Título: No Rio, Cabral amplia alianças e tem vantagem de 26 pontos
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Política, p. A6

Uma ampla aliança de centro-esquerda costurada, no segundo turno, pelo candidato do PMDB ao governo do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, permitiu que ele chegasse às eleições de domingo com 26 pontos percentuais de vantagem sobre a adversária Denise Frossard (PPS) na contagem dos votos válidos, segundo a última pesquisa Datafolha. No primeiro turno, esta diferença foi de 17,6 pontos percentuais. Cabral obteve 41,4% dos votos válidos e Denise, 23,8%.

Além dos nove partidos que integram a coligação do senador, Cabral também recebeu o apoio da maioria dos adversários políticos derrotados em 1º de outubro, surpreendendo Denise, que esperava pelo menos a adesão do senador Marcelo Crivella (PRB) à sua candidatura. Apesar de o PDT ter optado pelas neutralidade nas eleições estaduais, parte dos vereadores e das bancadas federal e estadual também anunciou apoio a Cabral.

O mesmo ocorreu com alguns integrantes do PSDB, como o candidato derrotado Eduardo Paes e o deputado federal eleito Sílvio Lopes. Mas a desistência dos tucanos não foi a única baixa enfrentada por Denise na reta final da disputa. A candidata também perdeu o apoio da vereadora Aspásia Camargo, do PV, partido que integra a sua coligação (PPS-PFL-PV).

Até mesmo o PT anunciou apoio a Cabral na segunda etapa do pleito. A costura da aliança teve como principal interlocutor o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A necessidade de um palanque no Rio fez com que o presidente, que concorre à reeleição, apostasse as fichas numa aproximação com Cabral. As negociações foram intermediadas pela coordenadora da campanha de Lula, no Rio, Benedita da Silva.

Desde então, Cabral tem explorado exaustivamente, na TV, a possibilidade de uma parceria com o governo federal para melhorar os serviços nas áreas de saúde e segurança pública, por exemplo. Até mesmo os jogos Pan-Americanos de 2007, uma das principais bandeiras do prefeito do Rio, Cesar Maia, aliado de Denise, passaram a fazer parte do discurso do senador. Cabral não se cansa de citar os investimentos da União nos jogos e ressalta que o Estado ainda pode contribuir muito para o evento.

Para Denise, Cabral conseguiu costurar as alianças na base do "toma lá, dá cá". "Se isolamento é ficar longe do toma lá, dá cá, estou isolada. Estou isolada com o povo. Toma lá, dá cá, foi o que a gente viu nos últimos 12 anos e em 1998, quando todo mundo apoiou o Garotinho." O senador tem reagido às declarações da candidata, sustentando que os apoios de Crivella, de Vladimir Palmeira (PT) e de Eduardo Paes (PSDB), não foram condicionados a promessa de cargos futuros num eventual governo.

Na avaliação do cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o segundo turno das eleições "produziu no Rio o que todos achavam que fosse impossível: a união das esquerdas em torno de um candidato liberal". "Sérgio é um político do Estado. Construiu uma carreira política. Está preparado. Denise é uma novidade, mas não conseguiu apresentar nada (propostas). Ela não esperava que fosse para o segundo turno", disse ele.

Durante as três semanas de campanha, os dois candidatos dedicaram-se à gravação de programas eleitorais para o rádio e a televisão. Também fizeram um périplo por cidades da região metropolitana e do interior do Estado, na tentativa de conquistar os votos dos eleitores ainda indecisos.

Niterói, quinto maior colégio eleitoral do Estado, é disputado voto a voto pelos dois candidatos. A cidade, juntamente com o Rio de Janeiro, foram os dois únicos municípios do Estado em que Denise derrotou Cabral no primeiro turno. Com o apoio do prefeito de Niterói, Godofredo Pinto, do PT, o senador espera mudar esse quadro no segundo turno, enquanto Denise quer reafirmar sua vantagem.

Nesta segunda fase da disputa, Denise centrou as críticas na diversidade das alianças do adversário e mais uma vez procurou associar Cabral ao casal Garotinho. Sergio, por sua vez, procurou qualificar a candidata como despreparada para chegar ao governo.

Com 26 pontos de vantagem sobre adversária, segundo a última pesquisa do Ibope, Cabral promete que, se eleito, promoverá uma reengenharia nos métodos administrativos do Estado. Em entrevista ao jornal "O Globo" ele explicou que a primeira tarefa será arrumar a casa. "Reestruturar o organograma começa antes da posse, com redução de 50% das secretarias. Um redesenho gerencial do Estado, diminuindo a verticalização entre o secretário e a ponta, para haver participação maior e menor hierarquia. E reduzir cargos", afirmou o senador, na ocasião. (Colaborou Heloisa Magalhães)