Título: Termina a "era Palocci", afirma Genro
Autor: Moreira, Ivana e Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A8

Integrante da ala desenvolvimentista do governo, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, afirmou ontem que, com a reeleição de Lula, acabou a "era Palocci" na política econômica. "Até posso dizer que, no primeiro ano do governo, ele prestou bons serviços, mas taxas baixas de crescimento, preocupação neurótica com inflação, sem pensar em distribuição de renda e crescimento, isso terminou", disse, em Porto Alegre. Segundo Genro, a política de Palocci foi "monetarista e conservadora".

O ministro sustentou que, no segundo mandato de Lula, a visão que vai prevalecer será a do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. "As posições do conselho são vencedoras e o presidente é o fiador político e estratégico daquelas propostas", afirmou.

Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez coro a Genro ao afirmar que, a partir de agora, a política de juros não precisa ser tão rigorosa. "O primeiro mandato foi uma fase de transição. Você tinha inflação alta, vulnerabilidade externa. Então, não podia pôr o pé no acelerador", disse Mantega. "Vamos manter a estabilidade e a responsabilidade fiscal, porém, vamos crescer mais."

Sobre "o fim da era Palocci", decretado por Tarso Genro, Mantega disse que "não colocaria nesses termos". "Fizemos uma política econômica bem-sucedida, prova disso é que o Lula está sendo reeleito", ressalvou. Segundo ele, o país entrou "numa nova fase, onde vai ficar mais claro o caráter desenvolvimentista, com o crescimento da economia acima de 5% , geração de mais emprego. O desenvolvimento virá à tona."

Flexibilização das políticas monetária e fiscal será a marca do segundo mandato, segundo avaliam as principais lideranças governistas em Minas Gerais. "Para crescer com a rapidez que a população espera, será preciso uma queda mais rápida dos juros", disse o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Economista e coordenador da campanha de Lula em Minas, seu nome freqüenta a bolsa de apostas do novo ministério.

Segundo Pimentel, o controle dos gastos públicos continuará a ser perseguido, mas não de modo a prejudicar metas sociais. "Temos um compromisso com as 11 milhões de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, que estão saindo da miséria. Não vamos abrir mão disso." Para ele, o cenário atual é diferente do de 2002, o que tornará possível a flexibilização. No primeiro mandato, analisou, era "inescapável" manter o rigor fiscal e monetário para garantir a estabilidade e a governabilidade. Pimentel preferiu não comentar as especulações em torno do seu nome, mas ressaltou que as mudanças independem das pessoas e poderão ser feitas mesmo pelos atuais titulares da área econômica.

O vice-presidente, José Alencar, aposta em mudanças na política monetária. Ele afirmou que há condições para que os juros caiam mais que no primeiro mandato. O vice lembrou que só a queda dos juros reduzirá gastos do governo com a rolagem da dívida, uma medida essencial para o próprio controle fiscal.

"Avanço no desenvolvimento será a palavra-chave", comentou o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci. "As condições hoje são mais favoráveis que em 2002 para construir a governabilidade. O presidente tem muito mais governadores aliados do que em 2002."

Os ministros mineiros defenderam ainda a necessidade mudanças no PT. O congresso nacional do partido, no início de 2007, será o ponto de partida para uma profunda autocrítica, entende o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Ele afirmou que cobrará mais transparência da legenda. Patrus propõe que o partido crie um código interno de ética e passe adotar o orçamento participativo.

Sobre a possível entrada de Delfim Netto no governo, O ministro Guido Mantega disse: "Eu não teria nenhum problema em trabalhar com o deputado Delfim. Converso sempre com ele e ele tem uma visão da economia muito parecida com a minha."

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também disse que a politica econômica do segundo mandato priorizará o desenvolvimento econômico. Segundo ela, não haverá quebra dessa política, mas o momento de uma politica monetária mais apertada acabou. Agora, disse ela, as conquistas podem ser articuladas em torno de um forte compromisso com o crescimento sustentável.

O presidente interino do PT e coordenador da campanha de reeleição do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, vai na mesma linha e diz que agora é hora de marchar para um crescimento vigoroso, "para que se possa cumprir aquelas metas que o presidente Lula assumiu, sobretudo ao longo da campanha eleitoral". (Com agências noticiosas)