Título: ACM Neto fecha 1ª etapa com leve vantagem em Salvador
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2012, Política, p. A24

O "time de Lula" na Bahia e a oposição (DEM e PSDB) preparam-se para o confronto de segundo turno pela Prefeitura de Salvador, na qual está em jogo a hegemonia do PT no Estado e o projeto político do governador Jaques Wagner (PT), considerado um dos presidenciáveis do partido. Para o DEM, por sua vez, uma vitória na terceira maior capital do país (quarto colégio eleitoral, com quase 1,9 milhão de eleitores) é questão de sobrevivência.

ACM Neto: esperança do DEM para dar alento ao enfraquecido partido

O candidato do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto, liderou o primeiro turno com 40,17% dos votos. O candidato do PT, Nelson Pelegrino, ficou em segundo, com 39,73% dos votos. Em terceiro lugar, com 9,43%, aparece Mário Kertész, do PMDB de Geddel Vieira Lima, partido aliado do governo Dilma Rousseff no plano nacional, mas opositor de Wagner na Bahia.

ACM Neto chegou a seu comitê de campanha, após o encerramento das eleições, em clima de vitória, dizendo que o Ibope errou. Pesquisa de boca de urna do instituto apontou que ele iria para o segundo turno com Pelegrino, mas bem atrás do rival (43% para Pelegrino e 36% para Neto).

"O povo de Salvador mostrou que é livre e sabe escolher e não se rendeu ao medo", disse Neto.

Nesse embate contra Pelegrino, ACM Neto, líder do DEM na Câmara dos Deputados, conta com o apoio de uma parte dos chamados "carlistas" - aliados do seu avô, o poderoso Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007 -, como o ex-governador Paulo Souto e o ex-ministro Rodolfo Tourinho, e também está aliado ao PSDB do deputado Jutahy Júnior, que foi adversário político de ACM.

A expectativa, nesse segundo turno, gira em torno de que lado vai o PMDB do ex-deputado Geddel Vieira Lima, vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF). Ele lançou na disputa para prefeitura a candidatura do ex-prefeito Mário Kertész, que ficou em terceiro lugar.

Kertész afirmou ontem que vai abandonar a política e negou que o PMDB se dividirá no segundo turno. "Não existe a possibilidade de dissidência. Vamos nos reunir amanhã [hoje] para definir que caminho seguiremos, sem agonia e sem pressa, juntos", disse Kertész, ao lado de Geddel e de seu irmão Lúcio Vieira Lima, presidente estadual do PMDB. Havia uma especulação de que os irmãos poderiam apoiar Neto e Kertész, Pelegrino.

O projeto de Geddel é disputar uma eleição majoritária em 2014 e não teria espaço na chapa governista. Se apoiar Neto, ele tem boas chances de conseguir uma vaga. Ex-adversário de ACM, Geddel diz que não tem dificuldade alguma em apoiar Neto.

A disputa deve ser muito acirrada, como já foi nesse primeiro turno. Mas os aliados de ACM Neto estão animados, já que o tempo de televisão será igual para ambos. Na etapa inicial da disputa, o candidato do DEM tinha um terço do tempo de programa de Pelegrino. "Agora não vai ser mais briga de turma. Vai ser um contra o outro", disse Jutahy. "Até agora, a disputa foi desigual", definiu ACM Neto.

A campanha demista também se queixa do comportamento da Justiça Eleitoral do Estado, que suspendeu vários programas de ACM Neto por causa da tentativa de vincular a imagem de Pelegrino ao caso do mensalão do PT, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A utilização desse assunto no programa foi proibido, assim como a homenagem ao ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no STF, que vinha sendo feita pela campanha. A eleição de Neto é estratégica para o DEM. O partido está tão enfraquecido que já vinha sendo discutida uma fusão com outra legenda, provavelmente o PMDB.

A oposição aposta, ainda, na falta de elemento novo da parte da campanha de Pelegrino, já que o PT usou suas melhores armas no primeiro turno. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Salvador e a presidente Dilma Rousseff gravou participação nos programas de rádio e televisão. No segundo turno, ela é aguardada pelo PT em Salvador, mas a avaliação da campanha de Neto é que sua presença não deverá acrescentar muito à candidatura do rival.

Pelegrino considerou "vitoriosa" a campanha do primeiro turno. "Saímos de 13% num cenário adverso e terminamos a eleição com quase 40%." Segundo o candidato, no segundo turno ele e ACM Neto farão "uma confrontação de projetos". "Quem criou um clima que iria ganhar a campanha no primeiro turno, não fomos nós. Em todas as entrevistas dissemos que iríamos aguardar. Não há nenhum temor de nossa parte em ganhar a eleição no segundo turno. Tenho certeza que nossa militância está aguerrida, vai para a rua", disse.