Título: Aécio quer ser a ponte entre o governo e a oposição
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca fez segredo de que, num segundo mandato, pretendia contar com o mineiro Aécio Neves (PSDB) para ajudar nas negociações entre governo e oposição. Ontem, o governador reeleito de Minas deixou claro que está disposto a desempenhar a função e ser ponte entre os dois lados.

"Há o tempo da eleição e há o tempo da construção", comentou ele ontem à tarde, minutos antes de votar na capital mineira. "Meu papel é ajudar que o país avance independente de quem esteja no Palácio do Planalto, Não serei empecilho."

Segundo o governador tucano o fato de estar na oposição não impedirá que converse com o governo a respeito da construção de uma agenda. "Meus olhos não ficarão voltados para trás. A partir de amanhã (hoje), os meus olhos vão estar voltados para o futuro do país."

Para Aécio Neves, qualquer dos candidatos que saísse vitorioso da eleição de ontem teria pela frente o desafio enorme de fazer com que o Brasil retome o crescimento e a geração de empregos. "Não podemos mais aceitar de forma passiva e até comemorar, como alguns estão fazendo, esse crescimento medíocre da economia enquanto o mundo avança numa velocidade imensa."

Mais uma vez, o governador de Minas falou dos seus planos para liderar os outros governadores eleitos numa discussão, antes mesmo da posse, sobre propostas de consenso relacionadas à reforma tributária. A idéia de Aécio é de que os governadores tenham uma proposta pronta já na abertura da próxima legislatura. De acordo com ele, cabe aos Estados tomar a frente nas negociações relativas a assuntos como Lei Kandir, garantindo o ressarcimento do ICMS aos Estados exportadores. "Nos próximos dias vou trabalhar nisso."

Aécio Neves elogiou ontem o candidato derrotado à presidência, Geraldo Alckmin e destacou seu crescimento político durante a campanha. Segundo ele, o ex-governador de São Paulo passa agora a ter um papel muito grande dentro do PSDB. E será preciso, argumentou, que o partido garanta a Alckmin este espaço. No cenário nacional, enfatizou Aécio, o candidato derrotado passará a ser sempre um contraponto a ser ouvido.

Citando Guimarães Rosa, o governador de Minas voltou a dizer que, na vida, mais importante que a largada ou a chegada, é a caminhada. E completou: "A caminhada de Geraldo Alckmin foi marcada pela ética." Aécio faz questão de lembrar que ele e o paulista desenvolveram, durante a campanha, laços de afetividade.

A aproximação de Aécio e Alckmin - a despeito das acusações de tucanos sobre sua falta de empenho para a eleição nacional - é dos saldos positivos que o mineiro contabiliza nessa campanha. Fontes ligadas ao governador contam com este trunfo a favor do neto de Tancredo Neves numa eventual disputa dentro do PSDB pela vaga de candidato à Presidência nas eleições de 2010.

Embora não assuma publicamente a intenção de entrar na disputa, Aécio Neves já trabalha em ritmo de campanha. E pretende fazer da administração em Minas sua maior vitrine na corrida presidencial. Ontem, no colégio Estadual Central, onde vota na zona nobre de Belo Horizonte, o governador foi aclamado por eleitores como o futuro presidente do Brasil. Aécio chegou acompanhado da filha Gabriela e da ex-mulher, Andréa Falcão, cada vez mais frequente em eventos públicos.