Título: Haddad tentará reeditar aliança de Dilma em São Paulo
Autor: Cunto, Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2012, Política, p. A16

Com a ida de Fernando Haddad (PT) ao segundo turno das eleições em São Paulo contra o tucano José Serra, virada obtida no dia da votação, o PT retoma hoje a campanha com a estratégia de reproduzir na capital paulista o mesmo arco de alianças que sustentam em Brasília o governo da presidente Dilma Rousseff e que foi quebrado com as candidaturas própria de PRB, PMDB e PDT.

Os três partidos possuem assento na Esplanada dos Ministérios e serão procurados em busca de apoio contra Serra, na tentativa de nacionalizar a eleição. "Será uma nova campanha. Vai ser um debate programático contra quem se opôs ao projeto de Lula e de Dilma", disse ontem o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

A reedição da aliança nacional, porém, não deve alterar o foco do discurso: a oposição à atual gestão, do mal avaliado prefeito Gilberto Kassab (PSD), que tem Serra como seu candidato. Logo no discurso de agradecimento pelos votos e apoios recebidos, Haddad disse que a cidade mostrou nas urnas a vontade de mudança e, ao comparar-se com Serra, afirmou que representará esse sentimento no segundo turno.

Para fortalecer esse discurso, o PT pretende contactar, a partir de hoje, lideranças dos partidos que também apresentaram-se como mudança ao atual prefeito. Com esse objetivo, os petistas procurarão o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer; o ministro do Trabalho, Brizola Neto (PDT), e seu antecessor na Pasta, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT; e o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB).

É com este último partido, o PRB, que será dispendido o maior esforço. Primeiro porque, neste cenário contra Serra, é natural que PMDB e PDT caminhem sem maiores dificuldades para a candidatura Haddad. Durante a campanha no primeiro turno, os candidatos desses partidos -respectivamente Gabriel Chalita e Paulo Pereira da Silva- foram amistosos com o petista na mesma proporção com que foram agressivos contra o tucano.

Por outro lado, Haddad e o candidato do PRB, Celso Russomano, protagonizaram ataques mútuos, em especial na reta final da campanha. E petistas do porte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Cultura, Marta Suplicy, também entraram no embate. Lula classificou Russomano de "raposa à espreita da galinha". Marta disse que era um "lobo em pele de cordeiro".

Ontem, no evento para comemorar a ida de Haddad ao segundo turno, Marta voltou a atacar Russomanno. "O pior dos candidatos já foi descartado. Agora vai o segundo pior para o segundo turno. O Russomano fez um monte de críticas ao Bilhete Único Mensal e eu, com a credibilidade de quem fez o Bilhete Único, entrei para falar que funcionaria sim. Depois o Russomano começou a se enforcar com as própria cordas, inventou um programa [de transporte] que era um desastre", disse

O mesmo bem-sucedido esforço que o PT fez para desconstruir Russomano será necessário para reconstruir pontes com o candidato, que, mesmo com a queda, conquistou votos em redutos do partido e será um importante cabo eleitoral no segundo turno.

Alguns aspectos tornam mais fácil essa tarefa. O principal é a boa relação que o PT -Lula, no caso- sempre teve com os próceres do PRB. José Alencar, seu vice-presidente durante todo o mandato, morreu estando filiado à legenda, para onde migrou em 2005. Durante esse período, Lula teve grande aproximação com o bispo Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, que comanda o PRB.

Assim, o PT aposta que o eleitor de Russomano é muito mais evangélico e ex-petista do que de Russomano em si, e que as boas relações de Lula com a cúpula da sigla irão facilitar a aproximação com o candidato que liderou as pesquisas até a última semana da campanha. Pesa contra a aliança, porém, a avaliação feita por petistas de que será difícil atrair o PTB, que indicou o vice de Russomanno - o candidato do PRB disse que ambos permanecerão unidos no segundo turno.

Embora integre a base de Dilma, o PTB é mais alinhado ao PSDB em São Paulo - o presidente estadual da sigla, Campos Machado, que coordenou o núcleo político da campanha de Russomanno, é aliado de primeira hora do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Em outra frente, setores petistas querem uma reorganização da estrutura interna da campanha para evitar os problemas que tiveram no primeiro turno. O maior alvo de críticas foi o marqueteiro João Santana, que conduziu seu trabalho, segundo petistas, sem abertura e diálogo com integrantes do PT.

Também partiu de Santana a orientação de focar a campanha na classe média e ignorar o "fenômeno Russomano", que roubou o eleitorado petista. Na reta final, após intervenção de Lula, a estratégia foi revertida e as ações de campanha tiveram por alvo a periferia da cidade, além de ataques ao então líder das pesquisas, Russomano.