vai a 29,5% do PIB e 25,6% dos votantes.

A Bahia fez a diferença para que PFL e PT invertessem as posições como forças terciárias. Os pefelistas correm o risco de terminarem com um único governador: José Roberto Arruda, do Distrito Federal, com 2,4% do PIB nacional e 1,3% do eleitorado. O PT somará 6,2% do PIB nacional e 10% dos votantes, se não ganhar no Pará. Ficará com, no mínimo, quatro governadores, ante os três que conseguiu em 2002.

O peso da dívida não é o único fator para atenuar a força do poder regional tucano. Os governadores são uma força em declínio. "Não existem mais os antigos barões da federação. Governadores como Aécio Neves, José Serra e Jaques Wagner terão força política não em suas bancadas estaduais, mas dentro dos seus partidos, o que favorece o PT em detrimento do PSDB, já que a força dos tucanos nos Estados não se reproduziu no Congresso, onde está a principal arena política", diz o cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj.

Para Nicolau, "a última safra de governadores decisiva no jogo político foi a de 1982, quando expressavam o Poder Executivo eleito pelo voto direto, em um contexto de transição". O cientista político relaciona para explicar o declínio fatores institucionais, como a retirada de atribuições feita pela Constituição de 1988, e econômicos, com as privatizações e a renegociação das dívidas estaduais que teve lugar na década de 90.

Ainda assim, o resultado será importante para a definição das posições iniciais dos competidores para a sucessão presidencial de 2010. Uma reviravolta no Rio Grande do Sul, com a derrota tucana e a vitória do petista Olívio Dutra, representará um sucesso estrondoso do PT, sobretudo se acompanhado de um êxito de Ana Júlia Carepa no Pará. Se esta combinação de probabilidades ocorrer, será o melhor resultado do partido em toda sua história.

A provável vitória de Yeda Crusius colocaria o PSDB no comando dos estados com maior tradição política do país. Partiram do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Alagoas 23 dos 30 presidentes que o Brasil já teve.

"O Rio Grande do Sul joga um papel estratégico pelo que representaria dentro do PSDB, sempre ausente na região Sul, pela influência política que o Estado tem no Brasil e pelo seu peso eleitoral e econômico em si", comentou Jairo Nicolau. Yeda Crusius ainda conta com uma dianteira grande nas pesquisas, mas sua situação não é mais tranqüila: há sinais de uma mudança de clima no Estado contra a tucana, com tendência de queda do PSDB e de alta do PT.

A eleição de Jaques Wagner, para Nicolau, pode ser caracterizado como o movimento eleitoral mais importante este ano nos Estados. O novo governador baiano era o coordenador político do governo Lula e pode exercer um papel crucial para consolidar a ligação entre o PT e o PSB, que deve consolidar sua inserção no Nordeste com a possível eleições de três governadores.

A região poderá ser um bloco quase monolítico de apoio ao governo federal. Dependendo da combinação de resultados, o novo governador alagoano Teotônio Vilella Filho (PSDB) poderá ser o único governante oposicionista em todo o Nordeste.