Título: Para apoiar Haddad, PMDB quer se manter como principal aliado de Dilma
Autor: Taquari, Fernando; Peres, Bruno
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2012, Política, p. A5

O vice-presidente da República, Michel Temer, desembarca hoje na cidade de São Paulo para selar o apoio do PMDB à candidatura de Fernando Haddad (PT) à prefeitura da capital paulista. A união entre petistas e pemedebistas na esfera federal deve pesar na decisão do partido, que mira as eleições presidenciais de 2014, quando Dilma Rousseff tende a concorrer à reeleição. Assim, o PMDB espera manter o posto de principal aliado do governo federal.

Em troca do apoio, o PT terá que abrir negociações em outros Estados onde ocorrerá segundo turno. Temer, segundo um integrante da direção paulista do PMDB, teria recebido ligações no domingo de lideranças nacionais do partido, pedindo que não anunciasse um acordo em São Paulo sem antes negociar em outras capitais. Os telefones teriam partido do presidente do Senado, José Sarney (AP), e do líder pemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Em Natal, por exemplo, Hermano Morais (PMDB) disputará o segundo turno contra o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT), que embora seja primo do deputado federal, não conta com seu apoio. O apoio de Fernando Mineiro (PT), que terminou a eleição municipal em terceiro lugar, com 22,63% dos votos, será determinante para as pretensões do PMDB de voltar à prefeitura local, cargo que não ocupa desde os anos 80.

As conversas na capital paulista, que estão sob o comando de Temer, ainda podem envolver a participação da legenda em um eventual governo petista. Já a nomeação de Gabriel Chalita (PMDB) para uma vaga no Ministério da Educação, como chegou a ser cogitado durante a campanha, não deve ser levada adiante. A ideia é evitar repercussões negativas, como a indicação de Marta Suplicy ao Ministério da Cultura, explorada pelo PSDB na campanha eleitoral.

Em público, o partido adota cautela e diz que ainda não há definição sobre o assunto. O presidente estadual do PMDB, deputado Baleia Rossi, reconhece a tendência de apoio a Haddad. Segundo ele, a questão nacional influencia mais na decisão do que a rixa entre Chalita e José Serra (PSDB). "A presença como vice-presidente tem um peso. Não dá para negar isso. Agora, o partido precisa ser ouvido", afirma.

Rossi diz que há duas frentes em discussão no momento, sendo uma ampla pelo apoio ao petista e outra pela neutralidade. "Temer não quer impor uma decisão. Quer buscar a unidade. Por isso viaja até São Paulo para construir uma posição conjunta", diz. Embora tenha dito ontem que o apoio a Haddad "não é natural", o próprio vice-presidente sinalizou que a aliança nacional entre PT e PMDB deve balizar a escolha da sigla na medida em que o resultado das urnas fortalece os dois partido para 2014.

"Fizemos uma análise geral das eleições e concluímos o que é óbvio, que os dois maiores partidos são PMDB e PT. Isso vai ser muito bom para 2014 e vamos tentar, onde há segundo turno e onde houver a possibilidade de coligação entre PT e PMDB", disse. A aliança com o PSDB, por outro lado, está praticamente descartada. Os pemedebistas ficaram insatisfeitos com falta de espaço no governo de Geraldo Alckmin (PSDB). "Apoiamos o tucano na eleição e depois ficamos na rua da amargura", diz o deputado estadual Jooji Hato.

A declaração de apoio, no entanto, não significa a transferência imediata de votos. Pesquisa do Datafolha mostrou que Chalita cresceu na reta final da campanha entre eleitores insatisfeitos com Celso Russomanno (PRB) e simpatizantes do PSDB.

O candidato pemedebista teve melhor desempenho na eleição deste ano na Casa Verde (17,43%), zona norte, e na Vila Matilde (17,12%), zona leste. As duas zonas eleitorais não são tradicionais redutos eleitorais do PT. Em 2008, aliás, ajudaram a reeleger o prefeito Gilberto Kassab (PSD). Na ocasião, Marta Suplicy (PT) teve 23,16% dos votos na Casa Verde, atrás de Geraldo Alckmin (PSDB), com 26,99%, e Kassab, com 36,44%. Na Vila Matilde, o prefeito conseguiu um resultado mais expressivo, com 41,62%. A petista ficou em segundo lugar, com 23,40% dos votos, seguida de perto pelo tucano, com 22,56%.