Título: Após reeleição de Chávez, Brasil espera ajustes na economia venezuelana
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2012, Brasil, p. A4

"Renovação" e "retificação" foram as palavras mais ouvidas de autoridades venezuelanas na semana passada pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia, emissário da presidente Dilma Rousseff a Caracas para acompanhar as eleições presidenciais na Venezuela.

Garcia esteve com o presidente Hugo Chávez e teve conversas com o então ministro de Relações Exteriores Nicolas Maduro, escolhido pelo presidente reeleito para a vice-presidência. Saiu convencido de que haverá fortes mudanças na economia, na tentativa de "escapar à doença holandesa, o modelo rentista petroleiro" tradicional no país.

Chávez, em seu discurso de posse, anunciou o lançamento de uma "missão Mercosul", com financiamento de empresas em setores e localidades escolhidos para aproveitar as oportunidades econômicas criadas com o ingresso da Venezuela no bloco sul-americano. "Eles devem prosseguir o esforço de modernização da agricultura, há uma percepção sobre a necessidade de mudanças econômicas", disse Garcia ao Valor.

O assessor de Dilma foi um dos que mais comemoraram a escolha de Maduro como vice-presidente de Chávez - na Venezuela, o vice é indicado pelo presidente eleito -, com quem mantém uma relação próxima. Maduro, ao ser nomeado ministro de Relações Exteriores, no mandato anterior de Chávez, levou objetividade à representação venezuelana na Unasul, comenta uma autoridade do governo.

Durante o golpe parlamentar contra Fernando Lugo, no Paraguai, quando Chávez anunciou que cortaria o fornecimento de petróleo aos paraguaios, foi por meio de Maduro que Dilma convenceu Chávez a mudar de ideia, lembra outra autoridade brasileira.

Maduro também foi acionado durante a conferência Rio+20 para vencer as fortes resistências da representação venezuelana contra compromissos pela redução no uso de combustíveis fósseis. É visto no governo brasileiro como um fator de "ponderação" no governo Chávez e sua escolha como possível substituto conta a favor de uma gestão voltada a uma maior conciliação entre as forças políticas, como promete o presidente reeleito.

Nesta semana, na quarta-feira, o governo brasileiro deve aproveitar a reunião, em Cuiabá, do grupo Mercado Comum, instância executiva do Mercosul, para verificar os projetos do governo chavista em relação a temas como as negociações comerciais do bloco com terceiros países. Na última reunião do grupo de trabalho para a incorporação da Venezuela ao bloco, os venezuelanos nem sequer enviaram representantes credenciados para discutir o assunto.

Até o fim do mês, os ministros de Relações Exteriores, Antônio Patriota, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, irão a Caracas discutir com a equipe de Chávez a colaboração do Brasil com os projetos de industrialização do país, entre outros temas bilaterais. O governo não prevê mudanças radicais, mas espera acelerar o processo de incorporação das regras do Mercosul na legislação venezuelana.

Segundo apurou o Valor no Itamaraty, na negociação de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia já se prevê que os venezuelanos firmem um cronograma em separado para redução de tarifas, com ritmo mais lento de liberalização comercial. O Brasil pedirá a Chávez que aceite os avanços já obtidos na negociação com os europeus, como acordos em temas técnicos e o consenso obtido sobre o modelo de negociação de tarifas e normas de origem.