Título: PSDB é um "pólo de poder", diz FHC
Autor: Facchini, Claudia e Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A4

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso irritou-se ontem ao ser perguntado se o PSDB sairia dividido das eleições e se Geraldo Alckmin poderia vir a presidir o partido após ser derrotado. "Isso é uma conversa que vocês inventaram", respondeu aos jornalistas quando chegou para votar no Colégio Sion, na capital paulista. "O presidente do PSDB é o Tasso Jereissati, não tem discussão. O Tasso tem mais um ano de mandato."

Em quatro ocasiões, pelo menos, FHC referiu-se ao PSDB como um "pólo de poder", enfatizando a conquista de governos em Estados importantes, como São Paulo e Minas Gerais.

Ao dizer isso, o ex-presidente tenta mostrar a imagem - quem sabe para a construção de futuras alianças - de que o partido continua poderoso mesmo derrotado. Um dos maiores desafios de FHC, porém, será manter a coesão do PSDB e evitar o distanciamento entre José Serra, eleito para o governo de São Paulo, e Aécio Neves, governador eleito de Minas Gerais.

"O partido está enraizado e teremos bons candidatos no futuro. Temos de nos comportar como pessoas responsáveis porque temos possibilidades, somos um pólo de poder", disse FHC.

Embora tenha se posicionado contra um processo impeachment, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuou sendo um dos alvos preferenciais de FHC, que usou de ironia ao responder às criticas do seu sucessor aos seus mandatos. "Eu tenho um bonequinho do Lula que um artista plástico fez. Toda vez que ele me critica, eu vou lá e passo a mão na cabeça do bonequinho. E digo (para ele): não é assim, isso é bobagem", alfinetou FHC. "O Lula perdeu duas vezes de mim no primeiro turno. Então, ele ficou com essa mágoa."

Em seguida, ele também foi incisivo ao se posicionar contra a impugnação de Lula e ao defender o processo democrático. "Democracia implica várias coisas e convencer o eleitorado é uma delas. Se não convencemos, o erro é nosso", afirmou.

Com essas declarações, FHC deu mostras de que o PSDB não fará terrorismo político, mas não deixará de fazer oposição. "Governabilidade não depende de quem perde, mas de quem ganha. Depende do presidente Lula. O papel da oposição numa democracia não é dar governabilidade, mas sim criticar", disse FHC, que insistiu em dizer que o PSDB não faria "conchavos" e que irá cobrar a punição de crimes.

Sobre a possibilidade de um pedido de impeachment, o ex-presidente afirmou que não via clima para isso. "Terceiro turno não existe. É coisa de golpista. Eu, que defendi o fim do governo militar lá trás, não vou defender o golpe hoje", disse FHC, que também acompanhou o voto de Alckmin, ao lado Serra.

Diferentemente de FHC, Serra evitou declarações polêmicas ontem depois de votar, no Colégio Santa Cruz, Zona Oeste de São Paulo. Limitou-se a tentar demonstrar confiança numa vitória tucana, mas sem grande entusiasmo ou confiança. Serra foi acompanhado por Alckmin, que aguardou timidamente próximo à porta da sala de votação, acenando de vez em quando para os fotógrafos.

"Meu voto no Alckmin, meu voto pelo Brasil", declarou Serra segurando o comprovante da votação e pousando ao lado do candidato. Apesar da intenção de demonstrar unidade no partido com o gesto simbólico de se acompanharem mutuamente para votar, Serra e Alckmin não pareciam muito à vontade com a situação. No fim, enquanto o presidenciável caminhou lentamente pelo colégio, cumprimentando os eleitores, Serra se adiantou em direção à saída e começou a conversar com os jornalistas sozinho.

Usou frases feitas como "eleição decide-se na urna" e "hoje não é dia de pensar em pesquisa". Quando perguntaram a ele se de fato acreditava em uma virada, com vitória de Alckmin, disse nunca ter visto um entusiasmo tão grande dos eleitores em torno de um candidato quanto o que presenciou ao acompanhar o presidenciável tucano durante a votação, ontem.

Sobre os conflitos enfrentados com a Bolívia, que nacionalizou ativos da Petrobras, FHC criticou Lula por ter deixado que a situação chegasse a esse ponto. Segundo ele, a Bolívia "tomou uma parte do Brasil, que é a Petrobras".