Título: Companhias já usam biodiesel nas frotas
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Empresas, p. B8

A Tetra Pak, presente em 165 países, escolheu o Brasil para um projeto-piloto mundial da companhia de utilização de biodiesel. Até março de 2007, a empresa, que fabrica embalagens e máquinas para envase, avaliará quesitos como desempenho e economia do motor em 12 dos 120 caminhões da frota da empresa no Brasil. O projeto terá duração de 12 meses.

O caso da Tetra Pak não é único, embora iniciativas do gênero ainda sejam esparsas. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) já realizou quatro leilões para companhias interessadas em produzir o combustível alternativo, mas a regra que tornará obrigatória a mistura de 2% de biodiesel nos postos vai passar a valer apenas em 2008. Até que isso ocorra, algumas companhias levam adiante projetos para avaliar a novidade.

No caso da Tetra Pak, o abastecimento é feito em dois postos, localizados em Monte Mor (SP) e Ponta Grossa (PR), cidades em que tem fábricas. A iniciativa faz parte do Programa Mudanças Climáticas, seu projeto mundial de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa. Na semana passada foram feitos testes de emissão de poluentes com os veículos parados.

Os dados ainda não foram finalizados, diz Fernando von Zuben, diretor de meio ambiente da empresa. Até 2010, a meta global da Tetra Pak é reduzir em 10% a emissão de gases poluentes. A base de comparação são os volumes emitidos em 2005. "Esse é nosso mini Protocolo de Kyoto", afirma o executivo.

A depender dos resultados da experiência no Brasil, a Tetra Pak adotará o biodiesel também em outros mercados, com prioridade para Alemanha e Estados Unidos. Ainda bastante preliminar, um dado aponta consumo entre 1% e 2% menor que o normal. A companhia utiliza biodiesel fornecido pela Soy Minas e produzido a partir da semente de girassol. A proporção usada no projeto é de 80% de diesel e 20% de biodiesel.

O combustível pode ser obtido a partir de culturas fortes no agronegócio brasileiro, como soja e algodão, mas também de produtos ligados à agricultura familiar concentrada na região Nordeste, como a mamona. O apelo da criação de empregos no campo tem incentivado a adoção do biodiesel na região.

A Norsa, fabricante e distribuidora da Coca Cola no Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Bahia, aderiu completamente ao biocombustível: todos os seus 248 caminhões são abastecidos pelo combustível, em uma proporção de 2% de biodiesel e 98% de diesel. "O preço é o mesmo, mas a busca é pelo estímulo à agricultura local", diz Hugo Fernandes, gerente de logística da empresa.

A entrada no projeto começou a se desenhar em julho e partiu de convite feito pela Petrobras, afirma Fernandes. A Norsa consumirá biocombustível produzido pela Brasil Biodiesel, ligada à estatal, na usina de Floriano (PI). A matéria-prima da usina é a mamona. A capacidade de produção da unidade é de 135 metros cúbicos por dia.

O empurrão dado pela Petrobras também viabilizou a entrada Conseil no mercado de biodiesel, afirma o diretor de desenvolvimento de negócios da transportadora baiana, Paulo César Carvalho. A Conseil tem um posto próprio de abastecimento em Salvador, no qual foi instalado um tanque extra para armazenar o biodiesel. As despesas para a instalação foram divididas entre a transportadora e a estatal.

Todos os 180 ônibus de sua frota utilizam hoje combustível com fração de 5% de biodiesel. Por ora, ficaram de fora do programa os 600 caminhões de sua frota. A Conseil é uma das maiores transportadoras do Nordeste, com faturamento estimado, para 2006, de R$ 129 milhões.

Com ou sem biodiesel, o consumo de combustível é rigorosamente o mesmo, apontam até agora os projetos pioneiros. Tampouco há despesas com adaptações nos veículos. Por ser menos agressivo ao motor, há expectativa de que, em médio a longo prazo, o biodiesel seja responsável por menos despesas com manutenção. Até lá, as empresas capitalizam de outras formas. Nos 180 ônibus, a Conseil colou adesivo com os dizeres "responsabilidade social: este veículo é movido a biodiesel".