Título: El Niño deve beneficiar produção de grãos do país
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2006, Agronegócios, p. B12

Um estudo de condições climáticas desenvolvido pelo Instituto Internacional de Pesquisas (IRI, na sigla em inglês) da Universidade de Columbia (EUA) prevê clima favorável para a produção de grãos no Brasil e, com ressalvas, também na Argentina e Uruguai na safra 2006/07. O El Niño chega mais brando neste ano e tende a produzir um índice de chuvas pouco superior à média histórica na região de novembro deste ano a abril de 2007.

As previsões - de chuvas acima da média histórica no verão brasileiro e clima mais seco no sul da Argentina e no Uruguai - são confirmadas pelas estimativas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), do Serviço Meteorológico Nacional da Argentina, da Diretoria Nacional de Meteorologia do Uruguai e da Diretoria de Meteorologia e Hidrologia do Paraguai para o período de plantio - entre outubro e dezembro.

Os institutos prevêem chuvas acima do nível histórico na área que compreende Sul do Brasil, Chaco e leste do Paraguai, norte do litoral fluvial da Argentina e extremo norte e nordeste do Uruguai. Nas demais regiões, as perspectivas são de chuvas dentro dos níveis históricos. "As condições são boas para a safra de verão no Brasil", afirma Paulo Molinari, analista da Safras&Mercado. Em suas previsões, a produtividade dos grãos no país tende a ser normal. "O bom desempenho das culturas dependerá da tecnologia investida e de condições regionais", pondera.

Já no caso da Argentina, a perspectiva é de estiagens entre janeiro e março, o que pode afetar a produtividade dos grãos. Conforme dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentos do país, a escassez pluviométrica de setembro atrasou e limitou o plantio em algumas regiões. Também houve migração de culturas, com redução do plantio no norte (onde há previsões de clima seco) e aumento no leste.

No caso da soja, houve aumento do plantio nas Províncias de Buenos Aires, Entre Ríos, La Pampa e Santa Fe, compensando a queda de área no Chaco argentino e em Santiago de Estero. No país, a área plantada aumentará 1,8%, para 15,6 milhões de hectares. Na safra 2005/06, a Argentina plantou 15,3 milhões de hectares e produziu 40,5 milhões de toneladas. O USDA prevê para o país 41,3 milhões de toneladas no novo ciclo.

Também há previsão de aumento de 4,4% na área plantada com girassol e de 6,8% no caso do milho. As duas culturas terão aumento de área na região norte, onde as previsões climáticas são mais favoráveis.

No Uruguai, a área de grãos cresce graças ao clima mais úmido. Conforme levantamento do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do país, a área de soja terá aumento de 5,1%, para 325 mil hectares. Também há ampliação nas áreas de milho (10,2%) e sorgo (15,8%). O Paraguai ainda não divulgou sua estimativa de área para a safra 2006/07. O país produz principalmente soja, tendo colhido na temporada passada 3 milhões de toneladas da oleaginosa.

Para o Brasil, as condições de clima se mostram favoráveis, podendo compensar defasagens nos investimentos em tecnologia. "O El Niño está mais fraco este ano. A tendência é de chuvas dentro dos padrões para o Centro-Oeste, um pouco acima da média no Sul e seca no Nordeste", resume Luiz Cavalcanti, chefe do setor de previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ligado ao Ministério da Agricultura.

Levantamento da Agência Rural aponta aceleração do plantio da soja graças ao clima, que permitirá o plantio da soja precoce e uso da mesma área para cultivo de algodão ou outras culturas em janeiro, após a colheita da oleaginosa. Até a semana passada, 12% da área destinada à soja no Brasil havia sido semeada. No Mato Grosso, a área plantada está próxima de 30%. Entre os dias 1 e 20 deste mês, choveu 95 milímetros no Estado, ante média histórica para o mês de 115.

Já em Goiás, a situação é adversa: choveu 372 mm, para uma média de 170 mm para o período. No Mato Grosso do Sul, as chuvas foram escassas, com índice de 20 mm, quando a média para o mês é de 130 mm.

No Sul, as chuvas estão dentro da média. No norte do Paraná, choveu 80 mm até o dia 20. A média para o mês é de 120 mm. "As chuvas foram adequadas para o plantio de milho e soja e os períodos de estiagem ajudaram a colheita do trigo", diz Rogério Faria, pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).

Segundo Faria, o clima também tem contribuído para o pegamento de frutos nos cafezais, que estão na fase de florada. A Secretaria de Agricultura do Paraná prevê aumento de 18,3% na produção de grãos, para 20,86 milhões de toneladas. A produção de soja deve crescer 27,9%, para 11,84 milhões de toneladas.

No Rio Grande do Sul, o índice de chuvas foi de 145 mm, ante média para o mês fechado de 200 mm. "A geada de setembro atrasou o plantio de grãos em algumas semanas, mas as condições agora são favoráveis para o plantio", avalia Dulphe Machado Neto, engenheiro agrônomo da Emater-RS. Até a semana passada, 3% dos 3,8 milhões de hectares destinados ao cultivo da soja no Estado estavam plantadas. No caso do milho, já foram cultivados 51% dos 1,4 milhão de hectares previstos e, no caso do arroz, 17% dos 1,01 milhão de hectares. Em São Paulo, as chuvas seguem dentro da média histórica, atingindo 157 mm na região de São Carlos e 113 mm em Catanduva.