Título: Olívio reduz a distância para Yeda na reta final
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Política, p. A6

A situação que no início da corrida ao segundo turno parecia definida em favor da candidata do PSDB, Yeda Crusius, ao governo do Rio Grande do Sul, pode não ser mais tão tranqüila e se transformar em uma disputa bem mais apertada. As diferentes pesquisas de intenção de voto divulgadas no Estado ainda mantêm a tucana na dianteira, mas também indicam uma redução acentuada na vantagem sobre Olívio Dutra (PT), em linha com o que ocorre com a diferença entre os candidatos dos dois partidos, Geraldo Alckmin e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à Presidência da República.

Coligada com o PFL, Yeda teve o melhor desempenho no primeiro turno, com 32,9% dos votos, contra 27,39% de Olívio, e em seguida conseguiu o apoio do PP, do PTB e do PMDB, que ficou em terceiro lugar com 27,12% dos votos para o governador Germano Rigotto, então candidato à reeleição. Embalada ainda pelas pesquisas que chegaram a lhe atribuir dois terços dos votos válidos, a tucana teve uma arrancada bem melhor do que Olívio, que além do PCdoB, com o qual estava coligado desde o início, obteve apenas a adesão adicional do PSB.

Como resposta, o petista tratou de reforçar a presença dos militantes nas ruas e pegou carona na ascensão de Lula. Olívio já chega a ostentar 46,7% das intenções de votos (válidos) na pesquisa divulgada ontem pelo instituto Methodus (o único que previu a vantagem de Yeda no primeiro turno), depois que o presidente-candidato, favorito na corrida ao Palácio do Planalto, disse durante comício na região metropolitana de Porto Alegre, no fim da semana passada, que com a vitória do PT na eleição local o governo federal poderá "ajudar muito mais" o Estado.

A cena vem sendo apresentada nos programas do partido na televisão, nos quais Olívio também promete reduzir impostos para a agricultura e setores que geram mais empregos. O PT ainda acusa Yeda de pretender privatizar estatais e de ter votado a favor de incentivos fiscais federais para a instalação, na Bahia, da fábrica da Ford que deixou de ser construída no Rio Grande do Sul depois que o governo do próprio Olívio (1999-2002) tentou rediscutir os benefícios concedidos à empresa pela administração anterior.

O tema virou mito e também é explorado no programa da candidata do PSDB, que acusa o PT de ter "mandado a Ford embora" e afirma que agora a Toyota só está esperando pelo resultado da eleição para ver se implanta ou não no Estado a nova unidade que prevê para o Brasil. Outra estratégia da tucana é se mostrar preparada para aplicar um choque de gestão e enfrentar a crise das finanças públicas estaduais e lembrar que terá melhores condições de governar porque contaria com o apoio de 36 dos 55 deputados eleitos para a Assembléia Legislativa.

Agora, depois das promessas e acusações de parte a parte, Yeda caiu de 63,5% dos votos válidos na segunda semana de outubro para 53,3% na pesquisa divulgada ontem pelo Methodus. Com isso, a diferença sobre o petista diminuiu de 27 para 6,6 pontos, já perto da margem de erro de 2,3 pontos para mais ou para menos. Tendência semelhante foi detectada pelo jornal "Correio do Povo", que entre a segunda e a terceira semana do mês indicou um recuo de 66,6% para 59,2% nos votos válidos para a tucana e de 33,2 para 18,4 pontos na vantagem sobre Olívio. Hoje o jornal publica novo levantamento e a expectativa é que a diferença caia ainda mais.

Yeda está em situação mais confortável de acordo com o Ibope, que dá a ela uma margem de 20 pontos sobre o adversário na pesquisa divulgada ontem, mas no início do mês a diferença era de 36 pontos. A curva dos candidatos ao governo acompanha o movimento observado no desempenho dos presidenciáveis no Estado. Considerando-se todas as pesquisas já divulgadas, Alckmin partiu do pico de 65,1% dos votos válidos (segundo o "Correio do Povo") e baixou para até 53,3% (Methodus). Já Lula subiu do piso de 34,9% para até 46,7% (igual ao índice de Olívio), conforme os dois institutos, respectivamente.

No comando da campanha de Yeda os números já provocam a convicção de que a eleição será decidida "voto a voto", diz o coordenador Sérgio Camps de Moraes. "É uma tradição no Rio Grande do Sul", explica. Nesta semana a candidata tucana cancelou participações em algumas caminhadas e em dois debates em emissoras de rádio porque estava afônica mas nos próximos dois dias ela deve concentrar a campanha na região metropolitana de Porto Alegre.

No PT, a ordem é trabalhar para "acelerar a queda" da tucana, diz o coordenador da campanha, Miguel Rossetto, que concorreu ao Senado, mas foi derrotado pelo peemedebista Pedro Simon. Segundo ele, tanto Olívio quanto Lula foram favorecidos pela "polarização" da disputa no segundo turno, o que dá "mais clareza" aos projetos de cada lado em pontos como desenvolvimento e políticas sociais. Hoje e amanhã o candidato petista percorre cidades do interior com maior densidade eleitoral, como Caxias do Sul, Pelotas e Rio Grande.