Título: Campos já pensa na eleição presidencial de 2010
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Política, p. A8

O palanque que o candidato ao governo de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) reuniu no Recife para o encerramento da campanha, anteontem, reflete suas pretensões políticas futuras. Lá estavam dois governadores eleitos do Nordeste, Marcelo Déda (PT-SE) e Cid Gomes (PSB-CE), além do ministro da Defesa, Waldir Pires. Com 65% das intenções de voto no Estado, Campos já começa a pensar em fazer de seu mandato como governador um trampolim para a disputa presidencial. Daí porque traz para seu palanque figuras que ultrapassam as fronteiras de Pernambuco.

Caso daqui a quatro anos o PT tenha de buscar fora de seus quadros um sucessor para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Campos quer se apresentar como uma das alternativas. Ele sabe, entretanto, que seu colega de partido Ciro Gomes também tem a estima de Lula. Dentro dessa estratégia de se projetar nacionalmente, Campos começou a remontar mais a seu falecido avô, Miguel Arraes, que alcançou expressão nacional, principalmente em seu primeiro governo, pré-golpe de 1964.

No comício de anteontem, falava-se amplamente que a vitória de Campos serviria para "vingar" a derrota que Arraes sofreu em 1998 contra Jarbas Vasconcelos (PMDB) para o governo do Estado. Naquela época, a diferença de votos entre os dois candidatos foi de um milhão de votos, soma que pode se repetir no domingo contra o governador Mendonça Filho (PFL).

É a primeira vez em 20 anos que a disputa em Pernambuco se dá sem a presença dos dois maiores ícones políticos do Estado: Arraes e Jarbas. Porém ambos tiveram influência no processo eleitoral. Morto há um ano, o avô de Campos foi referência constante de sua campanha. Onde o candidato passa, as pessoas se referem a ele como o "neto de Arraes" e mostram as fotos que carregam do ex-governador.

"O fato de Arraes ter morrido no ano passado até tornou a presença dele mais forte", avalia Marcus Melo, professor do núcleo de opinião e políticas públicas da Universidade Federal de Pernambuco. Mas não foi apenas a memória do avô que contou a favor de Campos. No interior do Estado, o candidato do PSB conseguiu o apoio da maioria dos prefeitos, bem ao estilo de Arraes que sabia capturar políticos dissidentes.

"Campos foi formado dentro de casa. O avô teve o cuidado de passar lições para a formação dele", diz Tânia Bacelar, sócia da consultoria Ceplan e secretária da Fazenda e de Planejamento do governo Arraes. O candidato do PSB foi chefe de gabinete e secretário da Fazendo do governo Arraes. Em seu programa de governo, Campos levanta algumas bandeiras sustentadas pelo avô, como a interiorização do desenvolvimento. O candidato quer levar escolas técnicas e água ao sertão e ao agreste de Pernambuco.

Jarbas, eleito senador por 53% dos eleitores, também apadrinhou Mendonça, mas, até o momento, sem conseguir transferir seu sucesso nas urnas. Em todos os eventos da campanha o político esteve ao lado do afilhado, ajudando inclusive na montagem da estratégia de campanha, que mostrava à população que Mendonça daria continuidade à política do senador eleito.

"Parece que a população mostrou sua gratidão a Jarbas o elegendo, mas não votando em Mendonça", avalia José Arlindo Soares, sociólogo professor da Universidade Federal da Paraíba e suplente de Jarbas no Senado. Mendonça, segundo a última pesquisa do Ibope, tem 33% das intenções de votos totais. Caso esse cenário se confirme, será a terceira vez consecutiva que Jarbas não consegue eleger o candidato que apóia.

Além do apoio dos ícones da política pernambucana, Campos também ganhou com o fato de ser o candidato apoiado pelo presidente Lula, a quem agora ele sonha suceder.