Título: PT e PSDB perdem nas cidades recordistas de Dilma e Serra
Autor: Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2012, Política, p. A6

Tanto a candidata a prefeita do PSDB quanto a do PT foram derrotadas nos municípios que deram as maiores votações para os presidenciáveis dos dois partidos na eleição de 2010.

Na cidade onde a então candidata Dilma Rousseff obteve sua vitória mais acachapante, com 94,84% dos votos, a pequena Calumbi, em Pernambuco, o PT concorreu pela primeira vez à prefeitura e foi superado por 71 votos.

No Mato Grosso, no município de Marcelândia, que deu a votação recorde a José Serra (PSDB), 75,05%, o PSDB também fracassou ao tentar eleger o prefeito da cidade que foi a mais tucana em 2010.

As duas disputas mostram o descasamento da eleição municipal em relação à presidencial - ao menos quando se espera uma repetição do sucesso das mesmas siglas partidárias.

Em Calumbi e Marcelândia, PT e PSDB não elegeram suas candidatas à prefeitura. Por outro lado, os adversários diretos deste ano compartilharam o mesmo projeto presidencial dois anos atrás.

"Aqui, tanto a situação quanto a oposição fizeram campanha para Dilma em 2010. Nenhum partido, vereador, ninguém apoiou o Serra. O PSDB não existe no município", conta a professora petista Edinete Simões, 61 anos.

Edinete foi derrotada pelo prefeito Erivaldo José da Silva, o Joelson, 41 anos, do PSB, legenda comandada no Estado e no país pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, aliado ao PT nacional.

Para a petista, a melhor explicação para o grande consenso em torno de Dilma "é o governo Lula". Os oito anos de mandato do antecessor da presidente, afirma Edinete, beneficiaram muito a pobre região do sertão do Pajeú, principalmente por meio do Bolsa Família - embora ela mesma tenha críticas ao programa federal. "Mudou muito, mas acomodou também. As pessoas recebem sem dar nada. Cria uma dependência", diz.

A petista é irmã do ex-prefeito Cícero Simões. Ele ganhou duas eleições (2000 e 2004) pelo PPS, mudou-se para o PSB e, depois de um racha, saiu para o PT, de onde faz oposição ao prefeito reeleito. Em 2000, Cícero, coligado a PT, PSB e PDT, derrotou um candidato do então PFL, apoiado por PMDB, PSDB e PSDC. "Hoje, este grupo está espalhado pelos oito partidos que se aliaram ao prefeito. O PT aqui é dos pobres; e o PSB é dos manda-chuvas", simplifica a professora.

Apesar de ter alcançado 49,26% dos votos com Edinete, o PT não conseguiu crescer em Calumbi, que tem apenas 6.175 eleitores. O partido não elegeu um vereador sequer. A Câmara Municipal será formada por seis vereadores da base do prefeito (três do PSB mais três do PDT, PR e DEM) e três da oposição, todos do PCdoB, único aliado na chapa do PT.

Na também pequena eleitoralmente Marcelândia - embora gigante em território, com oito vezes o tamanho de São Paulo e cuja economia vive da exploração de madeira -, o consenso em 2010 foi em torno de José Serra. No domingo, dia 7, contudo, a candidata tucana Rosemar Marchetto, a Callanga, 42 anos, foi derrotada pelo concorrente do PSD, Arnóbio Vieira de Andrade, de 73 anos. "Forte aqui é o nosso grupo, que apoiou o Serra, e não o PSDB", afirma o recém-eleito prefeito.

Arnóbio derrotou a adversária por 51% a 44%. Callanga é mulher do ex-prefeito Geovane Marchetto, o Callango. Mas, em 2010, todos estiveram juntos contra Dilma. "O Ibama nos castigou demais. Uma fiscalização em excesso, muito agressiva, com a Polícia Federal. Era o prende para depois investigar", diz Arnóbio, ao tentar explicar o porquê da alta votação no tucano em 2010.

Apesar do ambiente favorável, o PSDB neste ano só elegeu dois dos nove vereadores. "Na eleição local, o eleitor se pauta mais pelo que ocorre no subsistema partidário municipal. A influência é indireta e se baseia mais nos acordos e padrões de alianças", afirma o cientista político Fabiano Santos, do Iesp/Uerj.

Em levantamento feito pelo Valor Data, o descolamento das eleições municipais e nacionais também é verificado. O percentual de prefeitos eleitos pelos partidos é praticamente o mesmo tanto no grupo dos municípios onde Dilma dominou com votações acima de 50%, quanto nas cidades onde Serra foi hegemônico. As maiores diferenças ocorrem com o PSDB, cuja taxa de eleitos cai à metade no "território petista", e com o PSB, cujo desempenho é pior nos municípios onde os tucanos dominaram em 2010.