Título: Presidente tenta evitar rachas na base de sustentação
Autor: Taquari, Fernando; Peres, Bruno
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2012, Política, p. A5

Com o fim do primeiro turno das eleições, a presidente Dilma Rousseff desencadeou ontem uma operação política para reforçar a aliança entre PT e PMDB, evitar rupturas em sua base de sustentação no Congresso e ajudar o PT e siglas aliadas a conquistar cidades estratégicas para a campanha à reeleição em 2014. Dilma indicou que pretende apoiar candidaturas de aliados, apesar de manter a disposição de ter uma presença parcimoniosa nos palanques no segundo turno das eleições municipais.

Logo pela manhã, Dilma debateu o cenário eleitoral com seus ministros da área política. Também reuniu-se com o vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB. Ambos destacaram o desempenho positivo de seus partidos, concluindo que juntas as duas siglas conseguirão mobilizar cerca de 1.800 prefeitos e aproximadamente 13 mil vereadores. Nas entrelinhas, Dilma e Temer sinalizaram que estão unidos para enfrentar uma eventual investida do PSB contra o projeto de reeleição. Por outro lado, Dilma decidiu fazer um aceno ao PSB, mantendo-se afastada do segundo turno em Fortaleza. Lá, o petista Elmano de Freitas enfrentará Roberto Claudio (PSB), candidato do governador cearense, Cid Gomes.

"A nossa aliança com o PMDB sai muito reforçada", destacou o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para quem o bom desempenho do PSB deve ser comemorado e o PSD saiu das eleições municipais como uma força política nacionalizada. Para Carvalho, alguns ajustes devem ser feitos nas relações entre os partidos aliados, mas nenhum pode dizer que Dilma "tenha ferido" a base com sua participação na campanha municipal. "A presidente tende a manter muita cautela nessas questões. Estamos analisando quadro a quadro."

De acordo com autoridades do governo, Dilma e Temer não trataram da troca do apoio do PMDB ao PT em municípios estratégicos, como São Paulo e Brasília, por cargos. Nas últimas semanas, rumores indicaram que o candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, poderia ser nomeado ministro da Educação. O boato foi rechaçado no Palácio do Planalto. Chalita ficou em quarto lugar no pleito.

No encontro entre Dilma e Temer, ficou acertado que o vice-presidente conversaria com o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o provável apoio do PMDB paulistano à candidatura de Fernando Haddad (PT) em São Paulo. A cúpula do Planalto também espera que Temer consiga reduzir as resistências do PMDB baiano à candidatura do petista Nelson Pelegrino, que enfrentará Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) no segundo turno em Salvador.

A princípio, essas são as duas praças que contarão com a presença da presidente na campanha nesta segunda etapa das eleições. Dilma sinalizou a Temer que pretende reforçar a campanha de candidatos de partidos aliados, mas não detalhou seu plano. A presidente, afirmam auxiliares, não quer ter a missão de garantir a eleição de aliados como Lula fazia quando governava o país. Sua ida a palanques dependerá do desempenho das candidaturas da base de sustentação do governo.

No domingo, fontes oficiais davam como certo que Dilma iria também a Manaus ajudar Vanessa Grazziotin (PCdoB), que disputa a prefeitura com o tucano Artur Virgílio Neto. Ontem, porém, a avaliação era a de que sua participação poderia se resumir à gravação de mensagens de apoio. Vanessa Grazziotin foi para o segundo turno com quase a metade dos votos de seu adversário, ex-líder da oposição durante o governo Lula. "É evidente que em todo lugar em que no outro lado não há base aliada, ela [Dilma] estará mais livre [no segundo turno], mas não quero avançar o sinal e tomar uma decisão por ela", disse Carvalho.

De acordo com auxiliares de Dilma, Lula também ficará a cargo de obter o apoio do PRB à candidatura de Haddad, partido do terceiro colocado na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno. Nos próximos dias, emissários do PT e do Palácio do Planalto também devem entrar em contato com dirigentes do PSB. Atualmente, a sigla presidida pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, concentra suas negociações com PDT e PCdoB.

Gilberto Carvalho também criticou a influência do julgamento do processo do mensalão nas eleições. Mas afirmou que o desempenho do PT foi positivo e o partido passou por esse "obstáculo", apesar de ter permanecido sob uma "saraivada" durante a campanha. "Que houve um grau de interferência é evidente", disse o ministro. "É evidente que em São Paulo isso teve seu peso, mas é difícil quantificar", acrescentou, ponderando que não falaria de "armas de adversários" utilizadas durante a campanha eleitoral.

O ministro também rebateu as avaliações segundo as quais o ex-presidente Lula sairia enfraquecido do pleito municipal. "Aqueles que apressadamente tentaram cantar a pedra de uma eventual falência ou decadência do presidente Lula devem estar com a pulga atrás da orelha, porque não é bem assim", disse.