Título: Rio ocupa novas favelas e prepara mais uma UPP
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Fonte: Valor Econômico, 15/10/2012, Brasil, p. A2

Depois da ocupação ocorrida na madrugada de ontem, os complexos de favelas de Manguinhos e Jacarezinho, na zona norte do Rio, vão ser reestruturados pelo Estado, informou o governador Sergio Cabral. De acordo com ele, serão investidos R$ 100 milhões em infraestrutura, para a desapropriação de imóveis e construção de apartamentos.

O governador explicou que já foi feito contrato de empréstimo com o Banco do Brasil para a construção de 9 mil apartamentos na região. Cabral também anunciou a desapropriação da Refinaria de Manguinhos que, segundo ele, "há muito tempo não refina nada e serve só para a estocagem de etanol". Ele informou que, até o fim do ano, será construído um cineteatro com 250 lugares e cinema 3D na Praça da Cidadania do Jacarezinho, onde já existe uma biblioteca com 27 mil livros e 5.500 sócios. Os dois complexos ocupados hoje abrigam cerca de 70 mil pessoas.

A ocupação, por cerca de 1.300 homens das forças de segurança, foi bem recebida pelos moradores, que pedem melhorias sociais para as comunidades, principalmente habitação e saneamento. Embora o receio de falar com a imprensa ainda perdure, aos poucos as pessoas vão dizendo o que pensam da presença dos policiais, com o objetivo de instalar a 29ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

"Eu levanto as mãos aos céus. Criei os meus três filhos aqui em Manguinhos. Isso era muito ruim. Agora acho que vai melhorar", disse uma moradora, que trabalha como acompanhante de idosos e se identificou apenas como Maria, enquanto passava em frente aos blindados dos fuzileiros navais usados na operação.

Para a auxiliar de serviços comunitários Rosângela França, que trabalha na limpeza urbana em Manguinhos, não basta só a presença da polícia. "Não é só isso. É preciso urbanizar para as crianças poderem brincar. Aqui tem três campos de futebol, mas quando chove alaga tudo", disse ela. A cozinheira Rosilda Oliveira Machado também pede melhorias: "Tem que ter gente do serviço social para nos ajudar depois. Senão vai continuar a mesma coisa".

Nas comunidades de Manguinhos, Jacarezinho, Mandela e Varginha é comum ver quantidades enormes de lixo espalhadas pelas áreas livres, onde se cria galinhas e porcos junto aos detritos, em meio à lama e ao esgoto que transborda pelas vielas. Sem alternativas, o espaço acaba sendo o único local para as crianças brincarem, o que provoca inúmeras doenças infecciosas, principalmente de pele e do sistema digestivo. Segundo números divulgados pela prefeitura do Rio, Manguinhos e Jacarezinho estão nas últimas posições no ranking dos bairros da cidade, tomando por base o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De um total de 126 bairros, Jacarezinho está em 121º e Manguinhos em 122º.

Na última semana, as polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro fizeram operações preparatórias à ação de ontem, chamada Dia D da Operação Pacificação Manguinhos. Foram ações de cerco, busca e apreensão em comunidades como Juramento, Chapadão e Antares. Em três dias, a Polícia Militar deteve 33 suspeitos e duas dezenas de armas.

As operações preparatórias e de investigação das forças de segurança foram o diferencial da operação que culminou com a ocupação das comunidades dos complexos de Manguinhos e do Jacarezinho, segundo afirmação do secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame. De acordo com ele, a ocupação ocorreu em tempo recorde (20 minutos) graças ao grande esforço de todas as corporações envolvidas

As unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) começaram a ser instaladas em 2008, no Rio de Janeiro, na tentativa de aproximar a população e a polícia, fortalecendo as políticas sociais nas comunidades, segundo as autoridades fluminenses. O esforço é para recuperar os territórios ocupados por traficantes e milicianos. No total, com a operação de ontem, serão 29 UPPs instaladas no Rio.

A Secretaria de Segurança do estado informou que mais de 280 mil pessoas são beneficiadas pelas unidades. A polícia comunitária é a execução da estratégia de parceria entre a população e as instituições da área de segurança. Cerca de R$ 15 milhões serão investidos pelo governo do Rio em qualificação na Academia de Polícia para que, até 2016, sejam formados cerca de 60 mil policiais no estado.