Título: Prisões caem mais de 50% em relação às últimas eleições municipais
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Fonte: Valor Econômico, 18/10/2010, Política, p. A18

Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, do TSE: "As eleições se tornaram mais calmas, os problema foram pontuais"

A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, avaliou que as eleições deste domingo foram mais tranquilas do que as anteriores. Segundo ela, houve pouco mais de duas mil prisões neste ano. O número é menor do que nas eleições gerais de 2010, quando houve quase 3,5 mil pessoas presas e do que nas últimas eleições municipais, em 2008, quando houve mais de cinco mil detenções.

"As eleições se tornaram mais calmas", disse a ministra. "Houve situações pontuais, mas, em geral, tudo transcorreu num clima de absoluta normalidade."

Cármen Lúcia também elogiou a rapidez nas apurações. A ministra lembrou que, sete minutos após o fechamento das urnas, o Brasil já conhecia o primeiro prefeito eleito. Foi Euzébio do PP na cidade de Pinheiro Preto, no interior de Santa Catarina. O segundo prefeito foi conhecido dois minutos depois: Clóvis Buzatto (PMDB) de Ibiam, que também fica no interior catarinense. "A apuração foi numa rapidez impressionante."

A ministra pode comemorar agora o bom encaminhamento das eleições, depois de um trabalho intenso nos bastidores, evitando que pelo menos quatro paralisações grevistas atrapalhassem as eleições.

O maior desafio para Cármen Lúcia partiu da própria Justiça, onde servidores estão fazendo paralisações constantes nos últimos três anos por causa da ausência de reajuste salarial e tentaram utilizar o período eleitoral para reforçar o seu movimento. Em janeiro, antes mesmo de tomar posse no comando do TSE - o que só aconteceu em 18 de abril deste ano -, Cármen Lúcia recebeu servidores grevistas interessados em fazer novas paralisações às vésperas das eleições como forma de pressionar o governo a conceder os aumentos. A ministra disse que também era funcionária pública e entendia a reivindicação deles, mas bateu o pé e de maneira firme respondeu que tinha uma eleição para fazer.

A eleição, segundo a ministra, é muito mais importante que qualquer reivindicação salarial. Em mais de uma ocasião, ela explicou aos servidores que eventuais paralisações em meio às eleições desmoralizariam o movimento grevista. Mas, para que eles fossem atendidos, negociou com o governo o que pôde para os servidores e conseguiu um aumento de praticamente 100% nos salários deles durante o período eleitoral a título de hora extra. Após conversar com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, com a Presidência da Republica e com o presidente do Senado, José Sarney, a ministra obteve R$ 84 milhões de suplementação orçamentária para a Justiça Eleitoral. Foi esse aumento "extra" que evitou as paralisações da Justiça durante as eleições e ainda fez de Cármen Lúcia uma espécie de heroína dos grevistas. Em viagem recente a Maceió para visitar a Justiça local, ela foi recebida com uma faixa: "Ministra Cármen Lúcia, obrigado pelo apoio! Nós garantimos que a eleição vai se realizar".

A presidente do TSE também negociou pessoalmente com a direção da Polícia Federal e com as Forças Armadas - setores responsáveis pela segurança nas eleições. Ela explicou tanto ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, quanto aos sindicatos dos delegados que é fundamental garantir a realização das eleições, havendo greve ou não. Essa foi a segunda paralisação que ela conseguiu suspender em nome "do processo democrático".

Numa reunião para definir estratégias com o Comando do Exército, um general disse à ministra que a mulher dele assiste às sessões do mensalão na TV Justiça e comentou que ela precisava descansar um pouco, pois estaria "acabada". O episódio deixou o ministro da Defesa, Celso Amorim, sem graça, mas revelou outro traço marcante da ministra: ela se dedica de maneira minuciosa às suas tarefas, mesmo que isso a leve a situações extremas de esgotamento físico e mental.

Cármen Lúcia acorda por volta das 5h, almoça pouco, lê muito e faz sessões noturnas no TSE que podem ir até a meia-noite. Nos últimos meses, ela dividiu esse trabalho no TSE com as sessões do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), onde tem se destacado por condenar os políticos envolvidos naquele escândalo ao mesmo tempo em que pede para que os seus votos não sejam interpretados como descrença na política de maneira geral. Nesse período ela reduziu muito o descanso e não conseguiu sequer viajar a Espinosa no interior de Minas Gerais para o aniversário de 94 anos de seu pai, em 2 de setembro.

Nas reuniões com diretores dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), Cármen Lúcia quer saber a respeito de todos os problemas que podem acontecer nas eleições em cada uma das regiões do país. Ela é detalhistas, pergunta em quais cidades podem ocorrer problemas com urnas, com baterias ou falta de luz. Segundo um assessor, a ministra se envolveu pessoalmente na "operação de guerra e logística" que é a realização das eleições em mais de cinco mil municípios nos 26 estados da Federação. Ela visitou 15 estados e lamenta não ter ido a mais locais.

Para evitar que os apagões de energia prejudiquem as eleições, o TSE montou um Comitê de Emergência ao lado da sala da ministra. Lá, há um representante do Operador Nacional do Sistema (ONS), outro de Furnas, alguns de companhias telefônicas, além de integrantes das agências nacionais de energia (Aneel) e de telecomunicações (Anatel).