Título: Yeda Crusius irá pedir a renegociação da dívida do Estado
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2006, Política, p. A12

Eleita primeira governadora do Rio Grande do Sul, a deputada federal e economista Yeda Crusius (PSDB), 62 anos, disse ontem à noite que espera ver a renegociação das dívidas dos Estados com a União "avançar muito rapidamente" em 2007. Ela também pretende manter uma relação "civilizada" com o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e espera que o governo federal não discrimine o Estado em função de diferenças partidárias.

Yeda obteve 53,94% dos votos válidos (3,377 milhões), contra 46,06% de Olívio Dutra, do PT (2,884 milhões). No primeiro turno, a diferença da tucana sobre o petista havia sido de 341,7 mil votos. Os votos em branco somaram 1,96% e os nulos, 2,48%. A abstenção ficou um pouco acima de 15%. Os números registrados pelos concorrentes ao governo foram semelhantes ao desempenho, no Estado, dos candidatos dos dois partidos à Presidência. Geraldo Alckmin (PSDB) obteve mais de 55% dos votos válidos dos gaúchos e Lula, mais de 44%.

Segundo a governadora eleita, a dívida não é um problema apenas do Rio Grande do Sul e por isso os Estados "responsáveis fiscalmente" irão se unir para renegociar os débitos "caso a caso". "Esta é uma pauta nacional", afirmou, citando o exemplo do Mato Grosso do Sul. Ela fez ainda um apelo para que os três senadores gaúchos colaborem com a renegociação e imprimam "urgência" ao caso.

O Rio Grande do Sul acumula uma dívida consolidada líquida de mais de R$ 32 bilhões, o equivalente a 253,66% da receita corrente líquida (ante o limite de 248,49% fixado para este ano pela Lei de Responsabilidade Fiscal). Em 2006 as amortizações e juros irão consumir cerca de R$ 1,75 bilhão e para 2007 a estimativa é que os pagamentos cheguem a R$ 1,9 bilhão, mas o atual governo já previu, no Orçamento para o próximo exercício, uma redução de quase R$ 400 milhões por conta da renegociação.

Yeda reafirmou que dará prioridade ao saneamento da crise das finanças públicas do Estado e que para isto espera a ajuda dos poderes Legislativo e Judiciário. "Vamos adotar o realismo orçamentário para zerar o déficit o mais rapidamente possível". O atual governo prevê para 2006 um déficit orçamentário consolidado da administração direta, autarquias e fundações na faixa de R$ 900 milhões.

Conforme a governadora, o equilíbrio das contas é necessário para aumentar a capacidade de investimentos públicos em saúde, educação e segurança. Um dos primeiros projetos que ela pretende enviar à Assembléia Legislativa terá como finalidade "normatizar" e "escalonar" o pagamento dos precatórios devidos pelo Estado, que já somam R$ 2,8 bilhões.

Logo depois da confirmação da vitória da candidata tucana, ela

recebeu um telefonema do governador Germano Rigotto (PMDB), com quem deve se reunir hoje para iniciar as negociações para o processo de transição. Rigotto garantiu que todas as informações solicitadas pelo novo governo serão

liberadas pela equipe atual. "Se

depender de nós, teremos um

período de transição civilizado e maduro, com a exposição de todos os dados", afirmou ele, que permaneceu neutro durante o segundo turno, apesar de o PMDB ter aberto o apoio à candidata do PSDB.

O secretariado de Yeda, porém, somente será anunciado em dezembro. "Este é um tema complexo e não adianta ter pressa", comentou. A governadora eleita concorreu coligada com o PFL e mais dez pequenos partidos e, no segundo turno, recebeu o apoio do PP, PMDB e PTB, mas afirmou que o critério para a escolha dos nomes será a "competência técnica". Ela adiantou que montará um "gabinete de gestão" para coordenar os programas implementados pelo futuro governo.

Olívio reconheceu a vitória da tucana durante uma entrevista na sede estadual do PT por volta das 19h30, depois de acompanhar a apuração em casa. Conforme o ex-governador, apesar da derrota o partido saiu "reforçado" e "revigorado" da eleição no Rio Grande do Sul. Antes, nas entrevistas que concedeu durante o dia, Olívio defendeu que o Rio Grande do Sul entrasse em "sintonia" com o Brasil, numa alusão ao favoritismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela reeleição.

Assim como a candidata vencedora, o petista também havia reafirmado que pretendia renegociar a dívida do Estado com a União.

A intenção dele era alongar o prazo de pagamento originalmente estabelecido em 30 anos a partir de 1998 e economizar R$ 600 milhões por ano, que seriam alocados em investimentos públicos.

O vice-governador eleito na chapa de Yeda, o empresário Paulo Afonso Feijó (PFL), disse que o objetivo do novo governo é tornar o Rio Grande do Sul "mais competitivo" para atrair investimentos privados. Criticado pelos petistas durante a campanha por ter proposto há alguns anos a federalização do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), ele voltou a desmentir que defenderá sua privatização e disse que utilizará instrumentos de gestão empregados na iniciativa privada para melhorar as eficiência das empresas públicas.