Título: TIM pode superar Vivo em receita
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Empresas, p. B3

A TIM já é a maior operadora de telefonia celular do país em geração de receita? Essa pergunta começa a ser respondida hoje, quando a Vivo, atual líder, divulga o balanço do terceiro trimestre.

Projeções de analistas ouvidos pelo Valor indicam que o faturamento da empresa de origem italiana deverá, pela primeira vez, empatar ou ultrapassar o da Vivo - que não tem conseguido reagir ao avanço da concorrência.

Nos cálculos feitos por corretoras como Unibanco e Pactual, por exemplo, a ultrapassagem da TIM já aconteceu no trimestre encerrado em setembro. Para outras, a Fator, as duas operadoras estão praticamente empatadas.

As estimativas de receita líquida da Vivo feitas por esses analistas vão de R$ 2,360 bilhões (Pactual) até R$ 2,794 bilhões (Fator). No caso da TIM, que divulga suas demonstrações financeiras no dia 6, as projeções vão de R$ 2,396 bilhões até R$ 2,743 bilhões, feitas, respectivamente, pelas mesmas corretoras.

O faturamento e o resultado operacional dessas empresas - e de todas as celulares - serão influenciados pela adoção do chamado "bill & keep" pleno. A regra, que começou a ter efeito no terceiro trimestre, obriga as móveis a registrar integralmente as receitas e custos com interconexão. Antes, só precisavam apurar o saldo das transações. Por isso, Vivo e TIM deverão mostrar receitas maiores do que teriam no modelo anterior. A medida tem impacto apenas no curto prazo e, para essas companhias, que não são integradas com teles fixas, o efeito tende a ser positivo, segundo especialistas.

As duas empresas deverão apresentar prejuízo líquido. Para a Vivo, as perspectivas são de que o resultado fique entre R$ 140 milhões e R$ 170 milhões negativos. Com isso, deverá ser consideravelmente inferior à perda de R$ 493,1 milhões registrada no segundo trimestre, quando a operadora fez um grande volume de provisões para devedores duvidosos. A comparação com os meses de julho a setembro de 2005 é difícil porque, na época, a empresa controlada pelos grupos Portugal Telecom e Telefónica ainda não havia concluído a reestruturação societária que unificou suas operadoras.

Apesar da perspectiva de resultado líquido no vermelho, as ações da Vivo subiram ontem na Bovespa. A interpretação dos investidores é de que a operadora divulgará margem operacional melhor do que nos trimestre anteriores, já que atraiu poucos clientes - o que significa menos gastos em subsídios.

"O terceiro trimestre deve ser melhor que o segundo, mas ainda fraco por em se tratando de uma operadora de banda A [que são as mais antigas do país]", diz o analista André Rocha, do Unibanco.

Os números são reflexo dos enormes obstáculos que a Vivo tem enfrentado enormes obstáculos para impedir a fuga de clientes para a concorrência e, ainda, atrair novos assinantes - tudo isso usando um padrão tecnológico, o CDMA, que lhe impõe custos muito maiores do que o GSM representa para as rivais.

E os resultados, até agora, não foram promissores. No mês passado, a base de usuários da Vivo encolheu pela segunda vez no ano, conforme informações divulgadas anteontem pela Anatel. A operadora reduziu em 42,8 mil o total de linhas e apresentava, no fim de setembro, 28,72 milhões de clientes. Com isso, tem hoje menos assinantes do que os 28,8 milhões de um ano atrás.

Parte desse efeito deve-se à decisão que a empresa tomou no segundo semestre de eliminar de sua base aqueles assinantes que já não geravam qualquer receita. Mas os motivos da estagnação vão muito além.

Segundo relatório da analista Vera Rossi, do Morgan Stanley, a Vivo obteve uma adição líquida de clientes (novos usuários menos desligamentos) de 195 mil clientes entre julho e setembro. Em contrapartida, a TIM ampliou sua carteira com 1,2 milhão de novas assinaturas.

Com 24,1 milhões de clientes, a operadora controlada pela Telecom Italia tem se aproximado cada vez mais da liderança do mercado brasileiro também nesse quesito. Alguns analistas esperam que a TIM, presente em todos os Estados do país, torne-se a maior até a metade de 2007.

Para Jacqueline Lison, da corretora Fator, as dificuldades da Vivo começam no padrão CDMA, que obriga a operadora a gastar mais para atrair e reter clientes. Enquanto as rivais, que atuam com GSM, estão deixando de subsidiar aparelhos para vender apenas o chip do celular (que custa em torno de R$ 15), a Vivo não tem essa possibilidade - na tecnologia utilizada por ela, o symcard não é desvinculado do telefone. "Isso acaba complicando a vida da empresa", diz.

A companhia está construindo uma rede GSM, em paralelo à atual, para contornar esse problema. Mas, segundo Jacqueline, a Vivo ainda terá pela frente o desafio de convencer os clientes de que tem expertise nesse padrão.