Título: Resultado de SP impactará disputa pela Câmara
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2012, Política, p. A5

Para além de influências sobre o futuro político do tucano José Serra, das imposições do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no PT e do xadrez eleitoral da sucessão presidencial em 2014, o segundo turno das eleições municipais de São Paulo no dia 28 de outubro passou também a ser uma variável relevante da eleição para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

Hoje, a única candidatura oficial é a do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), com apoio já formal do PT e do Palácio do Planalto. Fora daí, cogita-se uma alternativa por meio do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que, por integrar uma bancada com apenas 31 deputados, se lançaria com o apoio dos 47 deputados do PSD.

Entretanto, dentro do PSB e do PSD há a avaliação de que uma eventual vitória em São Paulo do candidato do PT, Fernando Haddad, com a consequente derrota do tucano José Serra, tenderia a aproximar em definitivo o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), do Palácio do Planalto, inclusive com grande possibilidade de ganhar espaço na Esplanada dos Ministérios. Nesse cenário, as chances de que Kassab, com um ministério em mãos, avalize uma candidatura na Câmara que não a apoiada por Dilma seriam muito pequenas, o que desidrataria o anseio do PSB na Casa.

Além disso, a vitória na capital paulista é vista ainda como um reforço da aliança entre PT e PMDB, a mesma que sustenta a candidatura de Henrique Alves e que caminha junto no segundo turno em São Paulo com Haddad, após um primeiro turno separados. "Se o Haddad ganha, será com apoio do PMDB e do PT. Isso reforça a união entre eles e cria algumas dificuldades para esse jogo na Câmara", disse Delgado. Ele avalia, porém, que a vitória de Haddad não chega a ser um impeditivo para uma candidatura sua, mas que é inegável que ela colocaria Kassab "no colo de Dilma". "Vai depender muito de como o Palácio vai atuar, se vai avaliar que é bom outra candidatura no campo governista."

No próprio PSB, há uma avaliação também de que o PSD só aguarda o desfecho em São Paulo para concretizar a aliança com Dilma. Isso pode ser visto no modo como a legenda se porta nas principais capitais em que haverá segundo turno e que há confronto direto entre governo e oposição. Em Salvador, o partido apoia Nelson Pelegrino (PT) contra ACM Neto (DEM). Em Manaus, estará ao lado de Vanessa Grazziotin (PCdoB) contra Arthur Virgílio Neto (PSDB). Em São Paulo, há uma espécie de "última trincheira" oposicionista do PSD.

O secretário-geral da sigla, Saulo Queiroz, não vê tamanha relação entre a eleição paulistana e a da Câmara, embora atribua o surgimento de uma candidatura alternativa à mesa mais ao PSB do que ao PSD. "O assunto virá à tona de qualquer jeito independentemente do resultado de São Paulo. Se o PSD resolver caminhar com o PSB vai de fato gerar uma situação complicada. Mas a nossa participação vai depender da decisão do PSB de concorrer."

De acordo com Queiroz, mesmo com a vitória de Serra o PSD tende a caminhar em nível nacional com o Palácio do Planalto - o que também dificulta uma candidatura contra Henrique Alves. "O Kassab sempre afirmou que ficou com o Serra por uma questão de lealdade mas durante a campanha se manteve muito próximo ao PT nos outros locais."

Deputados do partido dizem sob reserva que é muito difícil furar o bloqueio da aliança entre petistas e pemedebistas, uma vez que, juntos, somam 164 deputados. Declaram ainda que Kassab, presidente nacional do PSD, e Eduardo Campos, presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, só entrariam neste embate se houvesse chances reais de vitória, tendo em vista que o desgaste com o governo seria alto. Dizem ainda que essa possibilidade aumenta se for detectado um racha no PT entre os favoráveis e os contrários à candidatura Henrique Eduardo Alves.