Título: Violência no Rio exige mais que as UPPs
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Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2010, Opinião, p. 18

Visão do Correio

As vanguardas do crime organizado continuam a aterrorizar a população do Rio de Janeiro com a desenvoltura de sempre. Agora, agem com o propósito de tornar inócua a política de segurança pública destinada a acuá-las e a desbaratar antros do narcotráfico, assim também de quadrilheiros de todos os tipos. A ofensiva contra os marginais é conduzida pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), criadas há dois anos, mediante ocupação permanente das favelas e morros violentos. Desde então, várias áreas sob controle da marginalidade foram apaziguadas e devolvidas aos moradores.

Mas, quando desalojados dos fortins em que se entocam para não se tornar visíveis às batidas policiais e, se preciso, impedi-las com barragem de fogo pesado, narcotraficantes, contrabandistas de armas e afins passaram a operar nas ruas. Não há setores ou bairros livres do ataque à luz do sol das sociedades de celerados. Durante quatro dias, a contar da sexta-feira passada, cenas de atrocidades levaram pânico a vários pontos da capital fluminense.

O episódio mais brutal ocorreu na saída da Via Dutra em direção à Avenida Brasil, uma das conexões viárias mais importantes da região metropolitana da cidade. Além de passageiros serem assaltados e atacados com disparos de fuzis, três automóveis foram incendiados. Uma cabine da PM foi alvejada com um tiro. Na Linha Vermelha, a principal via utilizada por turistas desembarcados no Aeroporto Antonio Carlos Jobim (Galeão), grupo armado interrompeu o trânsito e, no feitio de arrastão, roubou os pertences das vítimas. Por milagre, não houve mortos e feridos.

Outros arrastões se sucederam em bairros de intensa movimentação de pessoas e carros, como a Zona Sul, espaço das praias que encantam os estrangeiros. Tão alarmante quanto a escalada da violência é constatar que a mobilização dos gângsteres partiu de ordem expedida por chefes da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho (CV), presos na penitenciária federal de Catanduvas (PR). Persiste, portanto, a facilidade de comunicação entre presidiários de elevadíssima periculosidade ¿ razão por que se encontram sob custódia em presídio de segurança máxima ¿ e asseclas em distantes lugares do país.

O Rio de Janeiro é o mais autêntico postal do Brasil e a principal porta de entrada para visitantes oriundos de todo o planeta. Vai sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. As barbaridades contra a integridade e a vida das pessoas, convém não ignorar, continuam a situá-lo entre as cidades mais violentas do mundo. O trabalho das Unidades de Polícia Pacificadora é, com certeza, útil, indispensável. Mas os fatos estão a demonstrar que não podem, de forma isolada, garantir nível adequado de segurança aos cidadãos. Urgem medidas adicionais de maior impacto. Não vale apenas reagir aos crimes, mas frustrar os planos das quadrilhas mediante ações de inteligência.