Título: Alckmin faz mistério sobre seu futuro
Autor: Nakamura, Patrícia e Martinez, Christiane
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A4
O candidato derrotado à Presidência da República, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), fez ontem à noite um discurso de menos de dez minutos aos seus apoiadores, numa casa de eventos em São Paulo. Nele, afirmou que estava "feliz, com a consciência tranqüila", por ter percorrido o país, "levando a mensagem de integração, do desenvolvimento". Revelou que havia telefonado para o presidente Lula e desejado a ele "um bom mandato, porque é isso que nós precisamos".
Cerca de 600 pessoas estavam presentes, entre elas o governador eleitor de São Paulo, José Serra (PSDB), e o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (PFL). Alckmin agradeceu a todos o esforço em prol de sua candidatura e disse que sua campanha foi inspirada pelo ex-governador Mário Covas. Alckmin telefonou às 20h22 ao presidente Lula para reconhecer a derrota e dar parabéns ao petista pela vitória no segundo turno das eleições. O tom da conversa, que durou meio minuto, foi amistoso. O presidente perguntou pela família do tucano e disse que ambos vão sentir falta dos debates eleitorais.
No seu discurso de agradecimento, Alckmin fez uma analogia entre a vida e a democracia - ambas cheias de momentos difíceis, segundo ele. Lembrou o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, que definiu o brasileiro como "cordial", acrescentando que ele também é "caloroso e afetivo". Disse ainda que sai do processo eleitoral com "mais fé e mais confiança no Brasil" e "absolutamente apaixonado" pelo povo brasileiro. Mas o público não ficou sabendo o que mais desejava: Alckmin não deu, em seu discurso, nenhuma pista sobre o seu futuro político.
No partido, contudo, já se especula sobre uma possível candidatura à Prefeitura de São Paulo (o que criaria problemas com o aliado PFL e o atual prefeito, Gilberto Kassab) e a sobre a possibilidade de assumir a presidência do PSDB, hoje ocupada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). No partido, apesar da derrota para Lula e de ter perdido 2 milhões de votos entre os dois turnos, seu cacife político cresceu. Isso porque Alckmin teve no primeiro e no segundo turno uma votação (em votos válidos) superior a de José Serra, candidato do PSDB às eleições presidenciais de 2002.
De manhã, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), foi o primeiro político aliado a chegar no Colégio Santo Américo, no Morumbi (zona sul da capital paulista) para acompanhar o voto de Geraldo Alckmin. E também foi o primeiro entre os aliados do tucano a "jogar a toalha", ao dizer que considerava ser "muito difícil" o tucano reverter a vantagem de Lula apontada nas pesquisas.
O governador afirmou que a eleição mostrava uma "divisão social profunda" e que Lula é visto pela população como um "sobrevivente da pobreza e as pessoas respeitam seu passado". Ele chegou a comparar o petista à catapora, "porque pega em todo mundo", mas também disse respeitar a trajetória de Alckmin nas eleições. "Foi uma força da natureza."
Alckmin votou por volta das 10h30, acompanhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo ex-ministro da Educação Paulo Renato (deputado federal eleito pelo PSDB em São Paulo), e pelo governador eleito de São Paulo, José Serra, além da mulher, Lu Alckmin, e dos filhos Sofia, Geraldo e Thomaz.
Depois de votar, o candidato tucano mantinha o otimismo e repetia o discurso adotado na última semana da campanha. "O povo está decidindo e vai corrigir neste domingo os erros do cenário político", afirmou Alckmin, mencionando que o resultado do primeiro turno não refletiu as indicações das pesquisas eleitorais. Alckmin também não apontou os possíveis erros de sua campanha. "Nada é perfeito, mas quero destacar o quanto essa campanha foi bonita e todo o carinho que recebi", limitou-se a dizer.
Mais tarde, por volta das 17h, Alckmin teve um dos momentos mais descontraídos do dia: saiu de seu apartamento, no bairro do Morumbi, acompanhado dos filhos, atravessou a rua e foi à casa do vizinho, que havia colocado uma faixa com a frase "Alckmin, com você o Brasil será justo e perfeito". José Paranhos mora há seis anos no local e não conhecia o candidato.
Alckmin entrou na casa da família Paranhos e saiu de lá cinco minutos depois, voltando para o seu apartamento para acompanhar a apuração. "Vim agradecer pessoalmente e dar um abraço na família", disse Alckmin, sem comentar o resultado da eleição.
Alckmin foi abordado várias vezes por admiradores. Enquanto José Serra votava, no Colégio Santa Cruz, zona oeste de São Paulo, por volta das 11h30 da manhã, ele foi abordado por um motoboy. Alexandre Dias, de 24 anos de idade e há cinco trabalhando como motoboy queria saber se era verdade que os motoqueiros passariam a pagar pedágio nas estradas em caso de vitória do tucano. "Não, o contrato de concessão não permite", respondeu o presidenciável.
Feliz com a resposta, Dias prometeu seu voto a Alckmin, que não deu o assunto por encerrado: "Eu também sou motoqueiro", disse. "Minha carteira de motorista é AB." (Colaborou Vanessa Adachi)