Título: Lula ganha eleitores no Centro-Sul e Alckmin perde votos em 12 Estados
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito ontem com 58.258.948 de votos (60,82% dos votos válidos), derrotando seu adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), que teve 37.530.276 votos (39,18% dos votos válidos). Com todas as urnas apuradas, constatou-se que o tucano perdeu cerca de 2 milhões de votos entre os dois turnos, já que no dia 1º de outubro teve 39.968.369 (41,64%) votos. Lula, por sua vez, ganhou aproximadamente 12 milhões de votos, uma vez que 46.662.365 (48,61%) eleitores votaram nele no primeiro turno.

Foram computados ainda 4.806.466 votos nulos (4,71%) e 1.351.118 (1,33%) em branco, índices menores que os registrados no primeiro turno, quando 5.957.521 eleitores votaram nulo (5,68%) e 2.866.205 em branco (2,73%). A abstenção, ao contrário, aumentou. Foram 21,09 milhões (18,99%) ausentes ontem contra 23,9 milhões (16,75%) no primeiro turno. Proporcionalmente, Lula não conseguiu superar a votação obtida no segundo turno das eleições de 2002, quando teve 61,3% dos votos válidos (52.792.927 votos).

O resultado final da votação revelou que, enquanto no primeiro turno o eleitorado do Centro-Sul do país assegurou a ida de Alckmin para uma disputa direta com Lula, a contagem dos votos das urnas ontem mostrou que os eleitores dessa parte do país migraram seus votos a favor do petista e garantiram a larga margem na apuração final.

Esse movimento foi acompanhado de outros dois fatores que favoreceram Lula: a redução dos votos de Alckmin em doze Estados - Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Piauí, Roraima, Sergipe e Tocantins - e a reversão do resultado negativo obtido pelo presidente no dia 1 de outubro em quatro Estados: Acre, Rondônia, Goiás e Distrito Federal.

Embora esse cenário tenha feito com que o presidente fosse vitorioso em mais Estados do que no primeiro turno, o desenho eleitoral final é semelhante. Alckmin venceu em todos os Estados da região Sul, Lula em todos da região Nordeste, tendo ampliado mais dois na região Norte (Acre e Rondônia), e dois na região Centro-Oeste (Distrito Federal e Goiás). Os Estados em que ambos foram campeões de votos se repetiram. Lula no Amazonas e Alckmin em Roraima.

A melhor visibilidade do aumento de votos pró-Lula se dá quando vistos os resultados nos três maiores colégios eleitorais, onde o petista conseguiu um crescimento muito superior ao do seu adversário. Em São Paulo, embora o tucano tenha ganho como no primeiro turno, Lula agregou 13 pontos percentuais em relação a sua votação no dia 1 de outubro.

No Estado em que governou até março deste ano, Alckmin subiu dois pontos. No Rio de Janeiro, a aliança de Lula com o governador eleito Sérgio Cabral (PMDB) e a de Alckmin com o ex-governador fluminense Anthony Garotinho surtiu grande impacto nas urnas. O petista passou de 44,22% dos votos válidos para 69,69%. Alckmin foi dos 25,95% para 30,31%. O apoio do governador reeleito Aécio Neves (PSDB) em Minas Gerais também não foi suficiente para melhorar a votação de Alckmin no Estado. Ao contrário, ele teve menos votos do que no primeiro turno: foi de 36,96% para 34,81%. Por sua vez, o presidente Lula subiu 19 pontos. Foi de 46,23% para 65,19%.

No Mato Grosso, um dos Estados mais afetados com a crise do agronegócio, a liberação de recursos do governo federal ao governador reeleito Blairo Maggi surtiu efeito eleitoral. Lula subiu catorze pontos no Estado; Alckmin, caiu um. Em Goiás, outro Estado fortemente afetado pela crise agrícola, Lula virou o jogo e tirou votos de Alckmin. O presidente foi dos 36,94% para 54,78%, enquanto seu adversário foi dos 47,37% para 45,22%. Com a vitória nesses dois Estados, o presidente melhorou seu sufrágio na região Centro-Oeste do país em relação ao primeiro turno. Isso porque no Distrito Federal Lula também virou o jogo. Venceu o tucano por 56,96% a 43,04%. No dia 1 de outubro, o placar foi de 41,71% a 35%.

Esse grande crescimento de Lula nos Estados em que asseguraram boas votações a Alckmin no primeiro turno também ocorreu na região Sul. A diferença entre os dois no Rio Grande do Sul, que no primeiro turno foi de 21 pontos, caiu para 11, com Lula subindo 14 pontos e Alckmin, 4. No Paraná, a distância era de 14 pontos, mas caiu ontem para um. O petista foi dos 35,39% para 49,25%. Em Santa Catarina, a situação foi semelhante. Lula subiu 15 pontos, de 30,90% para 45,47%. Alckmin, apenas 2, de 52,65% para 54,53%. Nos quatro Estados em que Lula virou o jogo, o mais representativo é o Acre, onde o tucano perdeu votos e a colocação de mais votado.