Título: Porto Alegre reelege Fortunati com 65,2%
Autor: Bueno , Sérgio Ruck
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2012, Política, p. A23

Depois de um início de campanha marcado por uma disputa apertada contra a candidata do PCdoB, a deputada federal licenciada Manuela D"Ávila, o prefeito José Fortunati (PDT) foi reeleito com folga ontem em primeiro turno em Porto Alegre. Esta foi a segunda eleição definida no primeiro turno na cidade desde que o sistema de dois turnos foi adotado para eleições municipais em 1992. A primeira havia sido em 1996, quando venceu Raul Pont, do PT.

Fortunati somou 65,22% dos 794,2 mil votos válidos apurados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Foi a maior votação obtida por um candidato a prefeito na cidade em primeiro turno desde a redemocratização. Foi também um dos maiores percentuais alcançados ontem entre os candidatos a prefeito das capitais. A segunda colocada, Manuela, obteve 17,76%. O candidato do PT, Adão Villaverde, ficou em terceiro lugar, com apenas 9,64% dos votos válidos e 8,73% dos votos totais, o pior desempenho já obtido pelo partido na cidade desde o fim do governo militar. Em 1985, os petistas haviam obtido 11,3% dos votos totais.

O candidato do PSOL, Roberto Robaina, ficou em quarto lugar na disputa, com 3,85% dos votos válidos. Depois dele vieram Wambert Di Lorenzo (PSDB), com 2,46%, Jocelin Azambuja (PSL), com 0,56%, e Érico Corrêa (PSTU), com 0,52%.

O prefeito reeleito assumiu o cargo em março de 2010, quando o então prefeito José Fogaça (PMDB) renunciou para disputar o governo do Estado. Com o resultado de ontem, ele também superou o antecessor, que foi reeleito no segundo turno em 2008, depois de alcançar 43,8% dos votos válidos no primeiro.

Ancorado nos bons níveis de aprovação de sua gestão, Fortunati deslanchou nas pesquisas ao longo de setembro, depois de encerrar o mês anterior em situação de empate técnico com Manuela. Ao mesmo tempo em que ele cresceu, a adversária direta recuou nos levantamentos de todos os institutos, prejudicada pelo aumento dos seus índices de rejeição.

No discurso que fez por volta das 19h30 no comitê de campanha, o prefeito reeleito fez um agradecimento ao antecessor. Ex-vereador, ex-deputado federal, ex-secretário da Educação do governo estadual do petista de Olívio Dutra (1999-2002), Fortunati trocou o PT pelo PDT em 2002 e, segundo ele, havia desistido da vida política quando Fogaça o convidou para ser secretário municipal em 2007 (e depois para ser o vice na chapa que venceu a disputa em 2008).

O prefeito também prometeu dar "um salto de qualidade" no próximo governo. "Ao longo da campanha reconhecemos várias deficiências na estrutura [da prefeitura] e vários desafios a serem superados", disse ele, em referência às críticas que recebeu dos adversários sobre os problemas enfrentados pela cidade em áreas como saúde e segurança.

Fortunati concorreu com uma coligação de nove partidos, que inclui, além do PDT, PMDB (que indicou o vice na chapa, o vereador Sebastião Melo), PTB, PPS, PP, PRB, DEM, PMN e PTN, sendo esses três últimos os únicos que não faziam parte da base de apoio da prefeitura na gestão atual. Com isso, a bancada alinhada com o prefeito na Câmara também vai aumentar de 19 para 22 dos 36 vereadores.

O PDT cresceu de quatro para sete vereadores e será a maior bancada a partir do ano que vem. O PT, que até agora tinha o maior número de vereadores, cairá de sete para quatro. O PMDB recuou de cinco para quatro representantes e o PTB manteve as quatro cadeiras. O vereador mais votado na cidade, porém, foi Pedro Ruas, que se reelegeu com 14,6 mil votos pelo PSOL, partido que manteve duas vagas no Legislativo municipal.

Ontem pela manhã, Manuela já dava sinais de que tinha poucas esperanças de reverter a tendência apontada pelas pesquisas, que a colocavam até 30 pontos percentuais atrás de Fortunati. Em entrevistas concedidas a emissoras de rádio, ela queixou-se das condições "desiguais" da campanha. Segundo a candidata, além do tempo maior de propaganda na televisão, o prefeito utilizou o "poder econômico" e a "máquina avassaladora e gigantesca" da prefeitura para buscar a reeleição.

No fim da tarde, porém, Manuela mudou de tom. Logo depois das 18 horas, reconheceu, pelo Twitter, a vitória do adversário e o felicitou. "Mais do que parabéns, desejo quatro anos de muito êxito para José Fortunati. O povo o escolheu para cuidar da cidade. Conte comigo", escreveu. Às 18h40, postou nova mensagem em que disse ter telefonado para o prefeito desejando-lhe "sucesso".

Villaverde, do PT, também acusou o golpe logo cedo. Deputado estadual que disputou pela primeira vez um cargo majoritário, ele disse ter enfrentado os adversários em situação de desvantagem. "As candidaturas de Fortunati e Manuela estão postas há praticamente oito anos e nós nos postamos em março. É óbvio que havia uma defasagem", afirmou.