Título: Russomanno evita declarar seu apoio
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2012, Política, p. A17

Líder nas pesquisas de intenção de voto, mas derrotado nas urnas no primeiro turno, o candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB), evitou anunciar ontem quem apoiará no segundo turno. Russomanno ficou em terceiro lugar, com 21,6% dos votos válidos (1,32 milhão), e afirmou que a decisão será tomada hoje, em conjunto com o PTB de seu vice Luiz Flávio Borges D"Urso. O PRB faz parte da base do governo da presidente Dilma Rousseff e comanda o Ministério da Pesca. Já o PTB é alinhado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). A "tendência natural", segundo o presidente do diretório municipal do PRB e tesoureiro da campanha, Aildo Ferreira, é apoiar o candidato do PT, Fernando Haddad.

Alvo de ataques do PT e do PSDB, Russomanno disse que a partir do resultado das urnas "zera tudo". O candidato conversou na noite de ontem com Fernando Haddad e com José Serra (PSDB), mas não quis declarar em qual palanque subirá - e se subirá em algum palanque. Segundo o tesoureiro da campanha, é possível que PRB e PTB sigam caminhos distintos no segundo turno. Russomanno, no entanto, evitou demonstrar divergências em relação ao PTB. "Agora nós somos um grupo político".

Russomanno atribuiu a desidratação de sua campanha ao fato de ter pouco tempo de televisão (2min11s). Haddad e Serra tinham pouco mais de sete minutos e meio. "[Os adversários] tinham três vezes mais comerciais do que a gente tinha", declarou. O candidato negou que o problema tenha sido a proposta polêmica de cobrar a tarifa de ônibus de acordo com o trajeto percorrido. Os oponentes do candidato do PRB, em especial Haddad e Gabriel Chalita (PMDB), atacaram a proposta e disseram que o projeto prejudicaria os mais pobres, que vivem na periferia, longe do trabalho.

O presidente do diretório municipal, no entanto, sinalizou que a proposta foi o que prejudicou o candidato. "Foi pior do que a tentativa de vincular a campanha com a Igreja Universal do Reino de Deus, que não colou", comentou. Sem programa de governo, o candidato perdeu doze pontos percentuais em dezessete dias, segundo o Datafolha, depois que sua proposta começou a ser atacada.

Russomanno concedeu uma entrevista ontem ao lado do presidente nacional do PRB e coordenador da campanha, Marcos Pereira, do coordenador político da campanha, deputado Campos Machado, e do vice D"Urso. Hoje os dois partidos debaterão o que farão no segundo turno.

Apesar da participação do PRB no governo Dilma, com o senador licenciado e ministro Marcelo Crivella (Pesca), Campos Machado é aliado antigo de Alckmin, de quem foi vice em 2008 na disputa pela prefeitura paulistana. A relação de Machado com Serra, no entanto, foi tumultuada quando o tucano comandou o governo do Estado (2007-2010).

O apoio do próprio candidato ainda é indefinido. Russomanno já foi do PFL (atual DEM) e do PSDB e mantém boas relações com os tucanos. Em 2004, quando estava no PP e presidia o diretório municipal do partido, contrariou a orientação da cúpula nacional e declarou apoio a José Serra. Naquele ano, o PP nacional queria Marta Suplicy (PT). Nesta eleição, filiado ao PRB, o postulante escolheu como alvo o candidato do PT, a quem chamou de mentiroso, e poupou Serra.

Se decidir apoiar o PT, Russomanno terá de aparar as arestas criadas com Haddad durante a campanha. Serra também criticou o candidato do PRB e colocou em xeque a capacidade dele de governar. A campanha tucana associou Russomanno ao ex-presidente Fernando Collor de Mello e ao ex-prefeito Celso Pitta.

Russomanno só começou a ser atacado na campanha nas duas últimas semanas. O petista e o tucano polarizaram a disputa e deixaram o caminho livre para o candidato do PRB crescer. O postulante já era conhecido por sua atuação como repórter e apresentador de televisão e aproveitou-se do desconhecimento por parte do eleitor do candidato do PT e da alta rejeição do candidato do PSDB para consolidar-se na liderança das pesquisas. Em junho, tinha 24% e foi para 31%, no início do horário eleitoral, e chegou a 35% em setembro, segundo o Datafolha. O cenário mudou a duas semanas das eleições, quando o petista e o tucano tentavam garantir seu lugar para o segundo turno e partiram para o ataque contra Russomanno. O candidato do PRB caiu para 23%.

Apesar da derrota na disputa pela prefeitura, a coligação PRB-PTB passou de quatro para seis vereadores na capital: dois do PRB e quatro do PTB. Em 2008, o PRB elegeu apenas um e o PTB, três. O candidato, no entanto, não conseguiu eleger seu irmão Mozart Russomanno (PRB). O outro irmão do candidato, vereador Átila Russomanno (PP), postulante pela coligação de Haddad, não se reelegeu.