Título: Mercado ainda vê bolsa rumo à máxima
Autor: Zampieri , Aline Cury
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2012, Finanças, p. C2

O Ibovespa opera atualmente com "desconto" em relação a seus pares internacionais, mas o mercado insiste em projetar um patamar para o índice neste fim de ano muito próximo de sua máxima histórica. Logo após o anúncio do afrouxamento monetário dos EUA, em 13 de setembro, algumas casas de análise divulgaram relatórios em que chegaram a prever o Ibovespa - principal índice da bolsa brasileira - se aproximando dos 70 mil pontos, como o Bank of America Merrill Lynch (BofA).

Agora, com as projeções para outubro saindo do forno (e apesar dos riscos), os gestores continuam se dizendo otimistas com o Ibovespa. O BofA lembra que o Brasil segue atrativo, entre outros fatores, por negociar no momento com um desconto de 18% na comparação com ações globais e com perspectivas de aceleração de crescimento econômico no segundo semestre, geradas por estímulos monetários e governamentais.

No nível atual, apesar da correção dos últimos dias, o Ibovespa está a apenas 20% do topo histórico, de 73.516 pontos, atingido em 20 de maio de 2008, antes do anúncio da quebra do Lehman Brothers e logo após a elevação do Brasil para grau de investimento pela Standard and Poor"s.

Analistas lembram que os investidores da bolsa sempre olham para a frente. O nível forte projetado para o índice, então, é uma antecipação de que dias melhores virão. "O mercado está operando na esperança de que a situação vai melhorar", diz Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor do Modal Asset Management. Além disso, a liquidez que está sendo injetada nos mercados via afrouxamento monetário provoca alta dos ativos de risco.

Segundo Portella, índices de atividade mostram recuperação econômica. O Índice dos Gerentes de Compras (PMI, na sigla inglês) para o setor de serviços dos Estados Unidos subiu de 53,7 em agosto para 55,1 em setembro e superou a previsão de analistas, que era de 53,1. O analista acrescenta que as medidas recentes dos bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos eliminam riscos extremos (os chamados "tail risks").

Catarina Pedrosa, analista da BES Securities, diz que os investidores também estão antecipando uma melhora na economia local. "O governo brasileiro vem tomando medidas para garantir pleno emprego, a economia está andando e os juros em nível baixo, apesar da inflação pressionando. O mercado reage a isso também."

Os especialistas lembram ainda que, apesar da crise, a economia brasileira cresceu nos últimos anos, o que provocou mudança de patamar das empresas que negociam em bolsa. As companhias cresceram e passaram a valer mais. Para o BofA, a expectativa ainda é de queda de 19% nos lucros de 2012, mas alta de 17% em 2013.

O professor de finanças do Insper Michael Viriato Araújo acrescenta que a própria composição do Ibovespa está mantendo o índice num nível melhor, apesar dos riscos e do mundo ainda estar mergulhado em crise. De acordo com ele, antes da quebra do Lehman Brothers, em 2008, o principal indicador da Bovespa era mais concentrado nos papéis pressionados, como Petrobras e Vale. Hoje, o índice tem maior participação de papéis de consumo, que foram beneficiados nos últimos anos.

Ainda assim, o foco nas commodities continua e, se o Ibovespa estivesse mais leve em petróleo, siderurgia e mineração, o desempenho das ações brasileiras seria melhor. Araújo lembra que o IVBX-2, que exclui as dez maiores companhias do Ibovespa (a maioria de commodities), está muito mais próximo da máxima histórica. Esse está atualmente em 6.625 pontos, a apenas 6% do recorde de 7.012 pontos, batido em março de 2012. "Também tenho uma visão positiva para o Ibovespa até o final do ano, pois acredito que os mercados já responderam de maneira forte às pressões recentes", afirma.

Apesar das melhorias, Portella não concorda com todo esse otimismo e acredita que a bolsa está em seu preço justo no momento. "Ainda teremos pelo menos três, quatro anos de ajustes", comenta. "É preciso limpar os balanços dos governos da Europa e os países necessitam se ajustar aos efeitos da crise. Além disso, a China não ajuda, com seu crescimento menor."

Ainda segundo os analistas Felipe Hirai e Marina Valle, do BofA, novos riscos aparecem no horizonte, como a possibilidade do "abismo fiscal" (aumento de impostos e corte de despesas públicas) em janeiro nos Estados Unidos, que pode comprometer o crescimento da maior economia do mundo.

Na sexta, as bolsas tiveram um pregão volátil. Depois da euforia com a inesperada queda da taxa de desemprego dos EUA em setembro, de 8,1% para 7,8%, os índices perderam força à tarde. Analistas fizeram uma segunda leitura dos dados e concluíram que nem tudo era positivo no relatório de trabalho. Em Wall Street, o Dow Jones subiu 0,26%, para 13.610 pontos, o S&P-500 caiu 0,03%, para 1.460 pontos, e o Nasdaq Composite recuou 0,42%, para 3.136 pontos. Já o Ibovespa terminou em alta de 0,19%, aos 58.571 pontos. (Colaboraram Suzi Katzumata e Téo Takar)