Título: Capitais põem em xeque força de padrinhos políticos
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2012, Política, p. A19

Pela segunda vez em dois anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou no segundo turno um "poste", um candidato que nunca antes havia disputado uma eleição. Tendo começado a campanha com algo em torno de 4%, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad chegou ao fim do primeiro turno literalmente empatado com José Serra, o candidato do PSDB. Os outros dois "padrinhos" vencedores foram o tucano Aécio Neves, eventual candidato presidencial do PSDB, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB. Outros "padrinhos" de novos candidatos demonstraram desempenho "pífio", caso de Beto Richa, tucano governador do Paraná, e Marcelo Déda, do PT de Sergipe. Ricardo Coutinho (PSB-PB) também fracassou.

Depois de mais de 30 anos de poder no Maranhão, o ex-presidente da República José Sarney, presidente do Senado, também malogrou. Uma derrota dupla: dele e da filha Roseana Sarney. Cacique tucano, Marconi Perillo (PSDB) fracassou em Goiânia. Nome que é considerado quase imbatível em Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (MS) não fez o sucessor.

A corrida municipal deste ano ganhou contornos de uma eleição "anti-1996", quando, numa época em que não havia a possibilidade de reeleição, prefeitos de três das maiores capitais conseguiram eleger sucessores até então desconhecidos: Luiz Paulo Conde, cria de Cesar Maia no Rio; Celso Pitta, invenção de Paulo Maluf, em São Paulo; e Cassio Taniguchi, apoiado por Jaime Lerner, em Curitiba. Foi a chamada eleição dos "postes".

Duas características marcam a dificuldade de repetição do fenômeno da transferência de votos neste ano. A primeira é a erupção de candidatos com perfil independente, que surpreenderam os favoritos, como Ratinho Jr. (PSC), em Curitiba; Alcides Bernal (PP), em Campo Grande; além de Geraldo Júlio (PSB), o candidato do governador Eduardo Campos. No caso do Recife, Lula perdeu feio: o candidato imposto por ele ao PT, Humberto Costa, ficou na terceira posição. Mas há controvérsia sobre se a vitória foi de Eduardo Campos: a administração petista terminou muito mal avaliada.

A segunda tendência é a pouca capacidade de líderes regionais com expressão nacional ou dos governadores de se mostrarem bons cabos eleitorais.

Vários caciques do PMDB, por exemplo, foram mal-sucedidos e não conseguiram alavancar seus candidatos. Em Natal, os irmãos Alves - o deputado federal e líder da bancada Henrique Eduardo Alves e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho - apadrinharam o deputado estadual Hermano Moraes (PMDB), que ficou em segundo lugar. Mesmo com a realização do segundo turno, a eleição do ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT), dissidente da família Alves, deve se confirmar, pela diferença de votos obtida ontem.

Em Campo Grande, a hegemonia do PMDB e de seu manda-chuva, o governador André Puccinelli, está ameaçada por Alcides Bernal (PP), que tem o perfil midiático semelhante ao de Celso Russomanno.

Em Maceió, o senador Renan Calheiros e o ex-presidente da República Fernando Collor (PTB) embarcaram na candidatura do também cacique e ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), que terminou sendo impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quinta-feira. Nem o bem avaliado prefeito Cícero Almeida (PSD), também um dos apoiadores de Lessa, conseguiu transferir sua popularidade.

Em Porto Velho, a aposta do PMDB - liderado pelo governador Confúcio Moura, o senador Valdir Raupp e sua mulher, a deputada federal Marinha Raupp - foi o médico José Augusto, também pemedebista e um dos candidatos à prefeitura de capital que declararam maior patrimônio ao TSE. O nome não decolou e houve uma dispersão dos apoios para outras candidaturas.

No PSB, o principal fracassos foi a indicação do governador da Paraíba, Estela Bezerra, para quem a eleição terminou ontem. No Amapá, Camilo Capiberibe apoiou Cristina Almeida. Ela passou para o segundo turno, mas com uma grande diferença em relação a seu opositor. O governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, apostou na ex-ministra petista Iriny Lopes, que também não alcançou a segunda etapa de votação.

Em Sergipe, foi o inverso: um governador petista, Marcelo Déda, que não conseguiu catapultar um candidato do PSB, Valadares Filho, que ainda tinha o pai, o senador Antônio Carlos Valadares, para lhe pedir votos.

Entre os tucanos, o governador de Goiás, Marconi Perillo, foi o principal fracassado como cabo eleitoral e viu o prefeito petista Paulo Garcia se reeleger, já no primeiro turno.